quinta-feira, 7 de abril de 2022

AS DROGAS NA PANDEMIA

 


Ítalo do Couto Mantovani*

 

            Em uma época que a velocidade da informação supera frequentemente a velocidade da verificação nos ensina que é crucial cortar o ruído e se concentrar nos fatos. Acrescentando a isso quase dois anos de COVID-19 devemos ter como lição, no campo da segurança pública, a proteção da sociedade perante as drogas e por consequência seus impactos.

            Em junho de 2021 o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC – sigla em inglês), lançou o Relatório Mundial Sobre Drogas 2021. Composto por 5 livros separados, o documento fornece uma análise aprofundada dos mercados globais de drogas e apresenta um quadro abrangente dos efeitos mensuráveis ​​e do impacto potencial da crise do COVID-19 no problema mundial das drogas. O quinto livro (COVID-19 e drogas – impacto e perspectivas) contém uma avaliação inicial do impacto da pandemia nos mercados de drogas, à medida que a situação evoluiu, os efeitos mensuráveis do impacto causado por esse mercado na saúde dos usuários de drogas e como a oferta de tratamento e serviços às pessoas que usam drogas têm sido afetados.

            Em 2019 o uso de drogas matou aproximadamente meio milhão de pessoas no mundo, enquanto os transtornos de uso resultam em 18 milhões de vidas saudáveis perdidas por ano. Doenças graves e muitas vezes letais são as mais comuns entre os usuários, particularmente aquelas em que injetam drogas, são a hepatite C e Aids. Além desse problema estrutural na saúde pública, o comércio de drogas ilícitas trava a economia e o desenvolvimento social, impactando desproporcionalmente nos mais vulneráveis e marginalizados e por consequência constituí uma ameaça fundamental à segurança e a estabilidade em nossa sociedade. No ano de 2020 cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas, um aumento de 22% em relação a 2010. A produção de cannabis quadruplicou e inversamente proporcional foi a percepção dos adolescentes como prejudicial caiu 40% apesar das evidências associando o uso regular a problemas de saúde.

            Pelo relatório fica evidente que o tráfico de drogas no Brasil foi afetado nos primeiros meses de pandemia, resultado de uma diminuição do fornecimento de países onde as drogas são fabricadas. O Brasil relatou que houve mudanças inclusive nas rotas do tráfico de drogas e assim, houve uma maior utilização de caminhos alternativos por meio de rotas marítimas e de aeronaves particulares. Mesmo com essas mudanças, os dados mostram que houve um aumento nas apreensões de drogas em nossas estradas a partir de 2020, causados não só pelas mudanças de leis estratégicas como a diminuição do tráfego rodoviário. Todas essas mudanças acarretaram na diminuição recente de uso de alguma droga, comparando maio a junho de 2020 com o mesmo período de 2019.

            Pelos dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo as afirmações vindas do Relatório, apresentado pelas Nações Unidas, se confirmam no Estado. Somando 3 indicadores sobre tráfico de drogas (ocorrências de porte de entorpecentes, ocorrências de tráfico de entorpecentes e ocorrências de apreensão de entorpecentes) e comparando-os em períodos diferentes (2019/2020/2021) temos uma diminuição de 2019 para 2020 em 15% e de 2020 para 2021 4%. Já de 2019 para 2021 a queda foi de aproximadamente 19%. Nossa cidade, Pindamonhangaba, teve uma queda de 2019 para 2020 de 21% e de 2020 para 2021 com um declínio de 30% na soma dos três indicadores, ou seja, de 2019 para 2021 a queda foi de quase 50%.

            Em suma, comunicar os fatos sobre drogas a segurança pública e exigir de nossos políticos nas três esferas (Municipal, Estadual e Federal) que promovam intervenções é uma necessidade absoluta se quisermos reduzir a demanda e fornecimento de drogas, além de facilitar o acesso a medicamentos para os necessitados. É também o caminho mais seguro para eliminando a estigmatizarão e a discriminação e proporcionando tratamento adequado, pois sete em cada oito pessoas que sofrem de transtornos por uso de drogas permanecem sem cuidados adequados.

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

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