Ítalo do Couto
Mantovani*
A
morte é um dos tabus de nossa sociedade. Temos dificuldade em aceitar e lidar
com a morte, seja de nossos familiares ou de amigos. Estima-se que a cada morte
por homicídio, cinco a dez pessoas são
afetadas social, emocional e economicamente. Entre elas estão: familiares, amigos
e pessoas próximas à vítima. Esses fatos reforçam a urgência por ações de prevenção,
intervenção e suporte ao comportamento nas instituições policiais no país. Uma
vez que o homicídio pode ser pensado como o ápice dessa vulnerabilidade.
Para Secretaria da
Segurança Pública do Estado de São Paulo, a morte de um policial pode ser
classificada por “policiais civis/militares mortos em serviço” ou “policiais
civis/militares mortos de folga”. Por
determinação da lei nº. 9.155 de 1995, combinada com a Resolução nº 516 de 2000
são incluídos dados dos números de policiais mortos/feridos e pessoas
mortas/feridas por policiais, em
que qualquer cidadão pode conferir esses dados em uma publicação
trimestral das ocorrências no Diário Oficial do Estado, bem como a divulgação no site da SSP no prazo
de trinta dias a contar do encerramento do trimestre. Legitimando essa política
de transparência na divulgação de dados, o estado de São Paulo é um dos únicos
estados da Federação a adotar tradicionalmente esta prática facilitando os
estudos sobre criminalidade e violência no Brasil, uma vez que as informações
colhidas em São Paulo têm credibilidade e são públicos. Porém, muitas vezes é
penalizado por falta de uma resposta rápida e eficiente.
Pelos dados do relatório do primeiro trimestre de 2023 o
Estado de São Paulo apresentou 3 policiais mortos em serviço, sendo 1 da
polícia civil e 2 da polícia militar; 2 policiais mortos em folga, 1 de cada
instituição. Agora, os feridos em serviço chegam ao montante de 40 (70% da
polícia civil), e os policiais feridos em folga temos 33 registros realizados
de janeiro a março de 2023, dos quais 14 são da polícia civil e 19 da polícia
militar. Comparando esses dados com o mesmo período de 2022, ou seja, o
primeiro trimestre, encontramos um aumento no número de policiais mortos em
serviço de 2022 para 2023, em 50%. Uma diminuição de 83% em policias mortos em
folga e aumento em ambos indicadores, policiais feridos em serviço e policiais
feridos em folga, de 38 para 40 (+5%) e de 23 para 33 (+43%) respectivamente.
Quando saímos dessa análise macro e partimos apenas para
Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) percebe-se que
temos um policial civil morto em serviço na Região e um policial civil morto de
folga. Um policial militar morto em serviço e nenhum policial morto de folga
nos 39 municípios da Região. A Região com aproximadamente 6% da população do
Estado tem dados alarmantes, confrontando com o primeiro semestre de 2022 a
Região teve 2 policias civis mortos em serviço (aumento em relação ao mesmo
período de 2023), 1 policial civil morto de folga (manteve), nenhum policial
militar morto (queda em semelhança ao primeiro semestre de 2023), mas 1
policial militar morto em dia de folga.
É necessário rever questões e repensar o significado
dessas mortes dentro das corporações. Casos que geram um adoecimento das
policias e por consequência dos policiais. A satisfação profissional pode
contribuir como um fator de proteção emocional, o cuidado com as famílias
enlutadas pode somar positivamente para o amparo ao longo do processo de luto.
A atuação do profissional de saúde mental nesse processo, especialmente quando
existem crianças entre os familiares é fundamental. Como observamos, as mortes produzem
um isolamento social que amplia ainda mais a necessidade de acompanhamento
médico e terapêutico aos familiares sobreviventes. Em suma, é preciso destacar
a urgência de estender esse olhar para os colegas de trabalho dos policiais e
para a tropa como um todo. As entrevistas evidenciam o quanto os policiais se
sensibilizam e vivenciam o luto de seus colegas, seja por suicídio ou por
outras mortes violentas. A perda de um colega por morte violenta é uma dimensão
que merece destaque quando estamos analisando as consequências psicossociais e
individuais dos sobreviventes enlutados. A valorização salarial é apenas um
ponto, mas acompanhamento médico de qualidade e não apenas para seguir o famoso
“protocolo”, um gestor mais “humano”, um comando que entenda a realidade da
base reforçam a
urgência por ações de prevenção, intervenção e suporte ao comportamento nas
instituições policiais do Estado e, por consequência, do país. Precisamos ficar
atentos à saúde mental desses
policiais. O que os dados mostram é que, infelizmente, a saúde mental da
polícia está bastante prejudicada. São essas pessoas que nos protegem, caso não
encontremos saída, por meio de políticas públicas de qualidade, aos mais de 100
mil homens que hoje compõe a Pasta da Secretaria da Segurança Pública, estaremos
fadados ao fracasso e à vista disso “enxugando gelo” no tópico segurança.
v
Assessor de Coordenador
na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional
Professor de Cursinho pré-vestibular
em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
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