A matemática enquanto ciência e disciplina
escolar têm se revelado um fenômeno psicossocial na sociedade brasileira. Sob a
perspectiva social a matemática é compreendida como linguagem universal, alicerce
do desenvolvimento humano, profissional, e responsável pelo progresso da
sociedade, apresentando, no entanto, indicadores educacionais abaixo do
esperado em cada etapa de ensino (PISA, 2022; SAEB, 2023); sob a perspectiva
psicológica, é concebida como importante, mas assumida com baixa resiliência,
de difícil resolução e aplicabilidade no cotidiano, tornando-se um espectro
estereotipado de natureza ruim. Paradoxalmente, um mal a ser ignorado e
esquecido, revelando existir uma programação mental de repúdio à matemática, de
influência cultural de geração em geração, que a sepulta a cada operação
matemática não aprendida, mantendo-se viva apenas para quem tem aptidão e
predisposição a aprender cálculo.
Nas ciências exatas não há meio
termo para a verdade, no sentido de resultado final. Ou é exato e verdadeiro,
ou está errado e falso, embora essa cosmovisão positivista não abarque a
totalidade da existência humana. Errar uma conta matemática na escola, além de
reforçar uma programação mental de repúdio, não gera a dopamina necessária para
atender os ditames da ditadura da felicidade da sociedade moderna, mantendo-se
como desafio a ser evitado. Também é importante destacar que análises dos baixos
resultados da prova de matemática do Pisa (2022) apontam inabilidade do estudante
no ato de interpretar o enunciado da questão e realizar uma leitura conjuntural
do assunto, utilizando-se de raciocínio lógico Inter e transdisciplinar. Ou
seja, o problema da matemática é resultante do problema da língua portuguesa.
Os
números, portanto, tornam-se o início e o fim da realidade. Para Galileu Galilei
(1564-1642), físico e astrônomo, toda a realidade era matemática, em
quantidade, forma e medida, começando pelos membros do corpo humano (dois
olhos, um nariz, dois pés, duas mãos, etc.), até a quantidade e forma dos
astros. Cabe destacar que a matemática está presente em afazeres diários
comuns, que, ao se sofisticar, imprimem caráter profissional. Ao ser vivenciada
e estimulada como importante e útil, poder-se-á reverberar entusiasmo para as
novas gerações. Um adulto que goste da matemática, ou a pratique bem, será um
promissor influenciador de estudantes.
O estudo e prática da matemática
contribui com o estímulo à descoberta, favorece a autonomia, facilita a vida
cotidiana, desenvolve o raciocínio lógico e ajuda na concentração; exige, por
sua vez, desbloqueio mental para com a disciplina, deixando de acreditar que é
preciso ter um talento especial, ou que não tem aplicação prática, ou é
inacessível por ser assumida de modo abstrata, restrita à combinação de
fórmulas e números. O trivial de ensino colaborativo e abordagem
individualizada amplia a capacidade de pensar de forma abstrata e lógica, tornando
possível a aplicação da matemática em situações da vida real.
O contexto educacional brasileiro de
baixo rendimento em aprendizagem de conhecimentos matemáticos oportuniza
revisão de método de ensino, procedimentos didáticos e formação cultural
voltados mais fortemente para a pesquisa, não somente para a matemática, mas
para todas as áreas da base nacional comum curricular (BNCC, 2017). Quando for
deixado a prática abstrata da análise de números em sala de aula, passando a
adotar a prática da matemática visual, desde contagem nos dedos, até a
utilização de desenhos e materiais concretos, as relações entre os estudantes
tornar-se-ão horizontais, sem classe social, permitindo que todos se sintam em
condições de opinar sobre o problema matemático.
Uma
nova formação cultural de apreço ao conhecimento matemático é possível, à
medida que haja domínio teórico dos conceitos fundamentais, estímulo coletivo
escolar e familiar ao estudo, resolução de problemas matemáticos do cotidiano,
e visualização e reconhecimento da utilidade prática da matemática,
compreendendo-a não mais como um desafio, mas como uma paixão, que pode virar
amor. Em suma, se sozinha a matemática não consegue desenvolver pessoas e
sociedades, tão pouco sem ela é possível. Condições escolares adequadas para o estudo
em matemática e formação cultural em matemática é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário