A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade
da educação básica que permite ao estudante retornar e concluir os estudos.
Tornou-se um direito na década de 1930 com reforço midiático por meio de campanhas
nacionais de 1940 a 1970. Continua vigente na legislação educacional, amparado
em políticas públicas subsidiárias. A EJA em sua história e atualidade, não
obstante, sob uma perspectiva crítica, tem refletido a educação nacional, tanto
sob a ótica de baixo orçamento, de resultados pedagógicos medianos, arcabouço
legal não completamente implementado, quando não inoperante, e não menos
importante, de baixo valor moral, como se não fosse importante.
Dados do Censo de 1890 apontam a
existência de 85,21% de pessoas iletradas no Brasil. Relevado o contexto
histórico de transição do regime imperial para o republicano, não é possível
relevar, no entanto, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2010), que apontava 50,2% de pessoas sem instrução ou com o fundamental
incompleto, ou ainda, 11,4 milhões de pessoas acima de 15 anos que não sabem
ler e escrever, de acordo com o IBGE (2022). Cenário que revela a não
concretização da meta 08 (oito) do Plano Nacional de Educação – PNE 2014 –
2024, de garantir a elevação da escolaridade média da população.
A modalidade da EJA carrega a
peculiaridade do seu público alvo estar inserido no mercado de trabalho, além
do fato de grande parcela dos estudantes estar distante da escola por muitos
anos. Tanto a falta de tempo por motivos de trabalho, como distância geográfica
e temporal da escola, resultam em recorrente evasão escolar. O trabalho costuma
ser também o motivo do retorno à escola, para fins de melhor adequação
profissional. Fruto do crescimento econômico nacional, o diploma do ensino
médio tem sido mais fortemente solicitado pelas empresas como requisito de
contratação, bem como de permanência no emprego.
Medidas têm sido tomadas pelo
governo federal nas últimas décadas, para potencializar o vínculo da educação
profissional com o ensino médio, como forma de garantir não apenas o acesso,
mas a permanência do estudante no ensino escolar, preparando-o intelectual e
tecnicamente para o mercado de trabalho. Por meio do decreto 5.840/2006,
tornou-se possível a integração da educação profissional com o ensino médio,
superando a dualidade de trabalho manual e intelectual.
Embora a EJA não seja assumida como
prioridade nacional, haja vista a descontinuidade de campanhas nacionais, baixo
orçamento destinado do Fundo de Manutenção da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (FUNDEB), currículo tardio e desarticulado, e
desprestígio moral, além de funcionar como mero cumprimento legal, trata-se de
um direito e não pode ser compreendida moralmente como clemência, favor ou
assistência social, ignorando a construção socioeducacional dos direitos dos
jovens e adultos que, por motivos diversos não concluíram os estudos na idade
recomendada pela legislação educacional.
Compreende-se, nesse sentido, que a
EJA representa a resiliência do povo brasileiro sob uma perspectiva social,
personifica a áurea do trabalhador defensor do seu sustento, e naturaliza a
ideia de que a educação é um processo contínuo e atemporal. Recuperando a
resolução nº11/2000, do Conselho Nacional de Educação (CNE), que trata das
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, a EJA
desempenha a função reparadora (direitos civis), equalizadora (igualdade de
oportunidades) e qualificadora (educação permanente).
Quando
o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de
Jovens e Adultos – Decreto nº 12.040/2024 e o futuro PNE (2024 – 2034), ainda
em discussão no senado federal, cumprirem o seu papel de erradicar o
analfabetismo, bem como aumentar a escolaridade média, a EJA terá cumprido a
sua missão, permanecendo como farol do processo de aprendizagem contínua e
atemporal. Política educacional contínua voltada para a EJA é possível e é para
hoje.
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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