Ser
leitor é compreender o sentido do texto, por meio da decodificação das
palavras, estrutura gramatical e estilo narrativo. Ler é quase uma
responsabilidade social e ato de cidadania, uma vez que cabe ao leitor auxiliar
na construção do sentido do texto, tornando-se coadjuvante da criação
literária. O ato de ler proporciona criatividade e senso crítico desde a
primeira infância, além de desempenhar um papel fundamental na formação das
capacidades cerebrais e habilidades mentais como cultivo da memória e
raciocínio lógico; proporciona, também, aumento de vocabulário para melhorar a
escrita e ampliação da capacidade de abstração para processamento de
informação, ou seja, torna mais fácil aprender o conteúdo escolar.
Há,
no entanto, inúmeras distrações impeditivas para realização da leitura didática
e literária, como TV, internet, redes sociais, falta de tempo e hábito para
ler, mostrando-se ser uma rede de entretenimento convincente, naturalizada como
a nova fonte de conhecimento, ou melhor, pseudoconhecimento. Não é exagero
apontar que a ausência da constância da leitura formativa pode resultar em alienação,
defasagem educacional estrutural, amoralidade, diminuição da qualidade da
linguagem oral e escrita, além de rigidez de visão de mundo como causa da
intolerância sociocultural.
De
acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, 2022),
que avalia estudantes entre 15 e 17 anos, 50% dos brasileiros têm resultados
nível 1 (um), em leitura, em uma escala de 1 a 5, revelando abstração
deficitária, impactando, inclusive, os resultados em Ciências e Matemática. Entende-se,
portanto, que o principal desafio do ensino de Matemática é a Língua Portuguesa,
devido ao entendimento da leitura do estudante se restringir a compreensão
literal e de períodos curtos.
Segundo
dados da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2019), 52% dos
brasileiros tem o hábito da leitura, tomando como critério ter lido ao menos um
livro nos últimos três meses; para fins comparativos, de acordo com a pesquisa,
o brasileiro lê 4 (quatro) livros por ano, enquanto o canadense lê 12 livros.
Outro dado alarmante apesentado pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil aponta
que as faixas etárias de 14 a 17 anos e 18 a 24 anos, reduziram o percentual de
leitores em 8% de 2015 para 2019, justificado pela concorrência de
entretenimento como vídeo, rádio e qualquer outro mecanismo de comunicação. Segundo
a mesma pesquisa, apenas 17% da população brasileira frequenta bibliotecas,
divididos em 51% por motivo de pesquisa escolar, e 33% para leitura por prazer.
Soma-se
a isso, o aumento do encerramento das operações de livrarias físicas nos
últimos anos, cujos dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL), mostra
que, em 2014, existiam 3.095 livrarias no país, e, em 2021, eram 2.200,
justificado pelo alto custo financeiro do serviço presencial, gestão
deficitária e mudança de hábito do público leitor, que, na atualidade, guia-se
fortemente pelo consumo de bens digitais vinculados ao e-comerce e
marketplaces, impactando negativamente o balanço financeiro de livrarias
físicas.
Se
por um lado o livro físico não é mais a única fonte de formação para
aprendizagem formal e informal, sobretudo no contexto de tecnologias digitais,
que tem impulsionado a produção de conteúdo literário e de formação geral, por
outro, compreendendo a sua legitimidade como instrumento formativo, cabe
refletir sobre a urgência da retomada da leitura sistêmica por prazer. Urge,
portanto, políticas públicas voltadas para o fomento da leitura nas escolas e
instituições similares, seja por meio de renovação dos acervos didáticos e
literários, seja pelo investimento em programas socioculturais; além de
reempoderar os mediadores de leitura – pais, professores e contadores de
história, como principais potencializadores do estímulo à leitura para as novas
gerações de estudantes, garantindo, assim, uma sociedade livre, esclarecida e
desenvolvida, pois, tal como disse o escritor argentino Alberto Manguel “nós
somos o que nós lemos e se lemos pouco, pouco somos”. Integrar o valor da
leitura é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, Filósofo e Pedagogo, Mestre e Doutor em
Educação, e Avaliador do MEC/Inep para cursos de
graduação.
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