quinta-feira, 24 de novembro de 2022

AS GUARDAS MUNICIPAIS E A REPRODUÇÃO DA IMAGEM INSTITUCIONAL DAS PMs

 



 

Ítalo do Couto Mantovani*

            O Brasil, nos últimos dois séculos, vive pela terceira vez o debate sobre o papel das Guardas Civis. Um infundado impasse sempre é colocado a respeito do papel das guardas municipais no Brasil, como se só houvessem apenas dois caminhos que pudessem ser seguidos:  a guarda como uma nova polícia ostensiva, de combate ao crime, ou a guarda exclusivamente como cuidadora dos bens municipais. Debate raso, uma vez que o papel das guardas municipais é muito mais amplo e diz respeito à forma como o Brasil lidará com a violência daqui em diante. 

            A ausência de conhecimento, experiências e metodologias sistematizadas deixa o espaço aberto para a reprodução da imagem institucional e organizativa das PMs, ou seja, sistematiza as perspectivas para o trabalho recorrente dos agentes de segurança pública. Essa simplicidade tanto no campo do conhecimento quando no debate de políticas públicas deve à visão que impera no país, em que a atividade policial limita-se como ações reativas pós-crime, sejam elas em atendimento de emergências, combate armado ou investigação, todas, de modo geral, voltadas a realizar a prisão de criminosos. Isso não é exclusivo de alguns municípios, desde os anos 1990 diversos municípios têm exercido esforços no sentido de reduzir a violência, que incluem desde o controle de venda de bebida alcoólica até a fiscalização e cumprimento das leis de trânsito. Mas os nossos poderes executivo e legislativo municipal têm que compreenderem que a Guarda Civil Municipal tem uma importância muito maior para o futuro da democracia e da percepção de segurança de cada munícipe.

            Prova dessa ausência de conhecimento e de que não há como colocar limites para cada tipo de polícia são os dados apenas de setembro do Estado de São Paulo. A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo tem como orçamento previsto para 2022 aproximadamente 24 bilhões de reais e os dados são alarmantes. Pindamonhangaba com investimentos elevados em segurança (pela Lei Orçamentaria de 2022 o investimento chegará na casa dos 28,9 milhões de reais), com uma secretaria específica e até mesmo com uma guarda montada nas características da PM (até canil) não tem indicadores criminais baixos. Em 2022 nosso município registrou até setembro 26 vítimas de homicídios dolosos, o ano de 2021 inteiro o número foi de 29, em furto de veículos estamos até setembro com 77 furtos, contra 115 no ano de 2021. Segurança Pública não é cada um fazendo o seu, cuidando da sua área, mas sim um união, conversa e debate para construção de políticas públicas que englobem o bem-estar de todos e todas. Grande exemplo dessa individualidade é o uso de câmeras nas cidades, ao fazer isso a criminalidade migra para as regiões em que não há essa tecnologia e até mesmo para municípios vizinhos mais carentes de recurso.

            Algumas saídas para essa diminuição estão em um planejamento urbano mais específico, em qual há um estudo de impacto de segurança pública na cidade, prevendo que a Guarda Municipal possa realizar estudo de impacto de segurança pública. Assim, há uma contribuição efetiva para a prevenção de violência. No município de Canoas (RS) o estudo de impacto foi implementado e coordenado pela Guarda Municipal, orientada por outras Secretarias e até uma bonificação foi criada. No mesmo município, foi criado o Sistema Municipal de Prevenção À Violência Escolar. O sistema tem enfoque especializado em crianças, adolescentes e jovens adultos, e é coordenado e executado na maioria de suas ações pela guarda municipal, articulado com as demais políticas sociais do município.

            Guardas municipais, prefeitos, os policiais militares e civis e o conjunto da sociedade devem encarar os desafios necessários para construir uma nova visão de segurança pública no Brasil, mais abrangente, integrada, multidisciplinar e orientada por evidências, superando a eterna busca de soluções mágicas e imediatas. Como se buscou demonstrar, entre os vigilantes prediais e os policiais existe um imenso universo, que pode (e deve) ser ocupado pelas guardas municipais, não só respeitando a Constituição, como fortalecendo os seus princípios.  Superando as tentações da tradição e tendo a ousadia da inovação, talvez seja possível abandonar o “mais do mesmo” e dar passos mais sólidos para superar a violência no país.

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

 

 

 

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