O entusiasmo pela educação e o otimismo
pedagógico foram movimentos educacionais ideológicos ocorridos nas primeiras
décadas da 1ª República, entre 1888 e 1920. Nas palavras de Jorge Nagle (1929 –
2019), o entusiasmo pela educação representou entre 1888 e 1896, a
possibilidade de expansão do número de escolas primárias, caracterizando-se
como iniciativa de caráter quantitativo, no contexto da República recém
proclamada. Já o otimismo pedagógico, na década de 1920, de caráter
qualitativo, consistiu em qualificar tecnicamente a educação por parte de
pensadores liberais, no contexto de disputa entre os modelos da “escola
tradicional” e da “escola nova”.
O período republicano favoreceu o
processo de industrialização do país, considerando a indústria o lugar para
tirar o Brasil do atraso agrário e resolver os problemas de massa populacional
como emprego, política e economia. Sob o ângulo educacional, a “escola nova” defendia
e representava novos valores educacionais como novos métodos de ensino, novo
significado curricular, novo formato de gestão escolar e nova compreensão de
relacionamento entre professor e estudante. Sob a perspectiva sociopolítica e
econômica, a escola nova abriria as portas da modernidade para o Brasil,
preparando mão de obra para a indústria.
As reformas educacionais da 1ª
República do Brasil discutiram fortemente a regulamentação do ensino secundário
como aparato para o ensino profissionalizante. Têm-se como marco de reformas
educacionais desse período, a reforma Francisco Campos de 1931, que instituiu o
Ministério dos Negócios da Educação, hoje conhecido como Ministério da
Educação. O termo “negócio”, já antecipava em décadas a recomendação do
consenso de Washington, de 1989, de tornar a educação um serviço comercial,
como parte de uma política neoliberal mundial.
Se
por um lado esses dois movimentos educacionais contribuíram com o
desenvolvimento da educação do país em expansão de estabelecimentos de ensino e
parcial qualidade educacional, por outro, foram instrumentos ideológicos da
macroeconomia oligárquica da época, para tornar a educação e a escola, um
espaço de preparação técnica de mão de obra para a indústria.
Compreendido que o contexto
histórico da 1ª República do Brasil foi marcado pelos movimentos de entusiasmo
pela educação e otimismo pedagógico, enquanto expansão e qualificação
profissional da educação, é possível estabelecer uma genérica comparação
reflexiva com a educação nacional atual. Se na 1ª República do Brasil
buscava-se a ampliação de estabelecimentos de ensino primário e, em décadas
seguintes, maior qualidade técnica na educação, na atualidade, de acordo com o
Plano Nacional de Educação (PNE, 2014 – 2024), metas relacionadas a oferta e
conclusão de etapas de ensino permanecem aquém do esperado, segundo dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP,
2023).
Sob
a perspectiva da qualidade do ensino escolar na atualidade, o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB, 2021), aponta índice projetado de 6,1 pontos e índice real de 5,9 pontos para os
Anos Iniciais do Ensino Fundamental; índice projetado de 5,3 pontos e índice
real de 5,0 pontos para os Anos Finais do Ensino Fundamental; e índice
projetado de 4,9 pontos e índice real de 3,9 pontos para o Ensino Médio - (critério
de nota de português e matemática dividido por dois, e multiplicado pela taxa
de aprovação anual).
Soma-se
a isso a perda de posição do Brasil no ranking da Organização das Nações Unidas
(ONU), cujo relatório de 2024, com dados de 2022 aponta que o Brasil caiu da
87ª para a 88ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, 2024), com
base nos critérios de renda per capta, saúde e educação (rendimento escolar).
Este último, ainda com baixos resultados de aprendizagem no IDEB do ano de
2021.
Considerando que o ideário do
entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico da 1ª República se mostraram
ousados e a frente do seu tempo, ainda hoje, continuam ousados, pois a atual
legislação do PNE (2014 – 2024) e a anterior (2001 – 2010), não alcançaram as
metas estabelecidas de alfabetização, conclusão de etapa por ano e série, bem
como a sua devida profissionalização técnica e universitária. Como dito por
teóricos do modelo da “escola nova”, a educação requer bons métodos e bons
professores. Um novo entusiasmo pela
educação e otimismo pedagógico é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em
Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.
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