quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Audiência Pública na Câmara de Pindamonhangaba debateu o tema parto normal e a humanização da assistência às gestantes



O parto humanizado, o plano de parto, o direito a informação, a humanização e capacitação de profissionais, as conquistas e os direitos das mulheres foram os temas discutidos com parlamentares, Secretaria de Saúde, Defensoria Pública e profissionais da Saúde convidados

A Câmara de Pindamonhangaba realizou no último dia 22 de agosto de 2019, uma Audiência Pública para discutir sobre o parto normal e a humanização da assistência, de grande relevância no âmbito da saúde em Pindamonhangaba.
A audiência foi proposta pelo vereador Roderley Miotto (PSDB), presidente da Comissão de Saúde e Assistência Social, subscrito pela vereadora Gislene Cardoso – Gi (DEM). A Mesa dos trabalhos foi presidida pelos autores da proposta e a presença da doula Milena Fondello, a enfermeira obstetra Gisely Rezende, a médica obstetra Dra. Rosana Fontes, a Secretária Adjunta de Saúde Mariana Prado Freire e o representante da Santa Casa Fábio Lemes.
A audiência teve intuito de continuar a roda de conversa realizada em julho, na praça Monsenhor Marcondes, com a finalidade de conscientizar a população e as autoridades da área da Saúde de Pindamonhangaba a respeito da lei estadual e o direito da mulher na questão da humanização do parto normal.
Para a vereadora Gislene Cardoso – Gi, esta é uma preocupação constante e, principalmente pelo fato da discussão do projeto que foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo e que esta conscientização deve ser o assunto em pauta em nível nacional.
O Projeto de Lei aprovado no Congresso Nacional, que garante à gestante a possibilidade de optar pelo parto cesariano, a partir da trigésima nona semana de gestação, bem como a analgesia, mesmo quando escolhido o parto normal. O projeto recebeu aprovação na Assembleia Legislativa de São Paulo depois de muitos debates.
A doula Milena Fondello, grande defensora do parto humanizado em Pindamonhangaba destacou que o Brasil é o campeão de cesáreas e que o SUS detêm a maior quantidade, 70%. Segundo ela, as pessoas precisam entender o que é o parto humanizado, em razão do bem-estar da mulher e do bebê. Ela se destaca em três pilares: o protagonismo da mulher, onde ela perdeu a propriedade do seu corpo, sempre dependendo de alguém para lhe ditar o que é bom. A mulher não pode perder o seu protagonismo. Ao agendar uma cesárea, ela deve saber que aumentam também os riscos, seja por infecções e até mesmo a imaturidade do seu bebê. Outro pilar é a equipe multidisciplinar, onde ela é “assistida” por profissionais que vão lhe auxiliar a realizar o parto, como enfermeiros ou médicos obstetras. E um terceiro pilar que é a Medicina baseada em evidências, resultantes de resultados científicos, após muitos estudos com um grande número de mulheres.
Milena disse ainda que a Doula não tem uma função técnica, ela está ali, naquele momento, para assistir a mulher como ser humano, ela não faz parto, quem o faz é o obstetra. Ela vê os aspectos emocionais com massagens e sugestões de posições sem intervir.
Tem que se tirar o tabu que envolve o parto humanizado, pois ele é mais respeitoso e mais adequado para a saúde da mulher e do bebê. Não se tem que insistir na cesariana como um meio seguro. É preciso trazer mais informações sobre o parto normal que é mais seguro e importante para o bebê e para as mulheres.
Para a enfermeira obstetra Gisely Rezende, a luta não é forçar o parto normal e sim contra as intervenções desnecessárias. O parto ideal não é o normal, não é a cesárea. O ideal é o parto respeitoso, aquele que respeita a fisiologia, a parte psíquica e emocional da mulher. De acordo com ela, os profissionais obstetras estudam para diagnosticar as alterações, enxergar onde não pode acontecer normalmente, onde não pode seguir com o parto normal e assim identificando qualquer problema, tanto de origem materna quanto fetal, que dificulte ou impeça o parto, o obstetra pode intervir. O enfermeiro obstetra cuida da parte fisiológica do nascimento, é responsável tecnicamente, representa segurança. Ele acompanha o trabalho de parto e no caso de algum problema, solicita a presença de um médico. Ele permite que a mulher seja protagonista desse momento que é dela. A sua presença é para dar segurança a gestante e ao nascimento. Para Gisely, o que se deve ter é a capacitação de profissionais para assistir, no sentido de prestar assistência de qualidade, com base em evidência científica para realizar um pato humanizado e ainda orientar mulheres com qualidade, além de um bom pré-natal conduzido.
A Dra. Rosana Fontes, Ginecologista e Obstetra, formada há 21 anos disse que há 6 anos ela constatou que se ensina a medicina errada, a obstetrícia errada. Não errada da forma técnica, mas errada da parte humana. Esse é o grande diferencial que constatou durante o acompanhamento e atendimento do parto normal que presta no sistema privado e sua atuação no sistema público. Ela acredita que a maioria dos profissionais de saúde tem que entender que não é a lei do bisturi que impera, que o médico acha que pode mudar o mundo e dizer o que o paciente tem que fazer. Isso é difícil de mudar, no parto não é diferente, por isso que o empoderamento feminino é tão difícil hoje, porque o poder do médico ainda é grande, tanto imposto pela sociedade como imposto pelo profissional. É isso que tem dificultado o médico de aceitar outros profissionais de saúde na hora do parto, como enfermeiras obstétricas, obstetrizes e doulas, com a sensação de que ele vai perder o poder de decisão do parto e o empoderamento feminino em si também. No momento em que se aprova que a cesárea é a opção da mulher, é importante discutir como será cumprido a determinação da Organização Mundial de Saúde de 19% de cesáreas, sendo que a nossa sociedade tem entendido o parto normal como uma agressão, uma violência e uma imposição. Desta forma, aí entra a educação da população para entender que a opção é delas, mas que o parto normal tem muito mais vantagens, e se não mostrarmos isso, não teremos condições de manter o que a Organização Mundial de Saúde pede. Essa lei vem contra o que precisamos indicar, recomendar. A cesárea não é uma medida de saúde pública adequada. As pessoas não sabem o que estão pedindo, elas não tem o devido conhecimento para entender o que uma cesárea traz para sua própria saúde e a dos seus filhos. A educação é uma coisa que precisamos investir mais, tanto durante a gestação que são durante nove meses, como nas escolas, durante a educação fundamental.
Com relação à Santa Casa de Pindamonhangaba, o representante Fábio Lemes disse que essa nova administração traz um pensamento mais moderno, mais atual, no sentido de melhoria na assistência. O que está sendo discutido é preocupante e alarmante, realmente no dia a dia pode acontecer este tipo de atendimento, de violência obstétrica dentro do nosso hospital, mas estamos num processo de mudanças e num futuro próximo as pessoas vão usufruir de um serviço de melhor qualidade. Gostei dos conceitos que foram postos, essa distinção de que o parto humanizado, não é o parto normal, é também o parto cesariano, mas de forma humanizada, que é aquele conjunto de processos que geram satisfação de ambos os lados, porque a humanização tem que estar também no profissional, ele tem que se sentir satisfeito, tem que demonstrar eficiência no procedimento dele.

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