Ítalo do Couto Mantovani*
Vídeos
que circulam os grupos de WhatsApp mostram que, no último domingo (5 de
dezembro), dois policiais militares em motocicletas sendo cercados e agredidos
por frequentadores de um baile funk, na Zona Norte de São Paulo. Teve soco,
chute, empurra-empurra, garrafadas, tiros e um policial militar foi ferido na
cabeça por uma garrafada. Um suspeito de agredir um dos agentes foi baleado,
detido e já se encontra em liberdade. Na segunda-feira (6 de dezembro), um
homem armado com facão, corrente de ferro, arco e flecha atacou dois policiais,
em Minas Gerais. Cenas cada vez mais frequentes ao conhecimento da população,
de como nossos policiais são tratados.
A confiança do cidadão em uma
instituição significa identificar se o cidadão acredita que essa instituição
cumpre a sua função com qualidade, se faz isso de forma que os benefícios de
sua atuação sejam maiores que os seus custos e se essa instituição é levada em
consideração no dia a dia do cidadão comum. Por isso, uma das questões que
afetam profundamente o desenvolvimento de um país é a capacidade de qualquer
instituição apresentar solução de conflitos que surgem no ambiente social,
cultural, econômico e até mesmo empresarial. Desse modo, a faculdade Getúlio
Vargas apresenta desde 2009 o Índice de Confiança na Justiça no Brasil
(ICJBrasil). Nossa polícia tem um índice de confiança de 44%. O maior índice
desde 2011 que foi de 34%. De 2017 para 2021 o crescimento foi aproximadamente
70%.
O Brasil tem 406 mil policiais
militares, 93 mil policiais civis e 55 mil bombeiros, além de 96 mil policiais
penais e 12 mil peritos técnicos. A desvalorização salarial é a mesma. Dados do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que um cabo que trabalha no
Maranhão tem salário equivalente ao de um subtenente do estado vizinho, Piauí.
Para alguns militares “O policial é obrigado a tirar bico, a sacrificar as
folgas para ser segurança em posto de gasolina. Muitos acabam morrendo nesses
bicos. ” Esse é um dos fatores que
mostram a diferença salarial. Por outro lada há também a Diferença salarial
média entre a base e o topo das Polícias Militares chega a quinze vezes; alguns
estados pagam o dobro que outros a policiais da mesma patente.
O Estado de São Paulo tem 46 milhões
de habitantes, produzindo aproximadamente 32% do PIB e com 21% da população do
país. Nossos indicadores criminais conferem a Polícia destaque. Em apenas 8
anos, o Estado reduziu aproximadamente 32% o número de roubos outros; 55% a
criminalidade para o indicador de roubos e furtos de veículos; e para o indicador
de vítimas de letalidade violenta (vítimas de homicídios dolosos e vítimas de
latrocínio) o Estado diminuiu quase 40%. Esse rol de indicadores demonstra o
papel da nossa polícia, do seu trabalho e do a proeminência que ela merece ter
em todo estado e território brasileiro.
Por outro lado, percebemos que ela
tem o pior salário do país. É no Estado mais rico da nação, com o maior custo
de vida que nossa polícia não é bem vista, por parte de alguns membros da
sociedade. Fazer com que nossos policiais se sintam valorizados deve ser uma
prioridade constante, pessoas (independente da Instituição/Órgão/Função/Cargo)
devem se sentir valorizadas. Devem ser prioridade constante para os gestores. Pessoas
que se sentem valorizadas são muito mais propensas a ser produtivo e feliz em
seu papel. Essa valorização pode ser por meio de planos de carreira, locais e
ferramentas adequadas de trabalho, confiança no trabalho do outro e, também,
salário. Nossa polícia necessita de um aumento.
Sabemos que esse caminho não é
linear, ao mesmo tempo irregular e descontinuo, pode ser até associado a alguns
problemas básicos de gestão. Contudo, o Estado precisa se importar com seus
colaboradores. A polícia, mesmo com sua falta de efetivo, defasagem vem fazendo
muito com pouco, ou como costumo falar “com o cobertor curto vem mostrando
resultados de polícia de primeiro mundo”, entretendo uma hora poderemos ter uma
crise na Instituição e mais, na segurança pública e segurança pública não pode
ser brinquedo da mão de pseudo-gestores. A reflexão aqui realizada
aponta para a necessidade de valorização de quem sai de casa para cuidar da
vida do outro.
v
Assessor de Coordenador
na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional
Professor de Cursinho pré-vestibular
em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário