Ítalo do Couto Mantovani*
Estudo realizado pelo Instituto Sou da Paz
revela que houve uma consolidação da participação de agentes das forças de
segurança na política. Foram eleitos 856 candidatos oriundos das forças de
segurança, o maior número absoluto na comparação com os últimos pleitos.
A participação de candidatura de agentes
ligados a forças de segurança mantém o padrão nas eleições municipais de 2024 e
mostra a consolidação desse fenômeno, revela pesquisa. Nestas eleições, 6.918
agentes concorrem a cargos de vereador, vice-prefeitos e prefeitos, em números
absolutos, houve uma diminuição de candidaturas em relação ao ano de 2020,
quando 8.296 candidatos eram ligados às forças de segurança. Ou seja, os
agentes que representavam 1,49% do total de 557.678 candidatos aos cargos
municipais em 2020, no pleito de 2024, eles representam também 1,49% dos
463.388 concorrentes ao cargo.
Percebe-se que
embora o número absoluto de candidatos tenha sido menor, o número de eleitos
foi maior do que o das últimas eleições: 856 membros das forças de segurança
foram eleitos, sendo 759 como vereadores, 52 prefeitos e 45 vice-prefeitos. O
Instituto Sou da Paz identifica que a participação de membros das forças de
segurança, como policiais e militares das Forças Armadas, nas eleições
brasileiras faz parte daquilo que classificou como policialismo, fenômeno que
caracteriza diferentes situações em que há uma excessiva politização das forças
de segurança. Entre 2010 e 2018, cresceu 950% o número de deputados(as)
oriundos das forças de segurança eleitos(as), eles(as) passaram de quatro nas
eleições de 2010 para 42 no pleito de 2018. Esse fenômeno também foi observado
nas eleições municipais.
O Rio de Janeiro segue sendo o estado com
mais candidaturas de agentes das forças de segurança, são 3,48% de candidatos
ligados a esse grupo em 2024. Este cenário vai além da milicianização do
estado, está ligado à influência política das corporações de segurança ao longo
da história do Rio de Janeiro.
Na lista dos 10 estados com mais
candidaturas de militares, seguem atrás do Rio de Janeiro, Amapá (2,57%),
Roraima (2,16%), Acre (2,08%), Espírito Santo (2%), Mato Grosso do Sul (1,95%),
Pernambuco (1,87%), Rondônia (1,85%), Alagoas (1,75%) e Amazonas (1,7%). São
Paulo encontra-se na decima segunda posição com 1,65% de participação de membros das forças de
segurança. Neste entendimento, o Instituto Sou da Paz afirma que As
capitais Rio de Janeiro (RJ) e Maceió (AL) são os únicos grandes centros
urbanos entre as 10 cidades com o maior número percentual de candidaturas de
agentes das forças de segurança. No geral, são as cidades com populações entre
5 mil e 50 mil habitantes que dominam os percentuais relativos de participação
de candidatos militares.
O perfil das candidaturas segue sendo a
grande maioria de homens, mas as candidaturas de mulheres pertencentes às
forças de segurança passaram de 6%, em 2020, para 8%, em 2024, um ligeiro
aumento entre os pleitos. A maioria dos candidatos segue sendo negros
(44,82% de pardos e 11,27% de pretos), A distribuição racial manteve-se
semelhante aos patamares observados nas eleições de 2020. Outro número que se
manteve similar foi a mediana dos valores das declarações patrimoniais,
variando entre R$ 100 mil e R$ 500 mil.
Em 2024, destaca-se o crescimento de 10%
da presença de candidatos ligados a forças de segurança no PL e um aumento de
3% no Novo. Por outro lado, houve uma redução na participação do União Brasil,
que anteriormente concentrava 14,54% dessas candidaturas, mas agora totaliza
8,62%.
Por fim, o Instituto destaca que Entre os
candidatos das forças de segurança eleitos no primeiro turno, 95,1% são homens,
54,2% se declararam brancos, 74,33% são casados, 61,22% possuem ensino superior
completo e a idade média é de 49 anos. Policiais militares representam 40,1%
dos eleitos (19% usaram a ocupação no nome de urna), enquanto 17,05% são
policiais civis (4,39% usaram a ocupação no nome de urna). O Partido Liberal
lidera com 19,63% dos eleitos, seguido por Progressistas (11,57%), Republicanos
(11,22%), MDB (10,4%), PSD (9,46%), União Brasil (8,06%) e Podemos (5,02%).
Em suma, evidencia tanto a importância
estratégica das forças de segurança nas grandes cidades quanto às necessidades
específicas de segurança nos pequenos municípios.
* Diretor da Divisão
de Estudos e Monitoramento da Coordenadoria da Atividade
Delegada –
Secretaria de Governo Municipal da Cidade de São Paulo
Formado em Gestão de
Políticas Públicas pela USP
Mestre em Gestão e
Desenvolvimento Regional
Graduando e História
pela USP
Professor de
Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato:
italocmantovani@gmail.com