A
palavra “trabalho” passou por mudanças de significado e propósito em sua
cronologia histórica; na linguagem clássica grega “ponos” – significa fadiga e
sofrimento, já na língua latina “tripalium” – significa instrumento de tortura,
originando o verbo “tripaliare” – torturar, tornando-se, hoje, trabalhar.
Apenas no período moderno o trabalho deixou a sua condição depreciativa de
tortura, cabível a presos e escravos, passando a ser concebido como produtivo,
metamorfoseado de educativo.
No
cenário de eclosão das revoluções industriais, a concepção de trabalho se
tornou positiva, ancorada nos apontamentos dos filósofos John Locke de que o trabalho
é a fonte da propriedade, e Adam Smith de que o trabalho é a fonte da riqueza.
Tais pressupostos ampararam o crescimento do modelo econômico capitalista,
tendo encontrado na área da educação institucional, o meio de adestramento
humano, como forma de garantir a fluidez do processo produtivo fabril na
sociedade da época.
No
Brasil, desde a década de 1920 do século XX, eram desenvolvidas atividades
sistemáticas voltadas para a preparação profissional, no ambiente escolar, por
meio de cursos profissionalizantes para o público juvenil; com a reforma
educacional Francisco Campos, em 1931, o ensino profissionalizante se tornou
parte integrante da legislação nacional. A partir da promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 4024/61 e 5692/71), o aconselhamento
vocacional/profissional se tornou obrigatório nas escolas; já a LDB (9.394/96),
vigente até o momento, aponta que a educação tem por finalidade: “[...] o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
É possível apontar, no entanto, de que, na prática escolar, o segundo objetivo
ocupa o lugar do primeiro no aspecto de relevância ao sistema econômico
vigente, evidenciado em práticas pedagógicas tradicionais reprodutivas, (diga-se
“treinamento fabril”), tais como: cópia de texto, decoração de fórmulas,
reprodução de regras, sem, no entanto, garantir interpretação e análise crítica
para o exercício da cidadania.
No
Ensino Médio e Ensino Fundamental – Anos Finais, há uma parte curricular
diversificada, que permite inserção da disciplina “Projeto de Vida”,
estruturada entre orientação profissional e redirecionamento existencial; no
Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o trabalho é desenvolvido como conteúdo
transversal, em forma de competências, 1) manejo do tempo e da pontualidade, 2)
compreensão de objetivos e metas, 3) desenvolvimento da responsabilidade, 4)
teste das habilidades pessoais e coletivas, entre outras competências; é válido,
também, implantar projetos específicos como Educação Financeira e Educação para
o Empreendedorismo.
Em
suma, é inegável de que o trabalho, quando desenvolvido sob uma perspectiva
educativa, e não como “celeiro fabril”, torna-se libertador. Garantido o foco
do ensino na aprendizagem significativa, e não somente na preparação técnica
para o mercado de trabalho, proporcionar-se-á, uma cidadania robusta de valores
humanos, princípios éticos e morais, garantindo, por obviedade, produção de
bens úteis para a sociedade. Trabalho sobre uma concepção educativa é possível
e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.
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