quinta-feira, 12 de novembro de 2020

CÂMERAS DE SEGURANÇA TRAZEM MAIS SEGURANÇA?

 


 

Ítalo Mantovani*

 

            Os candidatos a prefeito, inclusive de Pindamonhangaba, anunciaram que pretendem instalar algumas câmeras em espaços públicos da cidade para inibir a ocorrência de crimes. A ideia é que todos os equipamentos estejam em funcionamento até o fim da nova gestão, ou seja, em 2024.Surge assim, uma pergunta que coloca em dúvida a cabeça de muitos munícipes, será que a medida é mesmo eficaz? Ela pode ajudar a reduzir índices de violência? Ou o plano seria um paliativo apresentado pela administração de um político que tenta consolidar a marca de “realizador” logo no começo da sua gestão?

            O projeto, que muitas vezes, inclui ainda a utilização de equipamentos particulares – em residências e estabelecimentos comerciais – para integrar o sistema público de vigilância, que ficará sob os cuidados da GCM (Guarda Civil Metropolitana), da prefeitura, e que será compartilhado com as polícias civil e militar, do governo estadual. O próprio uso de câmeras privadas gera controvérsia a respeito dos limites da privacidade dos cidadãos. Desde 2014, o governo do Estado também utiliza pontos particulares de vigilância por vídeo em seu sistema de monitoramento “inteligente” (que cruza as imagens com um banco de dados para rastrear placas de veículos e rostos), chamado de “Detecta”. Nesse sentido, o que o município fará é ampliar tais parcerias entre poder público e setor privado.

            Temos que entender que as câmeras podem servir para muitos objetivos, como para segurança, ao dar resposta a guarda ou a polícia. Mas, essa não pode ser a missão específica dessas câmeras, elas têm que ter uma incumbência de integração com outras áreas do poder público, isto é, o acesso de outros órgãos municipais ao sistema de monitoramento. Um grande exemplo é a utilização da vigilância eletrônica para combater pontos de descarte irregular de entulho, um delito que está cada vez mais comum em nossa cidade.

            As câmeras por si só não resolvem o problema de segurança. A prefeitura precisa ainda ter o cuidado no uso das imagens e no local de colocação delas, para que não violem a privacidade das pessoas. O tipo de monitoramento vai ser feito tem que ser pensado e cuidadosamente elaborado. Além, temos que pensar no aspecto da gravação, do armazenamento e da utilização dos vídeos gerados pelos equipamentos privados. A quem essas imagens pertencem? Quem as armazena? E por quanto tempo? Além disso, quem autoriza o uso das gravações privadas?

            Políticas Públicas precisam ser pensadas com a participação de todos, precisamos debater com a sociedade a distribuição das câmeras. Dúvidas como a abrangência do monitoramento, se elas contemplarão bairros mais distantes do centro, onde os índices de roubo estão em alta, ou se ficarão adstritas principalmente ao centro expandido, precisam ser discutidos. Contudo, precisamos ouvir principalmente a polícia e utilizar estatísticas que justifiquem a instalação dos equipamentos em função de uma lógica de segurança pública. Pois, para muitos há o senso de que a eficácia da instalação de câmeras pode reduzir crimes urbanos. Na própria cidade de São Paulo, conforme a entidade, já existe uma câmera de vigilância a cada oito habitantes – proporção alta, em comparação com outras grandes cidades do mundo. E isso não fez da capital paulista uma cidade muito mais segura. Provando que não é quantidade, mas a qualidade do serviço prestado ao cidadão, com respeito ao seu voto e principalmente ao seu imposto pago.

 

v  Assessor de Coordenador na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.co

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