terça-feira, 16 de junho de 2020

PASSADO ESCRAVISTA E SUA INFLUÊNCIA NA SEGURANÇA PÚBLICA


Ítalo Mantovani*
Toda geração acredita estar vivendo uma grande mudança, e a nossa não é diferente. O cenário de violência instalado nas médias e grandes cidades brasileiras é um fenômeno que ultrapassa as fronteiras da questão da criminalidade, e instaura um discurso no âmbito político, de profundas implicações sociais, que requer reformas estruturais na economia, mudanças na sociedade e, principalmente, autocontrole e regulação das instituições vinculadas à segurança pública.
            Não há mais espaço para pensar as organizações policiais apenas como instrumento das políticas públicas excludentes. Ou seja, não se pode entendê-las como expressões de um determinado nível de intervenção do Estado na área de segurança, a privilegiar tão somente um segmento social, mas, sim, como respostas às necessidades de proteção da sociedade como um todo, na medida em que a violência, quer dizer, a insegurança social, atinge todos indistintamente na sociedade.
            A arquitetura institucional da segurança pública brasileira é herdada da Ditadura Civil Militar (1964-1985), e permaneceu intocada nesses trinta anos de vigência da Constituição Cidadã (1988), impediu a democratização da área e sua modernização. Esse imobilismo contrasta com o dinamismo acelerado quem vem caracterizando o país nesses últimos 20 anos. Em outras palavras, a transição democrática não se estendeu ao campo da segurança pública, até hoje confinado em estruturas organizacionais incompatíveis com as exigências de uma sociedade moderna, em constante mudança e complexa como a brasileira.
            Esse assunto, sobre a mudança na estrutura da segurança pública, aflora novamente devido ao assassinato de George Floyd, em 25 de maio de 2020 nos Estados Unidos. Um afro-americano que, na versão dos policiais, estava tentando passar uma nota falsa de 20 dólares. Com isso, um dos policiais de Minneapolis, Minnesota, se ajoelha sobre o pescoço de Floyd, por aproximadamente 9 minutos, o sufocando e o levando a óbito. Uma autópsia oficial não encontrou qualquer indicação de que Floyd tenha morrido por estrangulamento ou asfixia traumática; no relatório preliminar, considerou que provavelmente tenha morrido devido aos efeitos combinados da imobilização, condições de saúde subjacentes. Contudo o relatório final concluiu que Floyd morreu devido à asfixia.
            Após esse episódio, triste para segurança pública, o mundo explodiu em manifestações contra as policias, suas abordagens e principalmente a igualdade racial nas abordagens. Uma vez que, o tratamento dado às pessoas afro é totalmente diferente dada às outras pessoas.  No Brasil isso não é diferente, a escravidão é o nosso berço. Para o Padre Antônio Vieira (missionário jesuíta na Bahia, 1691), afirma que o Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África. O Brasil foi o maior território escravista do Hemisfério Ocidental; recebendo sozinho 40% do total de 12,5 milhões de africanos cativos embarcados para a América (aproximadamente 4 milhões). Esse passado escravista, desigual e racista faz com que hoje, um homem negro tenha oito vezes mais chances de ser vítima de homicídio no Brasil que um homem branco. 

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