terça-feira, 12 de dezembro de 2023

“Brasileiro leitor”: o retrato do Brasil!



Ser leitor é compreender o sentido do texto, por meio da decodificação das palavras, estrutura gramatical e estilo narrativo. Ler é quase uma responsabilidade social e ato de cidadania, uma vez que cabe ao leitor auxiliar na construção do sentido do texto, tornando-se coadjuvante da criação literária. O ato de ler proporciona criatividade e senso crítico desde a primeira infância, além de desempenhar um papel fundamental na formação das capacidades cerebrais e habilidades mentais como cultivo da memória e raciocínio lógico; proporciona, também, aumento de vocabulário para melhorar a escrita e ampliação da capacidade de abstração para processamento de informação, ou seja, torna mais fácil aprender o conteúdo escolar.

Há, no entanto, inúmeras distrações impeditivas para realização da leitura didática e literária, como TV, internet, redes sociais, falta de tempo e hábito para ler, mostrando-se ser uma rede de entretenimento convincente, naturalizada como a nova fonte de conhecimento, ou melhor, pseudoconhecimento. Não é exagero apontar que a ausência da constância da leitura formativa pode resultar em alienação, defasagem educacional estrutural, amoralidade, diminuição da qualidade da linguagem oral e escrita, além de rigidez de visão de mundo como causa da intolerância sociocultural.

De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, 2022), que avalia estudantes entre 15 e 17 anos, 50% dos brasileiros têm resultados nível 1 (um), em leitura, em uma escala de 1 a 5, revelando abstração deficitária, impactando, inclusive, os resultados em Ciências e Matemática. Entende-se, portanto, que o principal desafio do ensino de Matemática é a Língua Portuguesa, devido ao entendimento da leitura do estudante se restringir a compreensão literal e de períodos curtos.

Segundo dados da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019), 52% dos brasileiros tem o hábito da leitura, tomando como critério ter lido ao menos um livro nos últimos três meses; para fins comparativos, de acordo com a pesquisa, o brasileiro lê 4 (quatro) livros por ano, enquanto o canadense lê 12 livros. Outro dado alarmante apesentado pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil aponta que as faixas etárias de 14 a 17 anos e 18 a 24 anos, reduziram o percentual de leitores em 8% de 2015 para 2019, justificado pela concorrência de entretenimento como vídeo, rádio e qualquer outro mecanismo de comunicação. Segundo a mesma pesquisa, apenas 17% da população brasileira frequenta bibliotecas, divididos em 51% por motivo de pesquisa escolar, e 33% para leitura por prazer.

Soma-se a isso, o aumento do encerramento das operações de livrarias físicas nos últimos anos, cujos dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL), mostra que, em 2014, existiam 3.095 livrarias no país, e, em 2021, eram 2.200, justificado pelo alto custo financeiro do serviço presencial, gestão deficitária e mudança de hábito do público leitor, que, na atualidade, guia-se fortemente pelo consumo de bens digitais vinculados ao e-comerce e marketplaces, impactando negativamente o balanço financeiro de livrarias físicas.

Se por um lado o livro físico não é mais a única fonte de formação para aprendizagem formal e informal, sobretudo no contexto de tecnologias digitais, que tem impulsionado a produção de conteúdo literário e de formação geral, por outro, compreendendo a sua legitimidade como instrumento formativo, cabe refletir sobre a urgência da retomada da leitura sistêmica por prazer. Urge, portanto, políticas públicas voltadas para o fomento da leitura nas escolas e instituições similares, seja por meio de renovação dos acervos didáticos e literários, seja pelo investimento em programas socioculturais; além de reempoderar os mediadores de leitura – pais, professores e contadores de história, como principais potencializadores do estímulo à leitura para as novas gerações de estudantes, garantindo, assim, uma sociedade livre, esclarecida e desenvolvida, pois, tal como disse o escritor argentino Alberto Manguel “nós somos o que nós lemos e se lemos pouco, pouco somos”. Integrar o valor da leitura é possível e é para hoje!

Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em Educação, e Avaliador do MEC/Inep para cursos de graduação.

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