quarta-feira, 22 de abril de 2020

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM DESAFIO PARA TODOS E TODAS



Ítalo Mantovani*

A violência está presente no cotidiano das mulheres brasileiras. Desde o assédio moral e sexual até o feminicídio, diferentes dimensões da violência marcam a experiência da vida de mulheres de todas as idades no País. O problema é tão grave, que recentes conquistas legais, como a Lei do Feminicídio, de 2015, reconhecem a especificidade desta violência.
Produzir informação, pesquisas e análises que mensurem as características da violência de gênero devem ser iniciativas prioritárias para reduzir esses índices. O acolhimento da vítima, o acesso à justiça, a punição do agressor, estratégias de prevenção que trabalhem a origem de todas essas diferentes manifestações de violência são alguns dos aspectos destacados nas publicações aqui presentes.
Um estudo feito pelo Instituto Sou da Paz mostra um crescimento de 40% nos casos de feminicídios cometidos dentro de casa entre 2018 e 2019. Em comparação com o total de vítimas fatais, 70% delas foram assassinadas dentro de seus lares.  Em 2019, 180 mulheres foram vítimas deste crime no estado de São Paulo, número recorde e que foi 30% maior do que em 2018, quando este crime vitimou 137 mulheres no estado.
            De acordo com o Instituto Sou da Paz “Em tempos de isolamento social, números acendem mais um alerta sobre a necessidade de fortalecer políticas de proteção a mulheres vítimas de violência”.
O estudo revela que em 80% dos casos a vítima conhecia o autor do feminicídio e que este crime tem sido observado em todas as faixas etárias. Em 2019, observa-se um aumento inclusive nas faixas etárias mais velhas, com mais vítimas de mais de 55 anos. A faixa etária onde ocorrem mais feminicídios é a entre 25 e 29 anos.
            Pelo portal da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) apresentou em 2018 18 ocorrências de feminicídios em 39 municípios da nossa Região. Em 2019 as ocorrências passam para 9 ocorrências, ou seja, o inverso que aconteceu no Estado. A RMVPLN diminuiu em 50% as ocorrências de feminicídios de um ano para o outro. Pindamonhangaba teve registrado em suas delegacias uma ocorrência em 2018 e nenhuma no ano de 2019.
As violências reveladas pela pesquisa constituem importante ferramenta para tornar visíveis cenários até então ocultos em virtude da redução da complexidade e inauguram um novo padrão estatístico a ser adotado pelos órgãos de segurança pública no planejamento de políticas de prevenção e enfrentamento à violência em diferenciadas perspectivas. O novo código convida as Instituições a produzirem irrupções nas atuais metodologias investigatórias, e demais protocolos de atuação das Delegacias da Mulher, além de instigar a produção de estatísticas criminais pautadas em padrões de violência e não mais apenas em “achismos”. É importante destacar ainda que a violência de gênero não se dá somente por conta da violência doméstica e familiar, geralmente perpetrada no lar, onde as mulheres são as maiores vítimas. Ela está presente em todos os espaços da nossa sociedade, com o agravante de que homens e mulheres reproduzem esses discursos e práticas, inseridos pela cultura nos diversos espaços por onde transitam.
Políticas Públicas de proteção à mulher estão sendo feitas a nível Estadual, mas em nosso município, Pindamonhangaba, não há nada do mesmo estilo. Pelo artigo 144º da Constituição Federal é de responsabilidade do Estado cuidar da Segurança Pública, mas exigir medidas de responsabilidade dentro do município é um dever de todos. Nosso município tem uma Secretaria da Segurança Pública, com um orçamento anual, previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 na casa dos 25 milhões de reais, um aumento de 13% em relação a 2018. Dinheiro público é de todos e fazer política pública de prevenção de crimes contra mulheres é um direito da população e um dever dos atores políticos de Pinda. O Brasil conquistou leis proclamadas dentre as melhores do mundo para a defesa das mulheres, mas ao mesmo tempo permanece recordista em índices de violência. Apesar dos esforços e da maior conscientização da sociedade, a violência se mantém estável e crônica. Uma saída para esses crimes é de ampliar as campanhas preventivas que orientem essas mulheres a denunciar seus agressores, pois Para se prevenir a violência é necessário haver conscientização e a conscientização está diretamente relacionada à informação. Embora a violência aconteça em todas as classes sociais, quanto mais educação formal, menos violência.


v      Assessor de Gabinete na Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP
Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional
Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com


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