Resultado positivo da aprendizagem escolar deve
ser celebrado e devotado o mérito ao autor – estudante e seu mentor –
professor, bem como à equipe pedagógica e gestora. Quando o cenário é negativo,
incluindo o comportamento do estudante, apontar um culpado sem avaliação
detalhada é um erro administrativo, pedagógico e moral. Nem sempre a culpa do
resultado negativo da aprendizagem é de responsabilidade da pessoa em si mesma,
cabendo análise da condição de saúde do estudante e trajetória escolar
percorrida, bem como avaliação diagnóstica da forma que o estudante aprende e a
forma que a escola ensina.
Não é raro identificar descompasso ou
ausência de práticas voltadas à psicomotricidade no ambiente escolar de modo
esclarecido e intencional, sobretudo no período dos anos dourados do
desenvolvimento psicomotor, dos 0 aos 08 e 09 anos de idade, sendo desenvolvida
e aplicada em maior ou menor intensidade ao longo da vida; para cada faixa
etária, promover-se-á conexão cognitiva, motor e emocional, por meio de
atividades lúdicas diversificadas e sistêmicas. Parafraseando Jean Claude Coste
(1981) – somos o nosso corpo, em uma junção de pensamento, emoção e
motricidade. “O homem é seu corpo e NÃO – o homem e seu corpo”.
Concebe-se a psicomotricidade como
uma área interdisciplinar que estuda a conexão entre corpo e mente, em um movimento
integrador. É compreendida também como campo transdisciplinar que estuda e
investiga as influências recíprocas entre o psiquismo e a motricidade, ou seja,
uma íntima influência entre o que pensamos – sentimos e fazemos. No início do
século XX estava restrita à abordagem clínica, desdobrando-se em campo
educacional na segunda metade do século XX. É introduzida no Brasil na década
de 1970 com práticas voltadas para a reeducação e educação psicomotora. É
regulamentada como profissão por meio do decreto – Lei nº: 13.794 de 03 de
janeiro de 2019, garantindo ao profissional psicomotricista direito de
avaliação e intervenção nas áreas da saúde, educação e reabilitação.
Ciente do limite de contingente dos
profissionais da educação nas escolas, não custa nada sonhar com a presença de
um profissional psicomotricista em cada unidade escolar de Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para amenizar a escassez desse
profissional no ambiente escolar, o próprio professor regente, referindo-se ao
campo da educação infantil, já recebe formação acadêmica em sua graduação de
Pedagogia. Frágil realidade e argumento, é verdade, devido a uma baixa carga
horária da disciplina no tempo da graduação, resultando não raras vezes em precário
aprofundamento conceitual sobre coordenação motora ampla e fina, lateralidade,
equilíbrio, estruturação espacial, orientação temporal, ritmo e esquema
corporal; elementos estes que tornam a educação genuinamente motora.
Ao órgão regulador do magistério
federal, estadual e municipal, ou, mantenedor, cabe proporcionar capacitação
contínua, de modo que o profissional professor, capacitado tecnicamente e
embebido de vontade de ensinar, jamais permita que uma criança finalize a etapa
de ensino desprovida da aprendizagem esperada, sobretudo na educação infantil. Tenhamos
como exemplo uma pessoa sem necessidade educacional especial que não consegue
passar facilmente uma linha pela agulha ou colocar a chave no tambor da
fechadura; isso não representa exclusivamente um problema de visão, mas pode
ser uma dificuldade de coordenação motora fina não trabalhada na educação
infantil, da qual um profissional psicomotricista pode atuar com avaliação
diagnóstica e reeducação psicomotora.
Implantar Educação Física na
Educação Infantil também ajudaria muito no assunto, bem como aquisição de
equipamentos e infraestrutura adequados para essa etapa de ensino, além de
ampliação da carga horária de psicomotricidade na licenciatura em Pedagogia. Um
olhar atento para o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo da criança é
fundamental por parte do professor e responsável legal, a fim de que a
engrenagem motora, cognitiva e afetiva seja consolidada, garantindo totais
condições da criança se desenvolver. Psicomotricidade no ambiente escolar de
modo completo é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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