Ítalo Mantovani*
Ao longo das
últimas décadas, a sociedade brasileira desfrutou da redução da pobreza com
aprofundamento na experiência cidadã da participação democrática. Mesmo com
essa redução as desigualdades persistem. Desde modo, o baile funk vira uma
atividade de cultura, para um segmento da população, movimentando a economia
periférica, uma vez que não há cobrança de ingressos e os eventos movidos com
aparelhagem de som atraem milhares de pessoas, sobretudo jovens, entre quinta e
domingo, como em Paraisópolis, que nove jovens, entre 14 e 23 anos morreram na
madrugada do dia 01 de dezembro.
Com a crise, o
auge do baile funk (em salão, com entrada paga e um MC) teve fim, agora os
donos de carros com aparelhagem de som no custo de até 30 mil reais, que se
espalham pelas ruas são que comandam as músicas. Normalmente, o fluxo acontece
de quinta a domingo, a partir das 22h, nas ruas de comércio da periferia ou
comunidades. Festas que começam com pequenos grupos ao redor de um carro e
logo, esses frequentadores começam a disseminar a festa por meio das redes
sociais. Não há ingressos, nenhum gasto é obrigatório. O jovem, com dinheiro ou
sem, consegue se divertir. Pelo Jornal o Estadão, os responsáveis por esses
bailes são os donos dos carros, que customizam gastando entre 20 e 30 mil reais
e cobram até 400 reais por festa. Como elas acontecem de quinta a domingo, os
rendimentos chegam em 1.600 reais. Esse pagamento vem dos comerciantes, pois os
comerciantes ganham dinheiro vendendo cerveja, cachorro-quente, torta e até o
uso do banheiro. Esse fluxo movimenta também o mercado de beleza, ou seja, os
pancadões além de proporcionar lazer para um determinado tipo de população
movimenta a economia dos locais em que ocorrem.
Esses pancadões
ganharam mais destaque na mídia no primeiro dia de dezembro, devido aos
policiais do 16º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) que
realizavam uma operação pancadão na região, quando dois homens em uma
motocicleta atiraram contra os agentes e a moto fugiu em direção ao baile funk,
ainda efetuando disparos, o que teria ocasionado um tumulto que terminou com a
morte de noves garotos com idade entre 14 e 23 anos. Não sendo o primeiro caso,
em 1997 aconteceu outro marco na história da Policia Militar paulista, o caso
da Favela Naval, em que uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo,
exibiu uma reportagem com gravações amadoras de policiais militares cometendo
abusos contra a população da favela Naval, em Diadema, na Grande São Paulo.
A policia hoje
não é mais a de antes da favela Naval, ela é muito mais profissional,
trabalhando em função da Constituição Federal e os Direitos Humanos. Mas, há
ainda uma grande diferença entre aquilo que o currículo formal e o que é
informal, ou seja, a diferença do que é ensinado na academia e o que é
aprendido na rua. Prova desse currículo informal é os dados oficiais indicando
que a violência policial tem aumentado nos últimos anos em São Paulo. A
Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo mostrou que em 2017 o estado
teve o maior numero de policiais mortos pela polícia paulista desde 2000, com
878 mortes derivadas de intervenções policiais e em 2018 foram 821. Na
segunda-feira (2), pouco depois das mortes em Paraisópolis, o governador do
estado afirmou que a letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, mas sim
por bandidos que invadiram a área do baile funk. Após a repercussão negativa,
Doria disse que estava “chocado” com as imagens e afirmou que a Secretaria da
Segurança Pública foi orientada a identificar procedimentos que possam melhorar
a ação das polícias.
A
fala do governador, das policias, dos moradores de comunidades e vizinhanças
são de suma importância, e fazem o evento voltar à mira de autoridades. Esse
gênero de música ocupa lugar central na identidade da juventude não apenas da
periferia. Desde 2017, o governo do estado de São Paulo, por meio de um
decreto, deu poder a Polícia Militar a reprimir eventos de funk. Segundo a
Secretaria da Segurança, entre janeiro e dezembro de 2019 já foram realizadas
mais de 7.500 operações em pancadões, prendendo mais de 1.275 pessoas e só em
uma operação na zona leste foram 131 carros apreendidos. O que temos que entender é que a culpa não é
da Segurança Pública, mas sim da ineficiência dos gestores públicos, os locais
que ocorrem os pancadões muitas vezes, quase todas, não há centros culturais,
museus, cinemas, teatros e muitas vezes cultura especifica para realidade da
população local. Os eventos suprem uma necessidade em que nossa política, nosso
estado não chega a fornecer. Não adianta exigir da segurança se a educação, a
cultura, a saúde e até a assistência social estão em falta com determinadas
áreas. Precisa-se na realidade gestores públicos que enxerguem todos e todas
com os mesmos olhos, mas com as suas diferenças e características especificas,
realizando assim, políticas públicas especificas para cada um e uma.
v Assessor
de Gabinete na Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestrando em Gestão e
Desenvolvimento Regional
Professor de Cursinho
pré-vestibular em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
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