segunda-feira, 25 de maio de 2020

O INIMIGO INVÍSIVEL



Ítalo Mantovani*

Ultimamente, tem se falado muito em enfermeiros, médicos, nos auxiliares de enfermagem. Profissionais da saúde que estão na linha de frente ao combate do coronavírus, são muito importantes, mas nossos policiais também estão à frente dessa pandemia. Em alguns estados lidando com lockdown, em outros estados com regras menos rígidas, mas cumprindo o dever de servir e proteger todos os cidadãos.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública e a Faculdade Getúlio Vargas realizaram um uma pesquisa intitulada: “Covid-19 e os Policiais Brasileiros”. Um questionário aplicado de maneira online, para 1.540 profissionais da área da segurança pública (Polícia Militar, Polícia Civil, Policia Federal e Guardas Municipais) de todo o território brasileiro, entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020. A pesquisa conseguiu fazer a separação entre o Estado de São Paulo (epicentro da epidemia) e os demais estados da federação.
O resultado mostra que o medo é um sentimento comum para todos os policiais que atuam na linha frente, uma vez que menos predominante nos profissionais da segurança pública do Estado de São Paulo em comparação com as outras unidades federativas. Segundo os dados obtidos, 59,7% dos policiais civis e militares do Estado de São Paulo sentem medo de contrair ou ter algum familiar contaminado pelo coronavírus, um percentual menor do que entre os policiais de outros estados que chega aproximadamente a 70%. Para alguns pesquisadores a policia de São Paulo apresenta esse percentual menor, devido a uma organização mais estruturada e um preparo melhor que outros estados e também, o vírus está há mais tempo no Estado de São Paulo que em outros estados. Percepção que reflete nos resultados sobre a sensação de segurança em lidar com a pandemia, enquanto em são Paulo 40% dos policiais se sentem seguros, o restante do país chega a 30%.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo vem trabalhando incansavelmente para que esse resultado melhore e os policias se sintam mais seguros. De acordo com a própria pesquisa, 46% dos policiais do Estado de São Paulo relatam ter recebido materiais de proteção individual e coletiva adequados para trabalhar na pandemia, contra 32% no resto do país. Além de que, 34% dos policiais paulistas adquiriram algum treinamento contra o coronavírus. Por outro lado, apenas 15,4% dos policiais, de outros estados, afirmam ter recebido algum tipo de treinamento.
Apesar de sentirem menos medo, terem recebido treinamento e materiais adequados, a vulnerabilidade dos nossos policiais na exposição ao vírus é alta. Pela pesquisa, 55% dos policiais de São Paulo relatam que conhecem algum familiar ou colega que se contaminou com o vírus. Nos outros estados a porcentagem é de 40,8%. Um levantamento rápido no portal da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo mostra que no primeiro trimestre de 2019 5 policiais (2 policiais civis e 3 policiais militares) foram mortos em serviço ou dia de folga.  Pelo Covid-19, já há registrado 11 mortes de policiais (5 civis e 6 militares) apenas no Estado de São Paulo, no Brasil o montante chega a 69. Uma pesquisa recente da Ponte (jornalismo independente) questionou os dez estados (São Paulo, Amazonas, Pará, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Bahia, Paraná e Minas Gerais) com mais casos da Covid-19 na população e expôs que quase 5 mil policiais estão afastados em São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas e Pernambuco; os outros 6 estados se recusaram a apresentar números. São Paulo relata que aproximadamente 0,7% de sua tropa esta afastada preventivamente por causa da Covid-19, correspondem a cerca de 810 agentes.
Não tem como ser diferente. Os policiais estão 24 horas no trabalho, parte deles realizam abordagens. É contato físico, “não tem como fugir”. Agora, se não usam máscaras, não usam álcool em gel, não adotam medidas de cautela entre eles, pois não há treinamento nem distribuição do material de proteção para atuar na pandemia, a segurança fica doente e o problema é maior para toda sociedade. A pergunta que devemos fazer não é quanto tudo isso vai acabar, mas: o que acarreta um policial ter coronavírus, meio a uma crise que se instaura? Lutar contra esse vírus pode se tornar uma provação assustadora. O isolamento, a solidão de um lado, do outro a família, apreensiva, aflita e esperançosa com o retorno. Todo policial é filho, pai, mãe, irmão, tio, avô e amigo. Tem uma história para contar, um plano para viver. Que buscam sentidos muitas vezes em sua profissão. Essa é a vida. O isolamento poupa vidas, e ajuda a segurança. Nossos policiais têm família, precisam voltar para casa sãos e salvos. Pense no próximo, pense em todos, pense na policia. Ela está nas ruas para servir e proteger para ficarmos bem em nossas casas.


v  Assessor de Gabinete na Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP
Mestre em Desenvolvimento Regional
Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com






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