Há um ditado popular para explicar a
reprodução sociológica de costumes e tradições que diz o seguinte: “a maçã não
cai longe da macieira”. Essa máxima social, convincente em seu exemplo literal,
permite pensar sobre a realidade educacional brasileira, compreendendo existir um
conjunto de fatores que se somam para representar o retrato da educação atual,
ou seja, que está ruim. Não é de todo equivocado pensar que o cidadão de “hoje”
é, em grande medida, reflexo e tradutor da educação formal de “ontem”, se a
compreendermos como um “treino” de apropriação de conteúdo sociocultural,
socialização e desenvolvimento humano.
Se
analisarmos dados da linha histórica dos resultados das provas de todas as edições
do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), tornar-se-á evidente a
permanência do Brasil nas últimas colocações, mesmo entre países emergentes,
mostrando que, ser a décima maior economia do mundo, no ano de 2024, não
representa sabedoria, estratégia ou intenção de alocar recursos financeiros e
humanos na educação. Em continuidade, considerando resultados do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb, 2023), os anos finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio, apresentaram resultados abaixo do esperado,
revelando, uma vez mais, que o sistema educacional permanece em crise. Também é
possível constatar baixa produção de inovação acadêmica, revelando pouca
difusão e absorção de conhecimento científico, tanto na educação básica como
superior; indo para outras áreas, como aumento de índices de violência, na
contramão dos direitos humanos, aumento da precarização da saúde, mesmo em
assuntos preventivos, revelam que sim, “a maçã não cai longe da macieira”, e
que sim, o atual cidadão, e sua estrutura societária, são reflexos da educação
de “ontem”, em pleno vapor de continuidade de reprodução no “hoje”. Recordando
Paulo Freire, “[...] a educação sozinha
não transforma a sociedade, mas sem ela, tampouco a sociedade muda”.
Políticas educacionais de impacto
orçamentário e curricular podem ser listadas nas últimas décadas, tanto pela
promessa de eficácia, quanto pelo resultado ineficiente – Plano Nacional de
Educação (PNE – 2011-2010; 2014-2024), um verdadeiro dejavu brasileiro, prestes a se repetir pela terceira vez, no
próximo decênio, pelo quanto 80% das metas anteriores não foram alcançadas
(MEC-Inep. 2022). Não é difícil pensar que são legislações promulgadas guiadas
por critérios científicos, mas assumidas e operacionalizadas como gasto a ser
contido, ou seja, concebe-se o assunto como essencial, mas é assumida como
secundária, quase como prática imobilizadora de conhecimento e ocultadora da
própria realidade nacional, estadual e local.
Cabe
entender que política educacional é um assunto normalmente vertical, que se
institui de modo top-dow (de cima para baixo), com relação ao ordenamento
jurídico da educação. Já o modo que a política educacional é assumida em suas
bases, entende-se ser por meio da abordagem botton-up (de baixo para cima) pelo
quanto a equipe escolar tem meios de se posicionar com a escolha de métodos de
ensino e práticas didáticas. Nesse sentido, sem a pretensão de resolver a crise
do sistema educacional, um elemento que contribui com o aumento do entusiasmo e
motivação do estudante em querer aprender mais, dando sentido ao que aprende, é
inserir mais práticas voltadas às metodologias ativas, deixando de lado
práticas didáticas tradicionais apontadas como de menor potencial de gerar
engajamento escolar.
Por metodologias ativas, entende-se
um modelo de ensino disruptivo, por descentralizar a sala de aula e estar
conectado ao contexto sociocultural do estudante, tornando-o protagonista do
seu processo de aprendizagem. Modelo que, tanto como qualquer outro, requer que
o estudante queira aprender, deseje estudar e se discipline a participar do
processo de ensino escolar. Por parte do professorado, faz-se necessário
abertura ao rompimento do seu modus
operandi em sala de aula e conceitos dogmáticos do ensino tradicional,
deixando de se conceber como o centro do processo de ensino e aprendizagem.
Para além de todo o trabalho macro e
micro estrutural necessário para atingir o resultado educacional esperado,
tanto de indicadores de aprendizagem positivos, como de cidadãos desenvolvidos,
guiados por princípios humanitários, cabe responder cotidianamente três
perguntas que podem contribuir paulatinamente com a resolução da crise do
sistema educacional: 1) é ético e moral o modo que estou ensinando e aprendendo?
2) ao fazer o que faço, estou cumprindo a legislação educacional? Resumindo as
duas perguntas em apenas uma: estou concebendo e assumindo a educação como
essencial, conforme prerrogativa constitucional? Recuperar a vontade e
encantamento pelo estudo escolar, na atualidade, por meio de práticas de
metodologias ativas é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
Me fez pensar no PISA no estado do Ceará. Afinal, enquanto o estado rico de São Paulo não se sustenta na educação. Por lá, brilha o otimismo de seus indicadores. Ações políticas o justifica.
ResponderExcluir