sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A SEGURANÇA PÚBLICA NÃO É UM BECO SEM SAÍDA

 

Ítalo Mantovani

 

                Em uma de suas pesquisas o IBOPE, em 2018, antes das eleições, perguntou aos eleitores que elencassem as três áreas em que seu estado estivesse enfrentando maiores problemas.  Nos 25 estados mais o Distrito Federal, a Segurança Pública ficou em segundo lugar, sendo declarada, numericamente, ao menos 50% como uma das áreas que seus estados enfrentam maiores problemas. Isso coloca essa temática à frente da educação com uma média de 45% e atrás apenas da Saúde com 70%.

                A gestão da segurança organiza um campo de desafios e remete, de forma inicial, ao aspecto da construção social da violência e sua dinâmica em cada cidade, bairro e até mesmo rua. Normalmente assuntos como: redução da idade penal, aumento de vagas no sistema carcerário, expansão do aparato policial, endurecimento das ações punitivas e até aprovação da sociedade pelo linchamento são propostas e ações recorrentes apresentadas como estratégias para atenuar o quadro de violência, diminuído a insegurança urbana e assim, aumentando a percepção de segurança da população.  Ideias que se disfarçam de uma suposta racionalidade, uma vez que essas propostas atuam no processo de aumento da criminalização da pobreza, causando uma desigualdade maior e tornam-se práticas ineficazes para enfrentar o cenário de insegurança pública que o país passa. Isso leva aos gestores acreditarem que a Segurança Pública é um beco sem saída para sua administração.

                O instituto Sou da Paz lançou, dia 17/08/2020, mais uma edição do Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV), que mensura a exposição de violência nas cidades do Estado de São Paulo com mais de 50 mil habitantes, isto é, 139 municípios. Um índice criado com o intuito de facilitar a avaliação agregando várias dimensões da violência e da segurança pública no estado de São Paulo. Com uma ótica para diferentes tendências criminais, permitindo uma comparação das estatísticas entre cidades e distritos policiais ao longo do tempo. O IECV é calculado a partir da média ponderada de três subíndices: crimes letais (homicídio e latrocínio), crimes contra a dignidade sexual (estupro) e crimes contra o patrimônio (roubo – outros, roubo de veículo e roubo de carga). 

                O estado de São Paulo, nesses indicadores, apresentou um cenário favorável para os crimes contra a dignidade sexual, com uma redução de 2019 para 2020 de 15%, o roubo-outros com uma queda de 8%, roubo de carga 16% de diminuição e roubo de veículos com 31% a menos de ocorrências registadas no primeiro semestre de 2020 em comparação com o primeiro semestre de 2019. Por outro lado, os homicídios e latrocínios, aumentaram em 4% cada um.  Esse tipo de indicador é importante não só para o poder estadual como o municipal, em que ao trazer um conjunto de dados sobre criminalidade por município, a análise tanto municipal como estadual ajudam na implementação de medidas de segurança pública, amparam na prevenção de crimes e diminuem a exposição à violência no Estado.

                A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), com 39 municípios, apresenta 12 municípios com mais de 50 mil habitantes e desses 12 municípios 7 (59%) estão entre os 30 municípios com maior exposição à criminalidade violenta, no primeiro semestre de 2020. Ubatuba (3º lugar), Cruzeiro (4º lugar), Caçapava (10º lugar), Lorena (13º lugar), Caraguatatuba (15º lugar), Jacareí (25º lugar) e Pindamonhangaba (27º lugar). Depois de Pinda, o próximo município da RMVPLN só aparece na posição de 59, que é São Sebastião. E, o município com melhor desempenho no Índice é Campos do Jordão na posição de número 104.

                No contexto brasileiro das últimas décadas, ora intenso ora ameno, parlamentares (como a bancada da bala) e setores midiáticos (programas policiais principalmente) têm encabeçado discussões acerca de ameaças a que estão submetidos os cidadãos de bem, usando argumentos insustentáveis e casos isolados para fortalecer a culpa do indivíduo e assim, propor redução da idade penal, expansão de vagas no sistema carcerário entre outros pontos. Contudo, o atual momento que vivemos revela uma necessidade de avançarmos no debate mais técnico e cientifico sobre a segurança pública, com informações, dados e questionamentos sobre o município que vivemos e queremos. Lógico, que não podemos desassociá-lo ao debate que envolve questões políticas, econômicas e sociais que englobam o crescimento e desenvolvimento de uma sociedade, mas com um material de apoio em nossas mãos, como o Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV), os prefeitos podem repensar suas políticas públicas, ajudar na legislação de drogas, formular novas políticas públicas ao combate à desigualdade, uma vez que os dados da segurança pública são disponíveis no portal da Secretaria. Há de ficar evidente que segurança pública não é uma política isolada, ou um beco sem saída para os gestores públicos, ela precisa caminhar com as reformas educacionais, habitacionais, ou seja, montar um território que a função social não seja resumida em programas policiais que pedem apenas atuação das polícias e a construção de mais prisões.

 

 

 

v  Assessor de Coordenador na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

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