Ítalo do Couto Mantovani*
Uma discussão acerca das férias na dinâmica de vida dos
habitantes da cidade pressupõe um questionamento sobre os lugares escolhidos e,
sobretudo, sobre as possibilidades de usufruir desse tempo, associado ao
repouso, à regeneração ou ao divertimento. De imediato, a escolha desses
ambientes perpassa por aquilo que sempre vem em nossas cabeças, à segurança
pública, que está associada diretamente ao momento de relaxamento, divertimento
e de prazer.
A curiosidade que a Secretaria da Segurança Pública desperta em
todos os paulistas é por que o litoral do estado tem as cidades mais violentas
de São Paulo? Uma vez que estas cidades lideram a lista de localidades mais
violentas do Estado, segundo indicador que reúne registros de roubos, estupros e
homicídios. Peruíbe, Caraguatatuba, Mongaguá e
Ubatuba estão
entre os cinco municípios com os maiores índices de crimes praticados com
violência, tendência que tem se repetido nos últimos anos na região. O dado é do Índice
de Exposição aos Crimes Violentos (IECV), elaborado
pelo Instituto Sou da Paz, o indicador vale para 136 municípios paulistas,
todos aqueles que em 2022 tinham mais de 50 mil habitantes. A Secretaria da
Segurança Pública diz reforçar as ações no litoral e aponta que os dados
criminais mostram queda em 2023.
Seis cidades do litoral de São Paulo estão entre as
dez mais violentas do Estado e dessas seis, duas estão na Região Metropolitana
do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN): Caraguatatuba e Ubatuba. O
que os dados mostram é uma alta incidência criminal nessas localidades em
dinâmicas pouco relacionadas à movimentação de turistas durante o verão, por
exemplo, o que poderia fazer com que o dado fosse mais elevado. Caraguatatuba
possui o segundo maior indicador de estupro do Estado. O Estado atribui historicamente a alta a uma melhor
capacidade de registro de crimes dessa natureza, tanto pela estrutura de
delegacias especializadas da mulher quanto pela maior disposição de denúncia
por parte das vítimas.
Ao
contrário do que se poderiam pensar, os crimes patrimoniais, como roubos a
pedestres e comércio, não são prevalentes nas áreas litorâneas. Entre os 10
municípios com maiores indicadores de crimes patrimoniais, só um está no
litoral: Mongaguá. Os nove restantes estão situados na região metropolitana da
capital, onde as ocorrências de assalto se avolumam como em São Paulo, Diadema
e Santo André. O estudo do Sou da Paz se debruçou sobre variações sazonais da
criminalidade no litoral e elaborou médias para os meses de alta temporada e
para o restante do ano. Mesmo se levado em consideração o impacto de maiores
registros em janeiro, fevereiro, julho e dezembro, a posição dos municípios
costeiros permanece no topo do indicador. Peruíbe, Caraguatatuba e Mongaguá
seguem liderando o indicador mesmo com o novo cálculo da sazonalidade. Entre as
dez cidades mais violentas, Cruzeiro e Lorena, próximas à divisa
com o Rio de Janeiro, sofrem com a alta incidência de homicídios. Em Cruzeiro,
onde residem 75 mil pessoas, a taxa de assassinatos é a mais alta do Estado,
apesar de ter caído entre 2021 e 2022. Em Lorena, os homicídios dobraram no
período, passando de 16 casos para 33.
A Secretaria da
Segurança Pública disse que as ações policiais e políticas de segurança pública
“implementadas de forma integrada e voltada para a prisão de criminosos,
asfixia econômica das organizações criminosas, especialmente aquelas
relacionadas ao tráfico de drogas e integração entre as polícias e entre estas
e o Poder Judiciário” resultou “não apenas no aumento de criminosos presos
(foram 141.835 em todo o Estado, nos nove primeiros meses deste ano, um aumento
de 5,4% em comparação ao mesmo período de 2022), como reversão do cenário de
alta generalizada em 2022 para queda nos homicídios dolosos (-9%), roubos
(-3,8%), roubos de veículos (-5,7%) e furtos de veículos (-0,5%) no período de
janeiro a setembro, queda essa que vem se acentuando cada vez mais nos últimos
meses”.
v Diretor da Divisão de Estudos e Monitoramento da
Coordenadoria da Atividade
Delegada – Secretaria de Governo Municipal da Cidade
de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP
Mestre em Gestão e
Desenvolvimento Regional
Professor de
Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato:
italocmantovani@gmail.com
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