quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O FINANCIAMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA E O DESAFIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EFICIENTES



 

Ítalo do Couto Mantovani*

 

            Todos brasileiros deviam ter o conhecimento dos custos e a eficiência dos gastos com determinada política pública, em especial sobre as áreas de educação, saúde e segurança pública. Essa compreensão não se limita apenas ao entender, mas também conseguir avaliar o impacto da ação governamental, por meio do resultado que o investimento feito sobre essa política pública gerou aos cofres públicos, as instituições e principalmente a cidadão.

            A segurança pública, diferentemente da saúde e educação que promovem mudanças planejadas no seus gastos e controle de seu financiamento, tem avanços recentes e retraídos. Prova dessa timidez é a aprovação, apenas em 2018, do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), em que garante recursos permanentes oriundos das verbas das loterias geridas pela Caixa Econômica Federal, o que representou um avanço do para o volume de recursos destinados à área. Contudo, um dos instrumentos aprovados pelo Congresso Nacional, as transferências obrigatórias fundo a fundo para financiamento da política de segurança pública e defesa social, foi vetada pelo presidente da República, e permanece a ausência de regulamentação em torno do que é despesa em segurança pública ou uma regra geral de vinculação de receitas. Outro fator importante é sobre o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social instituído em 2018 e revogado em 2019, sendo substituído apenas em 2021, isto é, três anos de “vazio” para à implementação de um mecanismo de auxílio, controle e planejamento para Segurança Pública.

            Pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que construiu uma análise sobre as receitas das Unidades Federativas nos últimos anos, nos mostra algumas particularidades para entendermos os desafios do financiamento da Segurança Pública. Isso porque são os estados e o Distrito Federal os entes com maior participação no financiamento dessa área: esse nível federativo, por definição constitucional, é responsável pela administração e manutenção das polícias civil e militar, alocando 80,9% do total das despesas da área que em 2020 representaram 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Esse volume de recursos é bastante representativo quando o comparamos com outras áreas como a saúde, cujo gasto público representa cerca de 3% do PIB. Por outro lado, o governo do estado de São Paulo encaminhou, no dia 30 de setembro, para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a proposta orçamentária para o ano de 2023, aproximadamente R$ 317 bilhões, dos quais 8,5%, ou seja, 27 milhões de reais estão destinados à Segurança Pública e um aumento de quase 16% em relação ao orçamento previsto de 2022 (24,3 bilhões de reais).

            Na série histórica do orçamento do estado de São Paulo e segurança pública, desde 2000, podem-se destacar dois pontos: primeiro, que a porcentagem da segurança pública sobre o total do orçamento tem uma média de 9% desde 2000; e segundo, que em 24 anos de análise do orçamento, apenas o ano de 2021 o estado propôs um orçamento menor em relação ao ano anterior (-10,5%), para a Segurança Pública. Vale ressaltar que os estados têm grande dependência de impostos indiretos, em especial o ICMS, São Paulo dependia em aproximadamente 66% desse imposto no ano de 2020, já o Rio de Janeiro 42%.  E mesmo assim, há um empenho médio anual de 9% da sua receita para Segurança Pública.

            A questão orçamentária da segurança pública é de suma importância para o entendimento de diversos fatores, tais como: prevenção de crimes contra a vida e patrimoniais e seu uso lógico para enfrentamento das dificuldades existentes na Pasta. Com essa análise, o gestor entende os obstáculos e consegue elaborar políticas públicas adequadas para aprimoramento e controle da área. De modo geral, nossos políticos e principalmente os cidadãos precisam entender que o “cobertor é curto”, cada vez mais precisamos de especialistas em políticas públicas e técnicos na área de segurança para que o dinheiro empenhado seja gasto com responsabilidade e com a certeza que a criminalidade irá diminuir. Não há como investir milhões em câmeras de segurança, em viaturas elétricas e até mesmo em armamento de última geração se o policial não está valorizado.

            Em suma não há sentido demonstrar que a segurança pública é uma função política prioritária nos estados brasileiros, com um gasto que supera 80 bilhões de reais os estados financiam 80% do total gasto em segurança no Brasil, se o planejamento não ocorre ou ocorre de forma equivocada e acaba tendo um “gasto” desnecessário em políticas públicas que não são essenciais para a população.

 

v    Assessor de Coordenador na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

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