terça-feira, 24 de setembro de 2024

“Entusiasmo pela Educação” e “Otimismo Pedagógico” na atual educação brasileira



             O entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico foram movimentos educacionais ideológicos ocorridos nas primeiras décadas da 1ª República, entre 1888 e 1920. Nas palavras de Jorge Nagle (1929 – 2019), o entusiasmo pela educação representou entre 1888 e 1896, a possibilidade de expansão do número de escolas primárias, caracterizando-se como iniciativa de caráter quantitativo, no contexto da República recém proclamada. Já o otimismo pedagógico, na década de 1920, de caráter qualitativo, consistiu em qualificar tecnicamente a educação por parte de pensadores liberais, no contexto de disputa entre os modelos da “escola tradicional” e da “escola nova”.

            O período republicano favoreceu o processo de industrialização do país, considerando a indústria o lugar para tirar o Brasil do atraso agrário e resolver os problemas de massa populacional como emprego, política e economia. Sob o ângulo educacional, a “escola nova” defendia e representava novos valores educacionais como novos métodos de ensino, novo significado curricular, novo formato de gestão escolar e nova compreensão de relacionamento entre professor e estudante. Sob a perspectiva sociopolítica e econômica, a escola nova abriria as portas da modernidade para o Brasil, preparando mão de obra para a indústria.

            As reformas educacionais da 1ª República do Brasil discutiram fortemente a regulamentação do ensino secundário como aparato para o ensino profissionalizante. Têm-se como marco de reformas educacionais desse período, a reforma Francisco Campos de 1931, que instituiu o Ministério dos Negócios da Educação, hoje conhecido como Ministério da Educação. O termo “negócio”, já antecipava em décadas a recomendação do consenso de Washington, de 1989, de tornar a educação um serviço comercial, como parte de uma política neoliberal mundial.

Se por um lado esses dois movimentos educacionais contribuíram com o desenvolvimento da educação do país em expansão de estabelecimentos de ensino e parcial qualidade educacional, por outro, foram instrumentos ideológicos da macroeconomia oligárquica da época, para tornar a educação e a escola, um espaço de preparação técnica de mão de obra para a indústria.

            Compreendido que o contexto histórico da 1ª República do Brasil foi marcado pelos movimentos de entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico, enquanto expansão e qualificação profissional da educação, é possível estabelecer uma genérica comparação reflexiva com a educação nacional atual. Se na 1ª República do Brasil buscava-se a ampliação de estabelecimentos de ensino primário e, em décadas seguintes, maior qualidade técnica na educação, na atualidade, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE, 2014 – 2024), metas relacionadas a oferta e conclusão de etapas de ensino permanecem aquém do esperado, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2023).

Sob a perspectiva da qualidade do ensino escolar na atualidade, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB, 2021), aponta índice projetado de  6,1 pontos e índice real de 5,9 pontos para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental; índice projetado de 5,3 pontos e índice real de 5,0 pontos para os Anos Finais do Ensino Fundamental; e índice projetado de 4,9 pontos e índice real de 3,9 pontos para o Ensino Médio - (critério de nota de português e matemática dividido por dois, e multiplicado pela taxa de aprovação anual).

Soma-se a isso a perda de posição do Brasil no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU), cujo relatório de 2024, com dados de 2022 aponta que o Brasil caiu da 87ª para a 88ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH, 2024), com base nos critérios de renda per capta, saúde e educação (rendimento escolar). Este último, ainda com baixos resultados de aprendizagem no IDEB do ano de 2021.

            Considerando que o ideário do entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico da 1ª República se mostraram ousados e a frente do seu tempo, ainda hoje, continuam ousados, pois a atual legislação do PNE (2014 – 2024) e a anterior (2001 – 2010), não alcançaram as metas estabelecidas de alfabetização, conclusão de etapa por ano e série, bem como a sua devida profissionalização técnica e universitária. Como dito por teóricos do modelo da “escola nova”, a educação requer bons métodos e bons professores.  Um novo entusiasmo pela educação e otimismo pedagógico é possível e é para hoje!

            Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.

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