Ítalo do Couto Mantovani*
Nas últimas
décadas, acompanhando o cenário nacional quanto ao acesso da população aos
cursos de nível superior, as instituições do campo da segurança pública de todo
o país têm recebido, a cada ciclo de ingresso, profissionais mais bem
qualificados. Em que pese que em alguns estados da federação ainda não haja a
obrigatoriedade da comprovação de nível superior pelo/a candidato/a no ato da
matrícula dos cursos de formação, acompanhando o conjunto de transformações
sociais – o que inclui a busca pela estabilidade do emprego – o perfil desse
público tem mudado.
Sob tal
dinâmica, um dilema mantém-se pouco problematizado, Trata-se da demanda por
interlocução entre o campo da segurança pública – aqui, destacando as polícias
–, e o campo acadêmico pela via da exteriorização das experiências que
caracterizam a atividade policial pela via, ainda tímida, da produção
intelectual dos profissionais a ela associados. O que se consolida em
monografias e artigos de opinião e/ou científicos, principalmente. Dois
desafios impostos às estruturas institucionais podem ser citados, o
primeiro diz respeito à resistência das corporações em compreender a
potencialidade inerente ao interesse dos seus profissionais pela participação
em cursos aparentemente desvinculados da natureza policial. O
segundo refere-se ao conflito de identidade do sujeito simbolicamente
demandado – tanto pela academia, quanto pela polícia – a assumir posição
unilateral, diante da condição de ocupação concomitante de ambos os espaços.
Essa dupla
condição fluiria bem se não houvesse por parte de ambos os setores – educação e
segurança pública – resistência para acolher sujeitos duplamente
experimentados e, portanto, dispostos a atuar – e capazes de fazê-lo – como
mediadores ativos no esforço de aproximar mundos que parecem tão distantes na
teoria, mas que, na prática, são desafiados, cada vez mais, a admitir sujeitos
comuns – policiais/pesquisadores.
Como
sabido, a maioria dos estudos destaca o comportamento policial externado ao
público por meio dos procedimentos adotados nas intervenções, o que inclui
índices de letalidade policial e excessos no uso da força, mas deixa de
considerar questões fundamentais por não conseguir ter acesso ao que ocorre
intramuros das instituições. Especialmente no que tange às condições de
trabalho e à complexidade da natureza das atividades requeridas pelas polícias.
O incentivo para que os profissionais da segurança pública assumam mais espaço,
também no cenário acadêmico, parece fazer sentido. Sem dúvidas, constitui uma
potencialidade, à medida que é uma forma de qualificar e valorizar seu trabalho
e também de levar ao conhecimento público questões complexas e exclusivas do
universo da segurança pública, incomparáveis às questões experiências em outros
setores.
No campo da
segurança, a rotina é o incomum e constitui um dos motivos pelos quais os
profissionais podem se ver limitados quanto à produção de registros sobre o
trabalho. Afinal, a leitura, o estudo e a escrita exigem certo nível de
disciplina ou destacada capacidade de aproveitamento dos períodos vagos, além
de dedicação e identificação pessoal com a produção do conhecimento. É uma
tarefa penosa diante da costumeira exaustão física e mental dos policiais de
ponta de linha.
Desta forma, fica nítido que o incentivo para que os
profissionais da segurança pública assumam mais espaço no cenário acadêmico
parece fazer sentido. sem dúvida, constitui uma potencialidade, por ser uma
forma de qualificar e valorizar seu trabalho e, também, de levar ao
conhecimento público questões complexas e exclusivas do universo da segurança
pública
*
Diretor da Divisão de Estudos e Monitoramento da Coordenadoria da Atividade
Delegada
– Secretaria de Governo Municipal da Cidade de São Paulo
Formado
em Gestão de Políticas Públicas pela USP
Mestre
em Gestão e Desenvolvimento Regional
Graduando
e História pela USP
Professor
de Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato:
italocmantovani@gmail.com
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