segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Educação Integral: De prática informal tradicional à novo “elixir” da Educação Básica brasileira

Desde o final do século XX e início do XXI, muito se tem falado em Educação Integral, tanto pelo aspecto da ampliação da jornada de estudo, que compreende tempo de aula de 07 a 09 horas na escola, como pela concepção de formação integral, pautada em dimensões de ordem física, emocional, intelectual, social e cultural, como aponta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), em cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 9394/96).

Sob uma perspectiva histórica, Educação de Tempo Integral enquanto ampliação do tempo de aula do aluno na escola não é algo novo, considerando que, de modo semelhante, os antigos internatos, desde o final do século XIV, na Inglaterra, já ofertavam atividades educativas para adolescentes, embora restrito àqueles desobedientes e indisciplinados na sociedade da época. Com o passar dos séculos, os colégios internos foram sendo associados à escolarização versátil, mantendo sua característica de oferta de tempo ampliado de ensino, contando com disponibilização de alojamento para moradia no tempo de estudo do aluno, cujo foco escolar estava voltado exclusivamente para o campo cognitivo.

Na atualidade, o Projeto de Educação de Tempo Integral dos governos Federal e Estadual é comparável a uma espécie de semi-internato, por passar longo tempo na escola, estudando áreas de conhecimento da Base Nacional Comum Curricular, juntamente com atividades complementares, com a finalidade de que o aluno aproveite o máximo possível o dia com atividades produtivas. É bem verdade que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de escolas de Tempo Integral costuma apresentar melhores resultados do que escolas de Tempo Parcial, haja vista que contam com maior contingente de profissionais da educação, melhor infraestrutura, mais subsídio financeiro para o magistério, e melhor controle e consistência dos processos didático/metodológico.

Sabe-se, no entanto, que, apenas ampliar o tempo da jornada de estudo do aluno na escola, com foco no aspecto cognitivo e sem mecanismos de aferição da aplicação da aprendizagem do aluno na sociedade, não faz da Educação de Tempo Integral, uma Educação Integral, ou seja, o atual “Semi-internato” consiste em uma reprodução do antigo formato de internato de outros séculos, mais atendendo aos pais que ficam liberados para atividades econômicas, do que um ensino preparatório para o amplo desenvolvimento humano.

Diferente da Educação de Tempo Integral que é compreendida pelo aumento do tempo do aluno na escola, a Educação Integral tem como característica ser inclusiva, equânime, sustentável e alinhada a temas da realidade contemporânea, desenvolvendo alunos críticos e autônomos, proporcionando relações humanas mais amplas, com maior participação ativa da família, além de proporcionar o reconhecimento das próprias fragilidades e potencialidades.

Em suma, evidencia-se que, embora a Educação de Tempo Integral e a Educação Integral sejam complementares, não devem ser assumidas como iguais. Para não acontecer de comprarmos “gato por lebre”, por parte da comunidade educativa, cabe rigoroso olhar para o currículo formativo, procedimento didático/metodológico escolar, constante e próximo contato com a equipe gestora e docente, para apurar a existência de uma real Educação Integral com formação em dimensões diversas que garantam o pleno desenvolvimento do aluno, e não somente a Educação de Tempo Integral, com oferta de atividades pontuais que apenas preenchem o tempo de dois períodos de aula. Educação Integral é possível e é para hoje!

Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.

 

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