O parto humanizado, o plano de parto, o direito a
informação, a humanização e capacitação de profissionais, as conquistas e os
direitos das mulheres foram os temas discutidos com parlamentares, Secretaria
de Saúde, Defensoria Pública e profissionais da Saúde convidados
A Câmara de Pindamonhangaba realizou no último dia 22 de
agosto de 2019, uma Audiência Pública para discutir sobre o parto normal e a
humanização da assistência, de grande relevância no âmbito da saúde em
Pindamonhangaba.
A audiência foi proposta pelo vereador Roderley Miotto
(PSDB), presidente da Comissão de Saúde e Assistência Social, subscrito pela
vereadora Gislene Cardoso – Gi (DEM). A Mesa dos trabalhos foi presidida pelos
autores da proposta e a presença da doula Milena Fondello, a enfermeira
obstetra Gisely Rezende, a médica obstetra Dra. Rosana Fontes, a Secretária
Adjunta de Saúde Mariana Prado Freire e o representante da Santa Casa Fábio
Lemes.
A audiência teve intuito de continuar a roda de conversa
realizada em julho, na praça Monsenhor Marcondes, com a finalidade de
conscientizar a população e as autoridades da área da Saúde de Pindamonhangaba
a respeito da lei estadual e o direito da mulher na questão da humanização do
parto normal.
Para a vereadora Gislene Cardoso – Gi, esta é uma
preocupação constante e, principalmente pelo fato da discussão do projeto que
foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo e que esta conscientização
deve ser o assunto em pauta em nível nacional.
O Projeto de Lei aprovado no Congresso Nacional, que garante
à gestante a possibilidade de optar pelo parto cesariano, a partir da trigésima
nona semana de gestação, bem como a analgesia, mesmo quando escolhido o parto
normal. O projeto recebeu aprovação na Assembleia Legislativa de São Paulo
depois de muitos debates.
A doula Milena Fondello, grande defensora do parto
humanizado em Pindamonhangaba destacou que o Brasil é o campeão de cesáreas e
que o SUS detêm a maior quantidade, 70%. Segundo ela, as pessoas precisam
entender o que é o parto humanizado, em razão do bem-estar da mulher e do bebê.
Ela se destaca em três pilares: o protagonismo da mulher, onde ela perdeu a
propriedade do seu corpo, sempre dependendo de alguém para lhe ditar o que é
bom. A mulher não pode perder o seu protagonismo. Ao agendar uma cesárea, ela
deve saber que aumentam também os riscos, seja por infecções e até mesmo a
imaturidade do seu bebê. Outro pilar é a equipe multidisciplinar, onde ela é
“assistida” por profissionais que vão lhe auxiliar a realizar o parto, como
enfermeiros ou médicos obstetras. E um terceiro pilar que é a Medicina baseada
em evidências, resultantes de resultados científicos, após muitos estudos com
um grande número de mulheres.
Milena disse ainda que a Doula não tem uma função técnica,
ela está ali, naquele momento, para assistir a mulher como ser humano, ela não
faz parto, quem o faz é o obstetra. Ela vê os aspectos emocionais com massagens
e sugestões de posições sem intervir.
Tem que se tirar o tabu que envolve o parto humanizado, pois
ele é mais respeitoso e mais adequado para a saúde da mulher e do bebê. Não se
tem que insistir na cesariana como um meio seguro. É preciso trazer mais informações
sobre o parto normal que é mais seguro e importante para o bebê e para as
mulheres.
Para a enfermeira obstetra Gisely Rezende, a luta não é
forçar o parto normal e sim contra as intervenções desnecessárias. O parto
ideal não é o normal, não é a cesárea. O ideal é o parto respeitoso, aquele que
respeita a fisiologia, a parte psíquica e emocional da mulher. De acordo com
ela, os profissionais obstetras estudam para diagnosticar as alterações,
enxergar onde não pode acontecer normalmente, onde não pode seguir com o parto
normal e assim identificando qualquer problema, tanto de origem materna quanto
fetal, que dificulte ou impeça o parto, o obstetra pode intervir. O enfermeiro
obstetra cuida da parte fisiológica do nascimento, é responsável tecnicamente,
representa segurança. Ele acompanha o trabalho de parto e no caso de algum
problema, solicita a presença de um médico. Ele permite que a mulher seja
protagonista desse momento que é dela. A sua presença é para dar segurança a
gestante e ao nascimento. Para Gisely, o que se deve ter é a capacitação de
profissionais para assistir, no sentido de prestar assistência de qualidade,
com base em evidência científica para realizar um pato humanizado e ainda
orientar mulheres com qualidade, além de um bom pré-natal conduzido.
A Dra. Rosana Fontes, Ginecologista e Obstetra, formada há
21 anos disse que há 6 anos ela constatou que se ensina a medicina errada, a
obstetrícia errada. Não errada da forma técnica, mas errada da parte humana.
Esse é o grande diferencial que constatou durante o acompanhamento e
atendimento do parto normal que presta no sistema privado e sua atuação no
sistema público. Ela acredita que a maioria dos profissionais de saúde tem que
entender que não é a lei do bisturi que impera, que o médico acha que pode
mudar o mundo e dizer o que o paciente tem que fazer. Isso é difícil de mudar,
no parto não é diferente, por isso que o empoderamento feminino é tão difícil
hoje, porque o poder do médico ainda é grande, tanto imposto pela sociedade
como imposto pelo profissional. É isso que tem dificultado o médico de aceitar
outros profissionais de saúde na hora do parto, como enfermeiras obstétricas,
obstetrizes e doulas, com a sensação de que ele vai perder o poder de decisão
do parto e o empoderamento feminino em si também. No momento em que se aprova
que a cesárea é a opção da mulher, é importante discutir como será cumprido a
determinação da Organização Mundial de Saúde de 19% de cesáreas, sendo que a
nossa sociedade tem entendido o parto normal como uma agressão, uma violência e
uma imposição. Desta forma, aí entra a educação da população para entender que
a opção é delas, mas que o parto normal tem muito mais vantagens, e se não
mostrarmos isso, não teremos condições de manter o que a Organização Mundial de
Saúde pede. Essa lei vem contra o que precisamos indicar, recomendar. A cesárea
não é uma medida de saúde pública adequada. As pessoas não sabem o que estão
pedindo, elas não tem o devido conhecimento para entender o que uma cesárea
traz para sua própria saúde e a dos seus filhos. A educação é uma coisa que
precisamos investir mais, tanto durante a gestação que são durante nove meses,
como nas escolas, durante a educação fundamental.
Com relação à Santa Casa de Pindamonhangaba, o representante
Fábio Lemes disse que essa nova administração traz um pensamento mais moderno,
mais atual, no sentido de melhoria na assistência. O que está sendo discutido é
preocupante e alarmante, realmente no dia a dia pode acontecer este tipo de
atendimento, de violência obstétrica dentro do nosso hospital, mas estamos num
processo de mudanças e num futuro próximo as pessoas vão usufruir de um serviço
de melhor qualidade. Gostei dos conceitos que foram postos, essa distinção de
que o parto humanizado, não é o parto normal, é também o parto cesariano, mas
de forma humanizada, que é aquele conjunto de processos que geram satisfação de
ambos os lados, porque a humanização tem que estar também no profissional, ele
tem que se sentir satisfeito, tem que demonstrar eficiência no procedimento
dele.
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