sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

VALORIZAÇÃO É O QUE A POLÍCIA PRECISA


 

Ítalo do Couto Mantovani*

 

                Vídeos que circulam os grupos de WhatsApp mostram que, no último domingo (5 de dezembro), dois policiais militares em motocicletas sendo cercados e agredidos por frequentadores de um baile funk, na Zona Norte de São Paulo. Teve soco, chute, empurra-empurra, garrafadas, tiros e um policial militar foi ferido na cabeça por uma garrafada. Um suspeito de agredir um dos agentes foi baleado, detido e já se encontra em liberdade. Na segunda-feira (6 de dezembro), um homem armado com facão, corrente de ferro, arco e flecha atacou dois policiais, em Minas Gerais. Cenas cada vez mais frequentes ao conhecimento da população, de como nossos policiais são tratados.

            A confiança do cidadão em uma instituição significa identificar se o cidadão acredita que essa instituição cumpre a sua função com qualidade, se faz isso de forma que os benefícios de sua atuação sejam maiores que os seus custos e se essa instituição é levada em consideração no dia a dia do cidadão comum. Por isso, uma das questões que afetam profundamente o desenvolvimento de um país é a capacidade de qualquer instituição apresentar solução de conflitos que surgem no ambiente social, cultural, econômico e até mesmo empresarial. Desse modo, a faculdade Getúlio Vargas apresenta desde 2009 o Índice de Confiança na Justiça no Brasil (ICJBrasil). Nossa polícia tem um índice de confiança de 44%. O maior índice desde 2011 que foi de 34%. De 2017 para 2021 o crescimento foi aproximadamente 70%.

            O Brasil tem 406 mil policiais militares, 93 mil policiais civis e 55 mil bombeiros, além de 96 mil policiais penais e 12 mil peritos técnicos. A desvalorização salarial é a mesma. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que um cabo que trabalha no Maranhão tem salário equivalente ao de um subtenente do estado vizinho, Piauí. Para alguns militares “O policial é obrigado a tirar bico, a sacrificar as folgas para ser segurança em posto de gasolina. Muitos acabam morrendo nesses bicos. ”  Esse é um dos fatores que mostram a diferença salarial. Por outro lada há também a Diferença salarial média entre a base e o topo das Polícias Militares chega a quinze vezes; alguns estados pagam o dobro que outros a policiais da mesma patente.

            O Estado de São Paulo tem 46 milhões de habitantes, produzindo aproximadamente 32% do PIB e com 21% da população do país. Nossos indicadores criminais conferem a Polícia destaque. Em apenas 8 anos, o Estado reduziu aproximadamente 32% o número de roubos outros; 55% a criminalidade para o indicador de roubos e furtos de veículos; e para o indicador de vítimas de letalidade violenta (vítimas de homicídios dolosos e vítimas de latrocínio) o Estado diminuiu quase 40%. Esse rol de indicadores demonstra o papel da nossa polícia, do seu trabalho e do a proeminência que ela merece ter em todo estado e território brasileiro.

            Por outro lado, percebemos que ela tem o pior salário do país. É no Estado mais rico da nação, com o maior custo de vida que nossa polícia não é bem vista, por parte de alguns membros da sociedade. Fazer com que nossos policiais se sintam valorizados deve ser uma prioridade constante, pessoas (independente da Instituição/Órgão/Função/Cargo) devem se sentir valorizadas. Devem ser prioridade constante para os gestores. Pessoas que se sentem valorizadas são muito mais propensas a ser produtivo e feliz em seu papel. Essa valorização pode ser por meio de planos de carreira, locais e ferramentas adequadas de trabalho, confiança no trabalho do outro e, também, salário. Nossa polícia necessita de um aumento.

            Sabemos que esse caminho não é linear, ao mesmo tempo irregular e descontinuo, pode ser até associado a alguns problemas básicos de gestão. Contudo, o Estado precisa se importar com seus colaboradores. A polícia, mesmo com sua falta de efetivo, defasagem vem fazendo muito com pouco, ou como costumo falar “com o cobertor curto vem mostrando resultados de polícia de primeiro mundo”, entretendo uma hora poderemos ter uma crise na Instituição e mais, na segurança pública e segurança pública não pode ser brinquedo da mão de pseudo-gestores. A reflexão aqui realizada aponta para a necessidade de valorização de quem sai de casa para cuidar da vida do outro.

 

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

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