Fura fila. O suplente de
vereador Bilili de Angelis (PSDB), réu em processo por improbidade
Foto: /Divulgação |
Perícia
feita em três computadores do gabinete do então vereador de Taubaté localizou
fichas de 5.700 pessoas que foram atendidas desde 2010 para solicitar
agendamento para procedimentos de saúde na rede pública da região
Julio Codazzi@juliocodazzi | @jornalovale
Para o
Ministério Público, a perícia realizada em três computadores do gabinete do
então vereador Bilili de Angelis (PSDB), de Taubaté, comprovou que o tucano
articulou um grande esquema para ‘furar fila’ de exames e consultas na rede
pública de saúde da região.
Os computadores foram apreendidos em maio de 2020, quando Bilili ainda exercia
mandato. Agora, o tucano é apenas suplente.
Os três equipamentos foram periciados pelo Laboratório de Computação Forense do
Caex (Centro de Apoio Operacional à Execução), que é um braço técnico do
Ministério Público. No mês passado, o laudo foi anexado ao processo em que
Bilili é réu por improbidade administrativa.
Nos computadores, os peritos localizaram 5.700 fichas de cadastro de moradores
de Taubaté e região. Todos são referentes a casos de pessoas que procuraram
Bilili ou o gabinete para solicitar agendamento de procedimentos de saúde. As
primeiras fichas são de 2010.
Em alguns dos arquivos, os peritos localizaram anotações de que Bilili iria
pessoalmente solicitar o agendamento no Hospital Regional de Taubaté (das
outras seis rés do processo, duas eram funcionárias da unidade). Em diversas
outras fichas, isso seria feito por assessoras do então vereador (duas delas
são rés).
Também foram localizadas diversas citações ao nome “Valéria”. Para os peritos,
essa seria Valéria dos Santos, ex-diretora regional de saúde. Pela denúncia
feita pelo MP em 2018, Bilili nomeou Tatiane Cristina Carneiro, que é filha de
Valéria, para atuar em seu gabinete em 2013. No mesmo ano, Tatiane teria
passado a utilizar a senha da mãe para acessar o sistema da Cross (Central de
Regulação de Ofertas e Serviços da Saúde), para inserir pacientes que
procuravam diretamente o gabinete. Ainda na fase de inquérito, foram detectados
acessos no sistema a partir de computadores da Câmara e de aparelhos conectados
a uma linha telefônica da Tatiane. Valéria e a filha também são rés no processo.
OUTRO LADO.
Procurado pela reportagem, Bilili afirmou que desconhecia o laudo pericial.
“Não posso falar nada, pois não estou sabendo”. O tucano e outras quatro
denunciadas negam as acusações, mas duas rés – uma ex-assessora de Bilili e uma
ex-funcionária do hospital – admitiram ao MP e à Justiça terem participado do
esquema.
Se condenado, o suplente de vereador, que está com parte dos bens bloqueados,
pode perder a função pública, ter os direitos políticos suspensos por até cinco
anos e pagar multa. A Promotoria ainda pede o pagamento de uma indenização de
R$ 2,5 milhões, por danos morais difusos.
Em junho, ex-diretora
regional de saúde foi exonerada pelo Estado; defesa recorre
Em 2018, após o
Ministério Público denunciar o caso à Justiça, a Secretaria de Saúde do Estado
iniciou uma investigação interna contra Valéria dos Santos, que era servidora
de carreira da pasta e que havia se licenciado em 2017 do governo estadual para
atuar como secretária de Saúde em Pindamonhangaba. No mês passado, por entender
que ela praticou atos de improbidade administrativa, a secretaria estadual
exonerou Valéria. Dias depois, após tomar conhecimento da conclusão do
procedimento disciplinar do Estado, a Prefeitura de Pinda também dispensou sua
então secretária.
A defesa de Valéria nega que a ex-diretora regional de saúde tenha cometido
qualquer irregularidade. Os advogados protocolaram um recurso no governo do
Estado para tentar reverter a decisão que a exonerou dos quadros da secretaria.
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