A divisão de saberes por áreas é uma prática
milenar, proveniente do período clássico da Grécia antiga, quando dividiram os
estudos de Arte e Ciências, podendo desmembrar as temáticas de ensino por
assuntos, como Retórica, Gramática, Dialética e Antropologia. No entanto, foi na
Renascença e Modernidade que a ciência ganhou uma forma mais delineada pelo
quanto a produção científica se mostrou especializada, proporcionando uma visão
mais científica do mundo.
Na atual sociedade ocidental e
grande parcela do oriente, permanece vigente a organização societária com base
na lógica cartesiana. Se por um lado continua válida a máxima cartesiana de
dividir as dificuldades em um maior número possível para melhor as resolver,
por outro, considerando a evolução sociocultural, em que os problemas da
realidade humana extrapolam a esfera de uma única área de conhecimento, urge novos
parâmetros e paradigmas para solucionar os dilemas da atualidade. Nesse
sentido, no campo educacional, surge no início do século XX, reflexões voltadas
para a formação humana sob a perspectiva da educação integral e holística,
ganhando destaque nos anos de 1950, quando o biólogo suíço Jean Piaget deu luz
à reflexão de que a divisão do saber não dá conta de explicar a realidade, uma
vez que o conhecimento acontece por meio da interação entre sujeito e objeto.
No Brasil, o conceito de
interdisciplinaridade passou a fazer parte do cenário educacional do país, a
partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), n.º 5.692/71 e mais
fortemente com a nova LDB n.º 9.394/96, influenciando o trabalho das escolas e
dos professores para compreender o processo de ensino e aprendizagem como
sistêmico e não como abordagem estanque de teorias compartimentadas.
Presente
no arcabouço legal da política educacional brasileira, a interdisciplinaridade
como prática pedagógica ainda é assumida com receio por pais, educadores e
administradores de centros de ensino, haja vista os desafios implicados como 1)
clareza da proposta pedagógica por parte de todos os envolvidos, 2) exímio
planejamento do projeto interdisciplinar, 3) lidar com as diferenças culturais,
4) reconhecimento do nível da própria aprendizagem por parte dos estudantes, e
5) lidar com um maior volume de informações das disciplinas participantes do
projeto e/ou aula interdisciplinar, que, por natureza, representa troca e
reciprocidade de conhecimento.
A aplicação da proposta metodológica
interdisciplinar no ensino escolar proporciona 1) visão sistêmica sobre o
currículo, enxergando-o de modo global, 2) ampliação da consciência e senso
crítico sobre a realidade, 3) aumento da auto responsabilidade sobre o ambiente
escolar e seu entorno, e 4) criação de um ambiente colaborativo.
À
equipe gestora e pedagógica, caberá manter-se alinhada sob a ótica identitária
da proposta metodológica interdisciplinar, a fim de tornar factível a execução
do currículo escolar por meio de práticas, abordagens e projetos
interdisciplinares. Para isso, alguns passos precisam ser seguidos: 1)
perguntar-se sobre as necessidades da aprendizagem dos estudantes, a partir de
dados dos instrumentos de medição do desempenho escolar, 2) por parte dos
professores de diferentes disciplinas, elencar os temas que tenham relação com a
defasagem da aprendizagem dos estudantes, e 3) definir atividades, recursos,
cronograma e análise avaliativa, de modo que a aprendizagem seja significativa
para o estudante, compreendendo que a atividade educativa representa uma
intervenção na realidade no momento presente. Proposta metodológica
interdisciplinar na educação escolar é possível e é para hoje.
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em
Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.
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