Ítalo
do Couto Mantovani*
Você já parou pra pensar em quanto
custa a violência armada para o país? Foram
mais de 17 mil internações realizadas em 2022; homem, jovem e negro é o perfil
principal dos pacientes internados por esse tipo de agressão.
A violência consta entre
as principais causas de mortalidade e de anos de vida saudável perdidos da
população brasileira e a arma de fogo é o meio utilizado em mais de 70% dos
milhares de homicídios cometidos a cada ano no Brasil, ceifando as vidas de
milhares de brasileiros. O Instituto
Sou da Paz mostra que o Brasil gastou 41 milhões do orçamento do Sistema Único
de Saúde (SUS) com internações hospitalares de vítimas de armas de fogo em
2022. Foram 17,1 mil internações, que não retratam todos os gastos, uma vez que
não existem informações desagregadas que permitam identificar e estimar os
custos de outros tipos de assistência a essas vítimas. Homens, negros jovens
são maioria entre os vitimados. Em comparação com anos anteriores, há uma
tendência de queda dos custos, sobretudo a partir de 2018 – ano em que os
homicídios caíram abruptamente no país e que também marca o início da redução
das internações, à exceção de 2021, que tem um sobressalto. A redução nos
custos reflete também a diminuição de casos de alta gravidade, que custam mais,
e a defasagem dos preços de referência da tabela SUS para ressarcimento dos
serviços prestados.
Os homens representaram
89,6% das vítimas: ficam mais tempo internados, sua diária custa mais e sua
taxa de mortalidade hospitalar é maior, o que possivelmente reflete a gravidade
maior das lesões que os vitimam em comparação com as mulheres. Jovens são mais
vitimados, mas sua proporção entre os pacientes tem diminuído. Ainda assim,
respondem por mais da metade das internações ao longo da série até 2022. As
agressões prevalecem como principal causa dos ferimentos por arma de fogo em
todo o país, mas os acidentes sobressaem nas regiões Centro-Oeste e Sul, onde
responderam por cerca de um terço e um quarto das internações. Destaca-se o
crescimento da taxa de internações por ferimentos provocados por arma de fogo
na região Norte, considerando o cenário nacional de redução nos anos recentes.
Na contramão, a região Norte se destaca em movimento ascendente desde 2021.
Dimensionando os
custos da violência armada: custos de tratamento mais altos e mortalidade maior.
O valor médio de uma internação por agressão com arma de fogo em 2022
(R$ 2.391,00) é 59% maior do que o da agressão por outros
meios. O valor total das internações por agressão
armada em 2022 é cerca de 2 vezes maior que o de agressões
provocadas por força corporal e por arma branca. Os custos do tratamento de ferimentos por arma de fogo podem variar e
sobrecarregar os serviços de assistência hospitalar e ambulatorial. Nas
regiões Norte e Nordeste, os gastos com internações decorrentes de ferimentos
por arma de fogo representaram 3,2% dos gastos com internações hospitalares por
causas externas, proporção 1,5 vezes superior (+150%) do que a média nacional
em 2022. Por fim, olhar para as despesas com saúde per capita dá uma
dimensão mais clara dos custos da violência armada no país: uma internação por arma de fogo
custa 3,2 vezes mais do que o gasto federal com saúde per capita; uma
internação de alta gravidade por arma de fogo custa 5,2 vezes mais do
que o gasto federal com saúde per capita.
Nesse cenário, para além da
retomada de uma política responsável de controle de armas em curso, reitera a
necessidade de definir a obrigatoriedade do registro de todos os casos de
violência armada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan),
ampliar o escopo e registrar todos os casos de violência armada no Sinan,
violência que atinge majoritariamente homens jovens e adultos, sobretudo
negros, para que possamos identificar a real dimensão dos agravos à saúde
provocados por arma de fogo assim como seu impacto nos serviços desde a entrada
dos casos na rede de atendimento da saúde. Esse é um passo fundamental para que
se possa avançar na efetivação de políticas públicas de prevenção da violência
armada baseadas em diagnósticos bem aproximados das realidades locais.
v Diretor da Divisão de Estudos e Monitoramento da
Coordenadoria da Atividade
Delegada – Secretaria de Governo Municipal da Cidade
de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP
Mestre em Gestão e
Desenvolvimento Regional
Professor de
Cursinho pré-vestibular em São Paulo
Contato:
italocmantovani@gmail.com
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