Desde
o final do século XX e início do XXI, muito se tem falado em Educação Integral,
tanto pelo aspecto da ampliação da jornada de estudo, que compreende tempo de aula
de 07 a 09 horas na escola, como pela concepção de formação integral, pautada
em dimensões de ordem física, emocional, intelectual, social e cultural, como
aponta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017), em cumprimento da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 9394/96).
Sob
uma perspectiva histórica, Educação de Tempo Integral enquanto ampliação do
tempo de aula do aluno na escola não é algo novo, considerando que, de modo
semelhante, os antigos internatos, desde o final do século XIV, na Inglaterra,
já ofertavam atividades educativas para adolescentes, embora restrito àqueles
desobedientes e indisciplinados na sociedade da época. Com o passar dos
séculos, os colégios internos foram sendo associados à escolarização versátil,
mantendo sua característica de oferta de tempo ampliado de ensino, contando com
disponibilização de alojamento para moradia no tempo de estudo do aluno, cujo
foco escolar estava voltado exclusivamente para o campo cognitivo.
Na
atualidade, o Projeto de Educação de Tempo Integral dos governos Federal e
Estadual é comparável a uma espécie de semi-internato, por passar longo tempo
na escola, estudando áreas de conhecimento da Base Nacional Comum Curricular,
juntamente com atividades complementares, com a finalidade de que o aluno
aproveite o máximo possível o dia com atividades produtivas. É bem verdade que
o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de escolas de Tempo
Integral costuma apresentar melhores resultados do que escolas de Tempo
Parcial, haja vista que contam com maior contingente de profissionais da
educação, melhor infraestrutura, mais subsídio financeiro para o magistério, e melhor
controle e consistência dos processos didático/metodológico.
Sabe-se,
no entanto, que, apenas ampliar o tempo da jornada de estudo do aluno na
escola, com foco no aspecto cognitivo e sem mecanismos de aferição da aplicação
da aprendizagem do aluno na sociedade, não faz da Educação de Tempo Integral,
uma Educação Integral, ou seja, o atual “Semi-internato” consiste em uma
reprodução do antigo formato de internato de outros séculos, mais atendendo aos
pais que ficam liberados para atividades econômicas, do que um ensino
preparatório para o amplo desenvolvimento humano.
Diferente
da Educação de Tempo Integral que é compreendida pelo aumento do tempo do aluno
na escola, a Educação Integral tem como característica ser inclusiva, equânime,
sustentável e alinhada a temas da realidade contemporânea, desenvolvendo alunos
críticos e autônomos, proporcionando relações humanas mais amplas, com maior
participação ativa da família, além de proporcionar o reconhecimento das
próprias fragilidades e potencialidades.
Em
suma, evidencia-se que, embora a Educação de Tempo Integral e a Educação
Integral sejam complementares, não devem ser assumidas como iguais. Para não
acontecer de comprarmos “gato por lebre”, por parte da comunidade educativa,
cabe rigoroso olhar para o currículo formativo, procedimento didático/metodológico
escolar, constante e próximo contato com a equipe gestora e docente, para
apurar a existência de uma real Educação Integral com formação em dimensões
diversas que garantam o pleno desenvolvimento do aluno, e não somente a
Educação de Tempo Integral, com oferta de atividades pontuais que apenas
preenchem o tempo de dois períodos de aula. Educação Integral é possível e é
para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.
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