segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Proposta metodológica interdisciplinar na educação escolar





             A divisão de saberes por áreas é uma prática milenar, proveniente do período clássico da Grécia antiga, quando dividiram os estudos de Arte e Ciências, podendo desmembrar as temáticas de ensino por assuntos, como Retórica, Gramática, Dialética e Antropologia. No entanto, foi na Renascença e Modernidade que a ciência ganhou uma forma mais delineada pelo quanto a produção científica se mostrou especializada, proporcionando uma visão mais científica do mundo.

            Na atual sociedade ocidental e grande parcela do oriente, permanece vigente a organização societária com base na lógica cartesiana. Se por um lado continua válida a máxima cartesiana de dividir as dificuldades em um maior número possível para melhor as resolver, por outro, considerando a evolução sociocultural, em que os problemas da realidade humana extrapolam a esfera de uma única área de conhecimento, urge novos parâmetros e paradigmas para solucionar os dilemas da atualidade. Nesse sentido, no campo educacional, surge no início do século XX, reflexões voltadas para a formação humana sob a perspectiva da educação integral e holística, ganhando destaque nos anos de 1950, quando o biólogo suíço Jean Piaget deu luz à reflexão de que a divisão do saber não dá conta de explicar a realidade, uma vez que o conhecimento acontece por meio da interação entre sujeito e objeto.

            No Brasil, o conceito de interdisciplinaridade passou a fazer parte do cenário educacional do país, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), n.º 5.692/71 e mais fortemente com a nova LDB n.º 9.394/96, influenciando o trabalho das escolas e dos professores para compreender o processo de ensino e aprendizagem como sistêmico e não como abordagem estanque de teorias compartimentadas.

Presente no arcabouço legal da política educacional brasileira, a interdisciplinaridade como prática pedagógica ainda é assumida com receio por pais, educadores e administradores de centros de ensino, haja vista os desafios implicados como 1) clareza da proposta pedagógica por parte de todos os envolvidos, 2) exímio planejamento do projeto interdisciplinar, 3) lidar com as diferenças culturais, 4) reconhecimento do nível da própria aprendizagem por parte dos estudantes, e 5) lidar com um maior volume de informações das disciplinas participantes do projeto e/ou aula interdisciplinar, que, por natureza, representa troca e reciprocidade de conhecimento.

             A aplicação da proposta metodológica interdisciplinar no ensino escolar proporciona 1) visão sistêmica sobre o currículo, enxergando-o de modo global, 2) ampliação da consciência e senso crítico sobre a realidade, 3) aumento da auto responsabilidade sobre o ambiente escolar e seu entorno, e 4) criação de um ambiente colaborativo.

À equipe gestora e pedagógica, caberá manter-se alinhada sob a ótica identitária da proposta metodológica interdisciplinar, a fim de tornar factível a execução do currículo escolar por meio de práticas, abordagens e projetos interdisciplinares. Para isso, alguns passos precisam ser seguidos: 1) perguntar-se sobre as necessidades da aprendizagem dos estudantes, a partir de dados dos instrumentos de medição do desempenho escolar, 2) por parte dos professores de diferentes disciplinas, elencar os temas que tenham relação com a defasagem da aprendizagem dos estudantes, e 3) definir atividades, recursos, cronograma e análise avaliativa, de modo que a aprendizagem seja significativa para o estudante, compreendendo que a atividade educativa representa uma intervenção na realidade no momento presente. Proposta metodológica interdisciplinar na educação escolar é possível e é para hoje.

            Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.

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