quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ESCLARECIMENTO DE HOMICÍDIOS AVANÇA A PASSOS LENTOS

 


 

Ítalo do Couto Mantovani*

 

            Dando continuidade ao trabalho realizado desde 2017, o Instituto Sou da Paz lançou a quarta edição de sua análise sobre o esclarecimento de homicídios no Brasil. Em 2018, mais de 48 mil pessoas foram vítimas de homicídio doloso no Brasil. Pouco sabemos sobre o resultado da investigação dessas mortes, uma vez que poucas são as informações disponíveis e regularmente publicadas e atualizadas.

            A pesquisa intitulada Onde Mora a Impunidade” revela que 17 estados esclareceram 44% de homicídios; PR, com 12% de esclarecimento, e RJ, com 14% são piores do ranking; 10 estados brasileiros não são capazes de informar quantos homicídios esclareceram. Para termos alguns parâmetros e compreendermos a importância dada ao esclarecimento de homicídios em diferentes países, a pesquisa buscou estudos referentes a esta temática, contextualizando não apenas os indicadores encontrados, mas também alguns aspectos relevantes sobre a metodologia e a produção dessa estatística. O trabalho de maior abrangência, chamado, Estudo Global sobre Homicídios da ONU – edição 2019, que traz um panorama continental e aponta que os países das Américas têm os maiores índices de impunidade, tendo 43% de homicídios elucidados, ficando abaixo da média mundial de 63%. O critério utilizado foi a capacidade das instituições policiais de identificar pelo menos um suspeito do crime, independente da continuidade do processo nas instituições do sistema de justiça criminal.

            O estudo menciona ainda que nos países das Américas os homicídios são frequentemente ligados ao crime organizado e gangues violentas, além de serem, em sua maioria, decorrentes do uso de armas de fogo. Diferentemente dos países da Europa, por exemplo, que concentram a menor taxa de impunidade, com 92% dos homicídios elucidados pela polícia, e onde a maioria dos autores das mortes são familiares e parceiros das vítimas, o que seria um fator que contribui para a elucidação dos casos.

            Nesta pesquisa, do Instituto Sou da Paz, fica nítido que o Brasil precisa de um indicador nacional de esclarecimento de homicídios, 17 estados foram capazes de informar com precisão os dados que permitissem que o Instituto realizasse o cálculo do índice de esclarecimento de homicídios, cuja taxa nacional foi de 44%.

            Mato Grosso do Sul foi o estado que mais esclareceu homicídios ocorridos em 2018, com percentual de 89% de esclarecimento, seguido por Santa Catarina, com 83% e Distrito Federal, com 81%, tendo piorado seu percentual de esclarecimento em relação à última edição da pesquisa, quando apresentou taxa de 91%. Já o estado com a menor taxa de esclarecimento de homicídios foi o Paraná, com 12%porém o dado representa um avanço em relação ao anterior, quando o estado enviou dados incompletos que impossibilitaram o cálculo e prejudicavam a transparência do dado. O Rio de Janeiro, que ficou em último no ranking em 2020, melhorou de 11% para 14% seu esclarecimento, seguido da Bahia, que subiu de 4% na segunda edição para 22%. Entre os estados que não enviaram os dados solicitados pelo Instituto Sou da Paz estão: Alagoas, Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. Entre aqueles que enviaram dados incompletos, o que inviabilizou o cálculo do percentual de homicídios nesses estados, estão Amapá, Goiás, Pará e Maranhão.

            O Estado de São Paulo teve uma piora nos últimos 4 anos. Em 2015 o índice apontou que 47% de todos os homicídios ocorridos no estado eram esclarecidos no mesmo ano; em 2016 passou-se para 51%, um aumento de 8%; em 2017, novamente um aumento, chegando a 54%; contudo, em 2018 o Estado de São Paulo teve uma queda de 14% aproximadamente, ficando com 46% de esclarecimento em todos os homicídios ocorridos em 2018 nos 645 municípios de São Paulo.

            É importante reconhecer o avanço no percentual de esclarecimento de homicídios no Brasil, que aumentou 12% em relação à última edição da pesquisa. O percentual de homicídios esclarecidos no Brasil vem desde 2015 até 2017 com uma taxa de 32% em 2018 chegou em 44%, dos quais 31% são de homicídios esclarecidos no ano da morte e 13% no ano seguinte. O maior aumento ocorreu nos esclarecimentos no mesmo ano da morte, reforçando o que a literatura especializada já aponta: quanto mais tempo demora a atividade investigativa, mais difícil fica a identificação do (s) autor (es), gerando maior possibilidade de o inquérito ter como destino o arquivamento.

            Entre outras recomendações, a modernização da gestão, infraestrutura e remuneração das Polícias Civis Estaduais, a garantia da disponibilidade ininterrupta de equipes completas (delegado, investigadores e peritos) para chegada rápida ao local do crime em todas regiões dos estados, além da padronização e integração dos sistemas de informação dos Ministérios Públicos estaduais, conferindo mais transparência à resposta que o estado dá aos crimes contra a vida. Mas, não podemos nos esquecer o salário, a valorização policial. Estamos em um momento crítico no país, nosso policial precisa de um salário digno e que ofereça estabilidade.

 

 

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

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