quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

O idioma matemática: espectro do pensamento complexo na educação básica

             A matemática enquanto ciência e disciplina escolar têm se revelado um fenômeno psicossocial na sociedade brasileira. Sob a perspectiva social a matemática é compreendida como linguagem universal, alicerce do desenvolvimento humano, profissional, e responsável pelo progresso da sociedade, apresentando, no entanto, indicadores educacionais abaixo do esperado em cada etapa de ensino (PISA, 2022; SAEB, 2023); sob a perspectiva psicológica, é concebida como importante, mas assumida com baixa resiliência, de difícil resolução e aplicabilidade no cotidiano, tornando-se um espectro estereotipado de natureza ruim. Paradoxalmente, um mal a ser ignorado e esquecido, revelando existir uma programação mental de repúdio à matemática, de influência cultural de geração em geração, que a sepulta a cada operação matemática não aprendida, mantendo-se viva apenas para quem tem aptidão e predisposição a aprender cálculo.

            Nas ciências exatas não há meio termo para a verdade, no sentido de resultado final. Ou é exato e verdadeiro, ou está errado e falso, embora essa cosmovisão positivista não abarque a totalidade da existência humana. Errar uma conta matemática na escola, além de reforçar uma programação mental de repúdio, não gera a dopamina necessária para atender os ditames da ditadura da felicidade da sociedade moderna, mantendo-se como desafio a ser evitado. Também é importante destacar que análises dos baixos resultados da prova de matemática do Pisa (2022) apontam inabilidade do estudante no ato de interpretar o enunciado da questão e realizar uma leitura conjuntural do assunto, utilizando-se de raciocínio lógico Inter e transdisciplinar. Ou seja, o problema da matemática é resultante do problema da língua portuguesa.

Os números, portanto, tornam-se o início e o fim da realidade. Para Galileu Galilei (1564-1642), físico e astrônomo, toda a realidade era matemática, em quantidade, forma e medida, começando pelos membros do corpo humano (dois olhos, um nariz, dois pés, duas mãos, etc.), até a quantidade e forma dos astros. Cabe destacar que a matemática está presente em afazeres diários comuns, que, ao se sofisticar, imprimem caráter profissional. Ao ser vivenciada e estimulada como importante e útil, poder-se-á reverberar entusiasmo para as novas gerações. Um adulto que goste da matemática, ou a pratique bem, será um promissor influenciador de estudantes.

            O estudo e prática da matemática contribui com o estímulo à descoberta, favorece a autonomia, facilita a vida cotidiana, desenvolve o raciocínio lógico e ajuda na concentração; exige, por sua vez, desbloqueio mental para com a disciplina, deixando de acreditar que é preciso ter um talento especial, ou que não tem aplicação prática, ou é inacessível por ser assumida de modo abstrata, restrita à combinação de fórmulas e números. O trivial de ensino colaborativo e abordagem individualizada amplia a capacidade de pensar de forma abstrata e lógica, tornando possível a aplicação da matemática em situações da vida real.

            O contexto educacional brasileiro de baixo rendimento em aprendizagem de conhecimentos matemáticos oportuniza revisão de método de ensino, procedimentos didáticos e formação cultural voltados mais fortemente para a pesquisa, não somente para a matemática, mas para todas as áreas da base nacional comum curricular (BNCC, 2017). Quando for deixado a prática abstrata da análise de números em sala de aula, passando a adotar a prática da matemática visual, desde contagem nos dedos, até a utilização de desenhos e materiais concretos, as relações entre os estudantes tornar-se-ão horizontais, sem classe social, permitindo que todos se sintam em condições de opinar sobre o problema matemático.

Uma nova formação cultural de apreço ao conhecimento matemático é possível, à medida que haja domínio teórico dos conceitos fundamentais, estímulo coletivo escolar e familiar ao estudo, resolução de problemas matemáticos do cotidiano, e visualização e reconhecimento da utilidade prática da matemática, compreendendo-a não mais como um desafio, mas como uma paixão, que pode virar amor. Em suma, se sozinha a matemática não consegue desenvolver pessoas e sociedades, tão pouco sem ela é possível. Condições escolares adequadas para o estudo em matemática e formação cultural em matemática é possível e é para hoje!

            Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia, Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.

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