quarta-feira, 31 de maio de 2023

A SAÚDE MENTAL DOS POLICIAIS

 


Ítalo do Couto Mantovani*

A morte é um dos tabus de nossa sociedade. Temos dificuldade em aceitar e lidar com a morte, seja de nossos familiares ou de amigos. Estima-se que a cada morte por   homicídio, cinco a dez pessoas são afetadas social, emocional e economicamente. Entre elas estão: familiares, amigos e pessoas próximas à vítima. Esses fatos reforçam a urgência por ações de prevenção, intervenção e suporte ao comportamento nas instituições policiais no país. Uma vez que o homicídio pode ser pensado como o ápice dessa vulnerabilidade.

Para Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, a morte de um policial pode ser classificada por “policiais civis/militares mortos em serviço” ou “policiais civis/militares mortos de folga”. Por determinação da lei nº. 9.155 de 1995, combinada com a Resolução nº 516 de 2000 são incluídos dados dos números de policiais mortos/feridos e pessoas mortas/feridas por policiais, em que qualquer cidadão pode conferir esses dados em uma publicação trimestral das ocorrências no Diário Oficial do Estado, bem como a divulgação no site da SSP no prazo de trinta dias a contar do encerramento do trimestre. Legitimando essa política de transparência na divulgação de dados, o estado de São Paulo é um dos únicos estados da Federação a adotar tradicionalmente esta prática facilitando os estudos sobre criminalidade e violência no Brasil, uma vez que as informações colhidas em São Paulo têm credibilidade e são públicos. Porém, muitas vezes é penalizado por falta de uma resposta rápida e eficiente.

Pelos dados do relatório do primeiro trimestre de 2023 o Estado de São Paulo apresentou 3 policiais mortos em serviço, sendo 1 da polícia civil e 2 da polícia militar; 2 policiais mortos em folga, 1 de cada instituição. Agora, os feridos em serviço chegam ao montante de 40 (70% da polícia civil), e os policiais feridos em folga temos 33 registros realizados de janeiro a março de 2023, dos quais 14 são da polícia civil e 19 da polícia militar. Comparando esses dados com o mesmo período de 2022, ou seja, o primeiro trimestre, encontramos um aumento no número de policiais mortos em serviço de 2022 para 2023, em 50%. Uma diminuição de 83% em policias mortos em folga e aumento em ambos indicadores, policiais feridos em serviço e policiais feridos em folga, de 38 para 40 (+5%) e de 23 para 33 (+43%) respectivamente.  

Quando saímos dessa análise macro e partimos apenas para Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) percebe-se que temos um policial civil morto em serviço na Região e um policial civil morto de folga. Um policial militar morto em serviço e nenhum policial morto de folga nos 39 municípios da Região. A Região com aproximadamente 6% da população do Estado tem dados alarmantes, confrontando com o primeiro semestre de 2022 a Região teve 2 policias civis mortos em serviço (aumento em relação ao mesmo período de 2023), 1 policial civil morto de folga (manteve), nenhum policial militar morto (queda em semelhança ao primeiro semestre de 2023), mas 1 policial militar morto em dia de folga.

É necessário rever questões e repensar o significado dessas mortes dentro das corporações. Casos que geram um adoecimento das policias e por consequência dos policiais. A satisfação profissional pode contribuir como um fator de proteção emocional, o cuidado com as famílias enlutadas pode somar positivamente para o amparo ao longo do processo de luto. A atuação do profissional de saúde mental nesse processo, especialmente quando existem crianças entre os familiares é fundamental. Como observamos, as mortes produzem um isolamento social que amplia ainda mais a necessidade de acompanhamento médico e terapêutico aos familiares sobreviventes. Em suma, é preciso destacar a urgência de estender esse olhar para os colegas de trabalho dos policiais e para a tropa como um todo. As entrevistas evidenciam o quanto os policiais se sensibilizam e vivenciam o luto de seus colegas, seja por suicídio ou por outras mortes violentas. A perda de um colega por morte violenta é uma dimensão que merece destaque quando estamos analisando as consequências psicossociais e individuais dos sobreviventes enlutados. A valorização salarial é apenas um ponto, mas acompanhamento médico de qualidade e não apenas para seguir o famoso “protocolo”, um gestor mais “humano”, um comando que entenda a realidade da base reforçam a urgência por ações de prevenção, intervenção e suporte ao comportamento nas instituições policiais do Estado e, por consequência, do país. Precisamos ficar atentos à saúde mental desses policiais. O que os dados mostram é que, infelizmente, a saúde mental da polícia está bastante prejudicada. São essas pessoas que nos protegem, caso não encontremos saída, por meio de políticas públicas de qualidade, aos mais de 100 mil homens que hoje compõe a Pasta da Secretaria da Segurança Pública, estaremos fadados ao fracasso e à vista disso “enxugando gelo” no tópico segurança.

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

 

 

 

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