segunda-feira, 29 de maio de 2023

Educação Física escolar na atualidade: Entre a formação integral e a esportivização capitalista


  

Desde os primórdios da humanidade o ser humano foi amplamente ativo, seja por sobrevivência ou subsistência, revelando que o movimento corporal é intrínseco ao ser humano. No Brasil de 1500, segundo o escrivão Pero Vaz de Caminha, em carta à coroa portuguesa, a chegada dos portugueses em terras habitadas por povos indígenas foi celebrada com dança ao som de gaita, saltos e giros do povo indígena, sinalizando existir atividades físicas no local. Já no período do Brasil Império as atividades físicas eram restritas ao campo militar, assumidas como ginástica e treinamento.

A Educação Física escolar com finalidade pedagógica surgiu no Brasil a partir da reforma educacional de Rui Barbosa, em 1882, que apontou ser a educação a base para a modernização industrial do país. Décadas a frente, reconhecida a importância da Educação Física escolar como disciplina de elevada aceitação social, no período de tomada do poder executivo, o regime militar brasileiro cooptou o esporte nacional e Educação Física escolar, tornando-os esportivistas, sobretudo a área do futebol, com foco no rendimento performático, na busca do mais hábil e forte, como forma de transparecer uma imagem e clima de prosperidade nacional, que, sob um olhar crítico atual, nunca ocorreu, haja vista o baixo índice de desenvolvimento humano do país, que não garantiu condições de vida dignas para a totalidade da população.

Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Educação Física passou a integrar a proposta pedagógica escolar, tornando-se componente curricular da Educação Básica. Com a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Educação Física se torna pertencente à área de Linguagens no campo escolar, não nomeando, porém, área ou componente curricular na Educação Infantil, embora sinalize aprendizagens motoras para crianças. Há, portanto, aula regular de Educação Física no Ensino Fundamental e Médio da Educação Básica, garantindo o conjunto de conhecimentos sobre os movimentos; e na Educação Infantil, a atividade psicomotora ocorre de modo não regulamentado por meio do pilar essencial: “Campos de Experiência” – item: corpo, gestos e movimentos, cabendo ao professor criar seu plano de trabalho.

Na atualidade, mesmo com amparo de robusta legislação educacional que aponta ser a Educação Física uma disciplina integradora de valores humanos e princípios de cidadania, percebe-se acentuada prática esportiva com foco em competições, em áreas já conhecidas pelos estudantes, revelando a ausência da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade escolar, reforçando, por sua vez, a esportivização historicamente planejada pelo regime militar, desta vez com finalidade mercadológica, tornando o campo esportivo um instrumento de obtenção de receita financeira. No entanto, o esporte e Educação Física escolar ainda são cooptados pelo Estado-Nação como forma de homogeneizar a população com a sensação de prosperidade, justificando o estímulo de competições escolares, em detrimento de aulas com fundamentação teórica que permitam relacionar o conjunto de áreas e componentes curriculares. Em defesa da Educação Física escolar com foco no desenvolvimento integral do estudante, refletir é preciso, agir é urgente.

Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.

 

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