Desde
os primórdios da humanidade o ser humano foi amplamente ativo, seja por
sobrevivência ou subsistência, revelando que o movimento corporal é intrínseco
ao ser humano. No Brasil de 1500, segundo o escrivão Pero Vaz de Caminha, em
carta à coroa portuguesa, a chegada dos portugueses em terras habitadas por
povos indígenas foi celebrada com dança ao som de gaita, saltos e giros do povo
indígena, sinalizando existir atividades físicas no local. Já no período do
Brasil Império as atividades físicas eram restritas ao campo militar, assumidas
como ginástica e treinamento.
A
Educação Física escolar com finalidade pedagógica surgiu no Brasil a partir da
reforma educacional de Rui Barbosa, em 1882, que apontou ser a educação a base
para a modernização industrial do país. Décadas a frente, reconhecida a importância
da Educação Física escolar como disciplina de elevada aceitação social, no
período de tomada do poder executivo, o regime militar brasileiro cooptou o
esporte nacional e Educação Física escolar, tornando-os esportivistas,
sobretudo a área do futebol, com foco no rendimento performático, na busca do
mais hábil e forte, como forma de transparecer uma imagem e clima de
prosperidade nacional, que, sob um olhar crítico atual, nunca ocorreu, haja
vista o baixo índice de desenvolvimento humano do país, que não garantiu
condições de vida dignas para a totalidade da população.
Em
1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Educação
Física passou a integrar a proposta pedagógica escolar, tornando-se componente
curricular da Educação Básica. Com a elaboração da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), a Educação Física se torna pertencente à área de Linguagens
no campo escolar, não nomeando, porém, área ou componente curricular na
Educação Infantil, embora sinalize aprendizagens motoras para crianças. Há,
portanto, aula regular de Educação Física no Ensino Fundamental e Médio da
Educação Básica, garantindo o conjunto de conhecimentos sobre os movimentos; e
na Educação Infantil, a atividade psicomotora ocorre de modo não regulamentado
por meio do pilar essencial: “Campos de Experiência” – item: corpo, gestos e
movimentos, cabendo ao professor criar seu plano de trabalho.
Na
atualidade, mesmo com amparo de robusta legislação educacional que aponta ser a
Educação Física uma disciplina integradora de valores humanos e princípios de
cidadania, percebe-se acentuada prática esportiva com foco em competições, em
áreas já conhecidas pelos estudantes, revelando a ausência da interdisciplinaridade
e transdisciplinaridade escolar, reforçando, por sua vez, a esportivização
historicamente planejada pelo regime militar, desta vez com finalidade
mercadológica, tornando o campo esportivo um instrumento de obtenção de receita
financeira. No entanto, o esporte e Educação Física escolar ainda são cooptados
pelo Estado-Nação como forma de homogeneizar a população com a sensação de
prosperidade, justificando o estímulo de competições escolares, em detrimento
de aulas com fundamentação teórica que permitam relacionar o conjunto de áreas
e componentes curriculares. Em defesa da Educação Física escolar com foco no
desenvolvimento integral do estudante, refletir é preciso, agir é urgente.
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”; Mestre e Doutor em Educação.
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