quinta-feira, 17 de setembro de 2020

EVIDÊNCIAS E GESTÃO CIENTÍFICA

 


Ítalo Mantovani*

O Atlas da Violência 2020, documento que traça o perfil das mortes ligadas a crime no Brasil, foi divulgado no final de agosto. Um levantamento detalhado e apurado que mostra o número de assassinatos ocorridos entre 2008 e 2018, dentre vários quesitos, tais como: violência doméstica, homicídios por faixa etária, cor/raça, sexo e escolaridade. Essa pesquisa foi realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O Atlas apontou que o risco de ser vítima de homicídio no Brasil é 74% maior para homens negros e 64% maior para mulheres negras do que para os demais. Entre 2008 e 2018, o número de homicídios de pessoas negras no Brasil cresceu 11,5%, já o de pessoas não negras caiu 12,9%. Ainda no período de 2008 e 2018, 628 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. Desse total, 91,8% das vítimas eram homens. Com esses dados, pode-se comprovar que as maiores taxas de homicídio estão nos estados de: Roraima (71,8%), Ceará (54%), Pará (53,2%), Rio Grande do Norte (52,5%), Amapá (51,4%) e Sergipe (49,7%). Já os estados com menores taxas estão: Mato Grosso do Sul (20,8%), Piauí (19%), Distrito Federal (17,8%), Mina Gerais (16%), Santa Catarina (11,9%) e São Paulo (8,2%).

O estudo mostrou ainda que o número de homicídios em geral (homens e mulheres) caiu em 2018 no país, quando foram registrados 57.956 casos, o que corresponde a uma taxa de 27,8 mortes por 100 mil habitantes. O que faz o Brasil ter o menor nível de assassinatos em quatro anos e queda de 12% em relação ao ano de 2017. A diminuição aconteceu em todas as regiões do país, em 24 estados, com maior intensidade no Nordeste.

            Um perfil das mais de 628 mil vítimas (entre 2008 a 2018) foram traçados pelo Atlas.  Essa representação fica com 91,8% das vítimas sendo homens; com 74,3% tendo escolaridade de até sete anos de estudo e em 77,1% dos homicídios, essas vítimas do sexo masculino, foram mortas por armas de fogo. As mulheres representam 8%, com escolaridade de até sete anos de estudos na casa dos 66,2% e 53% mortas com armas de fogo. Outro ponto relevante do estudo é sobre a juventude. Em 2018 53,3% das vítimas de homicídios, isto é, 30.873 eram jovens (com idade entre 15 a 29 anos). Nesse levantamento, o Atlas acredita que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) desde sua implementação, 1991, ajudou na redução da violência contra os jovens. Prova disso é, que de 1980 a 1991 a violência contra jovens de 0 a 19 anos representava 7,8%, depois do ECA, 1991-2018, essa porcentagem cai para 3,1%.

            Analisando especificamente nosso estado e nossa região, pelos dados disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, podemos chegar a seguinte conclusão: o estado de São Paulo é dividido em 12 regionais, sendo dez regiões no interior, uma na Região Metropolitana e uma região que ocupa toda á área da capital do estado (a cidade de São Paulo). Cada área com suas características econômicas, sociais, culturais e demográficas. O Estado como um todo apresentou em 2019 uma taxa de vítimas de homicídios dolosos de 6,31 homicídios por 100 mil habitantes. 

            A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN) com 39 municípios se encontra na Região 1, da Secretaria da Segurança Pública, também conhecida como Região de São José dos Campos.  Região que concentrou aproximadamente 11% de todos os homicídios ocorridos no estado. E, analisando todas as áreas do estado, a Região com maior número de homicídios é a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), com uma taxa de 12,12 homicídios por 100 mil habitantes. Maior que a do próprio estado e até mesmo da capital paulista que está em 5,26 homicídios por 100 mil habitantes.

Nas últimas décadas, houve um acúmulo substancial de experimentos de políticas de segurança pública, no plano internacional, que lograram êxito na diminuição dos índices criminais em vários países e cidades, como Nova Iorque, Bogotá e até Medellín, na Colômbia. E, a partir dos anos 2000, alguns estados e municípios brasileiros passaram a assimilar a experiência estrangeira e introduzir políticas e ações inovadoras, como o Infocrim (2000) e o Programa São Paulo Contra o Crime (2014), em São Paulo; o Pacto pela Vida (2007), em Pernambuco; as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) (2008), no Rio de Janeiro.

Experiências nacionais que serviram para mostrar mudanças no modelo de gestão da segurança pública, com planejamento e orientação por resultados, qualificação do trabalho policial e ações preventivas no campo social, geram resultados. O que tem como consequência e podem explicar parcela do movimento de diminuição dos homicídios em pelo menos alguns estados brasileiros.

 Para o futuro, resta saber se a sociedade e os governos apostarão nesse caminho das políticas efetivas baseadas em evidências e na gestão científica, ou se colocarão as fichas na retórica vazia do populismo penal, do encarceramento em massa e da brutalidade policial, que nunca funcionaram, mas dão votos.

 

 

 

 

v    Assessor de Coordenador  na Secretaria da Segurança Pública do Estado de SP

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário