Ítalo do Couto Mantovani*
Até meados
de 1990, estatísticas oficiais de criminalidade no país não existiam, um hiato
que começa a ser suprido no início do século XXI. E hoje, os dados de
criminalidade são de suma importância para todos que querem saber/entender
sobre segurança pública. Dados estes, que são transformados em informações e
usados habitualmente por países, estados, cidades e organizações para retratar
a situação do objeto estudado dentro de segurança pública e
criação/aprimoramento de políticas de segurança pública. Com isso, temos
certeza sobre a importância em aprimoramento, tanto em nível micro como macro,
para divulgação dos dados cada vez mais transparente, seguindo os acordos de
Dados Abertos e Governo Aberto assinados no ano de 2001.
Ao analisar
o Atlas da violência 2021, no quesito Mortes Violentas por Causa Indeterminada
(MVCI), isto é, um indicador que mensura que não é possível estabelecer a causa
básica do óbito, ou a sua motivação, apresenta-se um aumento de 2018 para 2019
no Brasil, 35,2%. A situação é mais grave no Rio de Janeiro, onde as MVCI
representaram, em 2019, 34,2% das mortes por causas externas; seguido por São
Paulo (19,0%) e Ceará (14,5%). Como falado, apenas de 2018 para 2019, houve no
Brasil um crescimento de 35,2% no número de mortes violentas por causas
indeterminadas, sendo esse aumento de 232% no Rio de Janeiro, 185% no Acre e
178% em Rondônia. A dimensão do problema também pode ser vista quando se
compara as taxas de homicídios e as taxas de MVCI por 100 mil habitantes, que,
no Brasil, são respectivamente 21,7 e 7,9. Merecem destaque os casos de São
Paulo e do Rio de Janeiro, em que as taxas de MVCI – 9,0 e 28,3 respectivamente
– superam as de homicídios – 7,3 e 20,3 – em 23% e 34,4%, respectivamente.
O
crescimento das MVCI afeta as análises realizadas no Atlas. Houve crescimento
considerável de MVCI de 2018 para 2019 em variáveis relacionadas a diferentes
tópicos do estudo, alcançado 57,4% no caso da juventude. Esse aumento das MCVI,
juntamente com a melhoria dos dados produzidos pelas secretarias de segurança
pública na última década, fez com que, pela primeira vez, as mortes violentas
por causas intencionais (47.742) (FBSP, 2021) superassem os homicídios
calculados a partir do SIM (45.503). Um maior número de registros pelos órgãos
de segurança pública ocorreu em 9 UFs. No Rio de Janeiro, os dados de
homicídios do SIM são 40,6% menores que os registros de mortes violentas
intencionais dos órgãos de segurança pública, e em São Paulo, 17,5%.
O Estado de
SP identificou uma queda de 3%. Contudo, ao analisar esse indicador, MVCI, com
o número de homicídios dolosos em São Paulo, há um crescimento, desde 2013, de
mortes violentas por causa indeterminada e a partir de 2017 esse indicador é
superior ao número de vítimas de homicídios dolosos.
O questionamento
que surge, para qualquer pessoa, é de que há realmente uma queda no número de
homicídios dolosos no estado? Uma vez que, para o Professor Cerqueira,
aproximadamente 74% das MVCI registradas no Brasil (de 1996 até 2010) eram
homicídios ocultos. Essa imprecisão pode afetar toda percepção de segurança,
invalidar estudos e colocar em xeque políticas públicas que mostram resultados
positivos na Segurança Pública.
Em suma, o
crescimento das mortes violentas por causa indeterminada dificulta uma melhor
compreensão da evolução da violência letal no Brasil. Pela dimensão desse
crescimento, não está invalidada, por exemplo, a conclusão de que houve uma
queda da taxa de homicídios no Brasil em 2019, mas reduz-se a precisão da
magnitude dessa diminuição. Além disso, os homicídios não computados também
podem afetar os resultados de outras variáveis, reduzindo o nível de confiança
das análises sobre juventude, homens e mulheres, negros e não negros, pessoas
indígenas e homicídios por armas de fogo.
v
Assessor de Coordenador
na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional
Professor de Cursinho pré-vestibular
em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
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