segunda-feira, 30 de maio de 2022

A CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO URBANO SEGURO E O PAPEL DOS MUNICÍPIOS


 


Ítalo do Couto Mantovani*

 

                No país inteiro a preocupação com a segurança pública está cada vez maior. Cidades inteiras tornaram-se reféns da violência, sitiadas e com o cidadão cada vez mais inseguro e vítima de uma situação que parece não ter fim. Os problemas são muitos: aumento das taxas de criminalidade, degradação do espaço público, ineficiência preventiva de nossas instituições, superpopulação nos presídios, corrupção, ineficiência da investigação criminal, bem como morosidade judicial. Desse modo, como criar um espaço urbano público seguro?

            No Brasil, por exemplo, considerando o perfil de suas grandes metrópoles e se aproximando de municípios com mais de 100 mil habitantes, 326 municípios (5,8% dos municípios brasileiros), é possível observar um padrão de segregação espacial, dividindo o município entre centro X periferia, isto é, territórios separados dentro da mesma cidade, nos quais parte da população não tem acesso às políticas públicas e direitos básicos. A distribuição de crimes violentos letais também segue esse padrão, distribuindo de forma irregular pelas cidades, em que a mancha criminal se concentra nos locais em que a vulnerabilidade social e maior.  Com essa visão dos moradores e a inação do poder público (prefeituras principalmente) os espaços públicos são abandonados, tornam-se precários e por consequência acarreta o distanciamento por parte da população. Esse círculo vicioso gera a sensação de insegurança e, em alguns casos esses espaços são ocupados por meio da força e assim, o início de práticas de atividades criminosas.

            Um ponto divergente característico do munícipio de Mâncio Lima, no Acre, como Pindamonhangaba, em São Paulo, é a necessidade de se avançar na capacidade de realizar diagnósticos que avaliem de forma correta e explícita a segurança cidadã. O Acre tem como base para segurança pública a Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), que em uma pesquisa rápida em seu portal não divulga dados estatísticos sobre a criminalidade em seu território. Por outro lado, o Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Segurança Pública (SSP) divulga mensalmente as estatísticas criminais por município. Apesar da Constituição Federal estabelecer que a Segurança Pública é de responsabilidade do Estado, o portal da SSP não divulga os indicadores de forma desmembrada tais como: público mais vulnerável, tipos de crimes mais recorrentes, sensação de segurança e insegurança e elementos arquitetônicos que facilitam a ocorrência de delitos. Temos apenas o dado bruto, e para mais informações devemos entrar pela Lei de Acesso a Informação. Políticas Públicas de Segurança não podem e não devem ser elaboradoras apenas pelo Estado.

            Apesar de termos três esferas separadas constitucionalmente de forma regrada e especifica, são os municípios que conhecem sua realidade, os gestores municipais que podem lançar mão de técnicas exclusivas de análise, tais como pesquisas de vitimização, levantamentos sobre percepção de segurança e insegurança (incluindo recorte de público), análises criminais e estudo arquitetônico. Elementos fundamentais para içar quais os elementos que tornam o espaço inseguro ou mais seguro para comunidade. Pontos importantes que não são feitos. Gestores que não conversam, há uma Secretaria de Segurança Pública municipal, como por exemplo Pindamonhangaba, que nem um portal especial com temas, dados e informações de segurança são apresentados os munícipes. Mecanismos que atuam mais como barreiras do que como elementos de ligação (cidadão com poder público), consequentemente, terminam separando as partes do nosso município, dificultando a integração e a construção de um ambiente urbano conectado.

            Tendo em vista os aspectos observados, especificamente sobre espaço urbano seguro e nossa Pindamonhangaba, acentua-se a relevância do nosso gestor (prefeito/secretário/vereador) conhecer tais em elementos de segregação urbana e a percepção de segurança nos diferentes públicos do seu município (homens, mulheres, jovens, adultos, crianças, idosos, LGBTQIA+) já que nem sempre um fator de insegurança gerado para uma determinada parcela da população é o mesmo para outra. A participação e mobilização comunitárias estão presentes, de formas diferentes, como Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs). Portanto, fica claro que investir na mobilização da comunidade, para a realização do diagnóstico, para definir as intervenções arquitetônicas a serem realizadas, para a própria execução dessas intervenções e, sobretudo, para garantir o uso e ocupação do espaço é uma tática certeira e que colabora para a sustentabilidade dos espaços revitalizados e o aumento da percepção de segurança.

 

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário