quarta-feira, 12 de março de 2025

Educação psicomotora: contribuições e desafios no processo de aprendizagem escolar



             Resultado positivo da aprendizagem escolar deve ser celebrado e devotado o mérito ao autor – estudante e seu mentor – professor, bem como à equipe pedagógica e gestora. Quando o cenário é negativo, incluindo o comportamento do estudante, apontar um culpado sem avaliação detalhada é um erro administrativo, pedagógico e moral. Nem sempre a culpa do resultado negativo da aprendizagem é de responsabilidade da pessoa em si mesma, cabendo análise da condição de saúde do estudante e trajetória escolar percorrida, bem como avaliação diagnóstica da forma que o estudante aprende e a forma que a escola ensina.

            Não é raro identificar descompasso ou ausência de práticas voltadas à psicomotricidade no ambiente escolar de modo esclarecido e intencional, sobretudo no período dos anos dourados do desenvolvimento psicomotor, dos 0 aos 08 e 09 anos de idade, sendo desenvolvida e aplicada em maior ou menor intensidade ao longo da vida; para cada faixa etária, promover-se-á conexão cognitiva, motor e emocional, por meio de atividades lúdicas diversificadas e sistêmicas. Parafraseando Jean Claude Coste (1981) – somos o nosso corpo, em uma junção de pensamento, emoção e motricidade. “O homem é seu corpo e NÃO – o homem e seu corpo”.

            Concebe-se a psicomotricidade como uma área interdisciplinar que estuda a conexão entre corpo e mente, em um movimento integrador. É compreendida também como campo transdisciplinar que estuda e investiga as influências recíprocas entre o psiquismo e a motricidade, ou seja, uma íntima influência entre o que pensamos – sentimos e fazemos. No início do século XX estava restrita à abordagem clínica, desdobrando-se em campo educacional na segunda metade do século XX. É introduzida no Brasil na década de 1970 com práticas voltadas para a reeducação e educação psicomotora. É regulamentada como profissão por meio do decreto – Lei nº: 13.794 de 03 de janeiro de 2019, garantindo ao profissional psicomotricista direito de avaliação e intervenção nas áreas da saúde, educação e reabilitação.

            Ciente do limite de contingente dos profissionais da educação nas escolas, não custa nada sonhar com a presença de um profissional psicomotricista em cada unidade escolar de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para amenizar a escassez desse profissional no ambiente escolar, o próprio professor regente, referindo-se ao campo da educação infantil, já recebe formação acadêmica em sua graduação de Pedagogia. Frágil realidade e argumento, é verdade, devido a uma baixa carga horária da disciplina no tempo da graduação, resultando não raras vezes em precário aprofundamento conceitual sobre coordenação motora ampla e fina, lateralidade, equilíbrio, estruturação espacial, orientação temporal, ritmo e esquema corporal; elementos estes que tornam a educação genuinamente motora.

            Ao órgão regulador do magistério federal, estadual e municipal, ou, mantenedor, cabe proporcionar capacitação contínua, de modo que o profissional professor, capacitado tecnicamente e embebido de vontade de ensinar, jamais permita que uma criança finalize a etapa de ensino desprovida da aprendizagem esperada, sobretudo na educação infantil. Tenhamos como exemplo uma pessoa sem necessidade educacional especial que não consegue passar facilmente uma linha pela agulha ou colocar a chave no tambor da fechadura; isso não representa exclusivamente um problema de visão, mas pode ser uma dificuldade de coordenação motora fina não trabalhada na educação infantil, da qual um profissional psicomotricista pode atuar com avaliação diagnóstica e reeducação psicomotora.

            Implantar Educação Física na Educação Infantil também ajudaria muito no assunto, bem como aquisição de equipamentos e infraestrutura adequados para essa etapa de ensino, além de ampliação da carga horária de psicomotricidade na licenciatura em Pedagogia. Um olhar atento para o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo da criança é fundamental por parte do professor e responsável legal, a fim de que a engrenagem motora, cognitiva e afetiva seja consolidada, garantindo totais condições da criança se desenvolver. Psicomotricidade no ambiente escolar de modo completo é possível e é para hoje!

            Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia, Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.

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