sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Relação indissociável do Trabalho com a Educação: discutindo a sua dualidade educativa e adestradora na sociedade



A palavra “trabalho” passou por mudanças de significado e propósito em sua cronologia histórica; na linguagem clássica grega “ponos” – significa fadiga e sofrimento, já na língua latina “tripalium” – significa instrumento de tortura, originando o verbo “tripaliare” – torturar, tornando-se, hoje, trabalhar. Apenas no período moderno o trabalho deixou a sua condição depreciativa de tortura, cabível a presos e escravos, passando a ser concebido como produtivo, metamorfoseado de educativo.

No cenário de eclosão das revoluções industriais, a concepção de trabalho se tornou positiva, ancorada nos apontamentos dos filósofos John Locke de que o trabalho é a fonte da propriedade, e Adam Smith de que o trabalho é a fonte da riqueza. Tais pressupostos ampararam o crescimento do modelo econômico capitalista, tendo encontrado na área da educação institucional, o meio de adestramento humano, como forma de garantir a fluidez do processo produtivo fabril na sociedade da época.

No Brasil, desde a década de 1920 do século XX, eram desenvolvidas atividades sistemáticas voltadas para a preparação profissional, no ambiente escolar, por meio de cursos profissionalizantes para o público juvenil; com a reforma educacional Francisco Campos, em 1931, o ensino profissionalizante se tornou parte integrante da legislação nacional. A partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 4024/61 e 5692/71), o aconselhamento vocacional/profissional se tornou obrigatório nas escolas; já a LDB (9.394/96), vigente até o momento, aponta que a educação tem por finalidade: “[...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. É possível apontar, no entanto, de que, na prática escolar, o segundo objetivo ocupa o lugar do primeiro no aspecto de relevância ao sistema econômico vigente, evidenciado em práticas pedagógicas tradicionais reprodutivas, (diga-se “treinamento fabril”), tais como: cópia de texto, decoração de fórmulas, reprodução de regras, sem, no entanto, garantir interpretação e análise crítica para o exercício da cidadania.

No Ensino Médio e Ensino Fundamental – Anos Finais, há uma parte curricular diversificada, que permite inserção da disciplina “Projeto de Vida”, estruturada entre orientação profissional e redirecionamento existencial; no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o trabalho é desenvolvido como conteúdo transversal, em forma de competências, 1) manejo do tempo e da pontualidade, 2) compreensão de objetivos e metas, 3) desenvolvimento da responsabilidade, 4) teste das habilidades pessoais e coletivas, entre outras competências; é válido, também, implantar projetos específicos como Educação Financeira e Educação para o Empreendedorismo.

Em suma, é inegável de que o trabalho, quando desenvolvido sob uma perspectiva educativa, e não como “celeiro fabril”, torna-se libertador. Garantido o foco do ensino na aprendizagem significativa, e não somente na preparação técnica para o mercado de trabalho, proporcionar-se-á, uma cidadania robusta de valores humanos, princípios éticos e morais, garantindo, por obviedade, produção de bens úteis para a sociedade. Trabalho sobre uma concepção educativa é possível e é para hoje!

Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.

 

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