quarta-feira, 28 de abril de 2021

COVID-19 E O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO



 

Ítalo do Couto Mantovani*

 

                É crescente a importância do sistema penitenciário nas discussões sobre segurança pública e justiça criminal dentro do contexto brasileiro de segurança. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), cerca de 756 mil pessoas estavam em presas no Brasil em dezembro de 2019. Em quase duas décadas, a quantidade de indivíduos privados de liberdade mais que triplicou, saindo de 232 mil no ano de 2000 para 756 mil em 2019. Com esse alto número de indivíduos privados de liberdade o déficit de vagas corresponde ao maior número dos últimos 4 anos, isto é, o sistema prisional brasileiro tem uma insuficiência de 312 mil vagas.

            Todos esses dados, muitas vezes soltos e levados ao senso comum nos fazem questionar o sistema prisional brasileiro e a pandemia. O agravamento da Pandemia de covid-19, nos primeiros meses de 2021, tem sendo verificado também no sistema prisional do país. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que, somente nos primeiros 67 dias do ano de 2021, ocorreram 58 mortes por covid-19 entre servidores e pessoas em privação de liberdade. E desde o início o número já supera os 364 óbitos. Segundo o Conselho Nacional de Justiça esse número representa um aumento de 190% no registro de novos óbitos em comparação com o último bimestre do ano passado. Nos últimos 70 dias de 2020, houve 20 óbitos pela doença. Ainda de acordo com o CNJ, o montante repassado para adoção de medidas de higiene e limpeza no sistema prisional totaliza R$ 85,7 milhões, entre recursos estaduais e federais. Ao todo, 25 estados informaram ao conselho que estavam destinando verbas para o combate à pandemia nos presídios e unidades socioeducativas.   
            A incidência de casos deve ser analisada à luz dos contextos locais, com especial atenção para:  o tamanho das populações privadas de liberdade nesses estabelecimentos e seus respectivos quadros de servidores; a política de testagem adotada por cada Unidade da Federação nessas instituições; a transparência e regularidade na divulgação dessa informação. O último boletim, divulgado dia 22/04, mostra que o Covid-19 no sistema prisional brasileiro apresentou até então 365 mortes (190 servidores e 174 presos), com mais de 74.982 casos registrados, dos quais 55 mil são dos presos.

            Um balanço da União como um todo, para população carcerária aponta que a taxa de letalidade dentre presos é de 0,30%, enquanto a taxa da população livre está em 2,7%. Por outro lado, a taxa de infecção na população carcerária está em 7,2% e o restante do país com aproximadamente 6,8%.

                No estado de São Paulo, um balanço divulgado pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) aponta que desde o início da pandemia mais de 12 mil presos foram diagnosticados com Covid-19 e 35 morreram. A taxa de letalidade entre os presos é de 0,29%. Entre os servidores que atuam no sistema prisional a taxa de letalidade para a doença é de 1,41%. De acordo com os dados levantados pela SAP, 2.623 servidores testaram positivo para a doença e 37 morreram.

            No mês de fevereiro, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária publicou no Diário Oficial da União uma resolução que recomenda as autoridades da saúde, incluírem os servidores e pessoas privadas de liberdade na lista de prioridades do plano nacional de vacinação contra a Covid-19.

            No Sistema Socioeducativo, que é responsável por meio das medidas pela ressocialização de adolescentes, os parâmetros se invertem. Temos registrados, pelo CNJ, 8.605 casos, dos quais 2.045 são de adolescentes em privação de liberdade, os outros 6.560 de servidores. E óbitos não há confirmação em adolescentes dentro do sistema socioeducativo, mas há 67 óbitos registrados de servidores.

O Conselho Nacional de Justiça afirma que há um monitoramento semanal dos casos de contágios e mortes por Covid-19 nos sistemas prisional e socioeducativo, categorizados entre servidores e pessoas em privação de liberdade. O levantamento é feito a partir de informações provenientes de diferentes fontes dos poderes executivo e judiciário estaduais, incluindo dados repassados pelos Grupos de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMFs), boletins epidemiológicos de secretarias estaduais e dados informados ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen).  E que, entre março e maio, 35 mil pessoas foram retiradas de unidades prisionais com a adaptação do cumprimento da pena para outros formatos, como prisão domiciliar ou monitoração eletrônica. Trata-se de 4,6% do total de pessoas em privação de liberdade, excluídos o regime aberto e presos em delegacias.

            Desta forma, esse é um importante subsídio para guiar as ações do Judiciário no contexto da Recomendação n. 62, aprovada pelo CNJ em 17 de março, com orientações para evitar contaminações em massa no sistema prisional e socioeducativo. E ainda, temos um material importante para evitar cairmos no senso comum das mensagens de Whatsaap sobre a segurança pública brasileira e um vírus que tem matado mais de 1.200 pessoas dias, em um país sem governo, sem responsabilidade e a custas de profissionais que estão fadigados com a irresponsabilidade de muitos.

 

 

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

 

 

           

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário