terça-feira, 12 de março de 2024

DIMINUIÇÃO DO HOMICÍDIO E AUMENTO DO FEMINICÍDIO


 Ítalo do Couto Mantovani*

 

O Brasil fechou o ano de 2023 com o menor registro de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) desde 2010. Em 2023, foram 40.464 registros desse tipo. No comparativo com 2022, em que houve 42.190 CVLIs, a redução é de 4,09%, o que representa quase 2 mil vidas de brasileiros e brasileiras salvas.

Dados divulgados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) no início de fevereiro apontam redução geral de 4% nos homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte em relação a 2022, mas há diferenças regionais. Os dados não incluem as mortes decorrentes de violência policial – essas caíram 2,3%, de 6.445 para 6.296, segundo o ex-ministro da Justiça, Flávio Dino. Mas, nesse mesmo período, esse índice teve aumento em 14 estados. Em 2023, a gestão do MJSP buscou trabalhar junto com as 27 unidades da Federação na construção do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). O MJSP doou mais de R$ 389 milhões em equipamentos, viaturas, armamentos e drones aos Estados, em um esforço de melhorar e ampliar o trabalho local das polícias militar e civil. Além disso, foram disponibilizadas mais de 873 mil diárias para as polícias dos estados, na estruturação e realização de Operações Integradas, um investimento de R$ 262 milhões. Somente a Operação Paz, com foco na redução de homicídios, teve investimento de R$ 123 milhões, sendo realizada em 12 estados. Soma-se a esse esforço, a nova política de restrição de armas de fogo, que reduziu a circulação destas em território nacional.

Por outro lado, o ano de 2023 bateu o recorde de feminicídios no país, com 1.463 registros. O número representa uma alta de 1,6% em relação ao do ano anterior e é o maior da série histórica. O levantamento, publicado nesta quinta-feira (7) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, analisa registros de feminicídios desde 2015, quando o crime foi tipificado no Código Penal Brasileiro.  A pesquisa apontou que 18 estados apresentaram uma taxa de feminicídio acima da média nacional, de 1,4 mortes para cada 100 mil mulheres.

Feminicídio é o nome que se dá ao assassinato de mulheres especificamente devido à sua condição feminina. É o resultado mais extremo da violência de gênero, motivado pela misoginia e pelo desejo de dominar ou controlar a vítima. 10.655 é a quantidade total de mulheres vítimas de feminicídio entre março de 2015 e dezembro de 2023, de acordo com o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, isto é, uma média de aproximadamente 4 mulheres mortas ao dia, desde 2015. Fazendo um levantamento mais micro, o estado com a maior taxa no ano passado foi Mato Grosso, com 2,5 mulheres mortas por 100 mil. Empatados em segundo lugar, os estados mais violentos para mulheres foram Acre, Rondônia e Tocantins, com taxa de 2,4 mortes por 100 mil. Na terceira posição aparece o Distrito Federal, cuja taxa foi de 2,3 por 100 mil mulheres no ano passado. Já as menores taxas de feminicídio foram registradas nos estados do Ceará (0,9 por 100 mil), São Paulo (1,0 por 100 mil) e Amapá (1,1 por 100 mil).  Vale ressaltar que apesar de ser a menor quantidade de casos se comparado com todo o Brasil, a região Sudeste apresentou o maior crescimento de feminicídios em um ano, passando de 512 vítimas em 2022 para 538 em 2023.

Em 2023 o registro fica ainda mais preocupante, uma mulher morreu a cada 6 horas vítima de feminicídio no Brasil. O perfil até então registrado dessas vítimas são: 71,9% tinham entre 18 e 44 anos. 16,1% delas tinham entre 18 e 24 anos; 14,6%, entre 25 e 29 anos; 13,2%, entre 30 e 34 anos; 14,5%, entre 35 e 39 anos; e 13,5%, entre 40 e 44 anos. Em relação ao perfil étnico racial, há uma prevalência de mulheres pretas e pardas entre as vítimas: 61,1%. Já 38,4% eram brancas; 0,3%, amarelas; e 0,3%, indígenas. Sobre os autores temos: 73% dos crimes foram cometidos por um parceiro ou ex-parceiro íntimo da vítima; 10,7% das vítimas foram assassinadas por familiares; 8,3% dos autores são desconhecidos; 8% dos casos foram perpetrados por outros conhecidos. Sem esquecer que metade das mulheres assassinadas no Brasil em 2022 foram vitimadas por armas de fogo. Esse número vem ganhando destaque, em 2020, o padrão permaneceu: para cada duas mulheres assassinadas no Brasil, uma foi morta por arma de fogo.

Entre as iniciativas que buscam trazer mais segurança para as mulheres recomendadas pelo Instituto Sou da Paz estão a implementação da Lei Federal 13.880/2019, que alterou a Lei Maria da Penha. No intuito de evitar que a violência doméstica escale para um homicídio, a mudança determina que durante a denúncia de agressão ao delegado pergunte se o agressor tem acesso a armas de fogo e, em caso positivo, que a arma de fogo seja apreendida cautelarmente mediante decisão judicial.  A facilitação ao acesso às armas de fogo e a cultura armamentista e de ódio que marcaram o último governo, somadas ao machismo e à misoginia, cobraram uma fatura alta das brasileiras, por isso, denunciar a violência doméstica é de suma importância. Os Canais são de emergência, como ligar para o 190 e falar com a Polícia Militar e/ou usar a linha 180, Central de Atendimento à Mulher.

 

 

 

* Diretor da Divisão de Estudos e Monitoramento da Coordenadoria da Atividade

Delegada – Secretaria de Governo Municipal da Cidade de São Paulo

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Graduando e História pela USP

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

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