Ítalo Mantovani*
Ultimamente, tem
se falado muito em enfermeiros, médicos, nos auxiliares de enfermagem.
Profissionais da saúde que estão na linha de frente ao combate do coronavírus,
são muito importantes, mas nossos policiais também estão à frente dessa
pandemia. Em alguns estados lidando com lockdown,
em outros estados com regras menos rígidas, mas cumprindo o dever de servir e
proteger todos os cidadãos.
O Fórum Brasileiro
de Segurança Pública e a Faculdade Getúlio Vargas realizaram um uma pesquisa
intitulada: “Covid-19 e os Policiais Brasileiros”. Um questionário aplicado de
maneira online, para 1.540 profissionais da área da segurança pública (Polícia
Militar, Polícia Civil, Policia Federal e Guardas Municipais) de todo o
território brasileiro, entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020. A
pesquisa conseguiu fazer a separação entre o Estado de São Paulo (epicentro da
epidemia) e os demais estados da federação.
O resultado
mostra que o medo é um sentimento comum para todos os policiais que atuam na
linha frente, uma vez que menos predominante nos profissionais da segurança
pública do Estado de São Paulo em comparação com as outras unidades
federativas. Segundo os dados obtidos, 59,7% dos policiais civis e militares do
Estado de São Paulo sentem medo de contrair ou ter algum familiar contaminado
pelo coronavírus, um percentual menor do que entre os policiais de outros
estados que chega aproximadamente a 70%. Para alguns pesquisadores a policia de
São Paulo apresenta esse percentual menor, devido a uma organização mais
estruturada e um preparo melhor que outros estados e também, o vírus está há
mais tempo no Estado de São Paulo que em outros estados. Percepção que reflete
nos resultados sobre a sensação de segurança em lidar com a pandemia, enquanto
em são Paulo 40% dos policiais se sentem seguros, o restante do país chega a
30%.
A Secretaria da
Segurança Pública do Estado de São Paulo vem trabalhando incansavelmente para
que esse resultado melhore e os policias se sintam mais seguros. De acordo com
a própria pesquisa, 46% dos policiais do Estado de São Paulo relatam ter
recebido materiais de proteção individual e coletiva adequados para trabalhar
na pandemia, contra 32% no resto do país. Além de que, 34% dos policiais
paulistas adquiriram algum treinamento contra o coronavírus. Por outro lado, apenas
15,4% dos policiais, de outros estados, afirmam ter recebido algum tipo de
treinamento.
Apesar de
sentirem menos medo, terem recebido treinamento e materiais adequados, a
vulnerabilidade dos nossos policiais na exposição ao vírus é alta. Pela
pesquisa, 55% dos policiais de São Paulo relatam que conhecem algum familiar ou
colega que se contaminou com o vírus. Nos outros estados a porcentagem é de
40,8%. Um levantamento rápido no portal da Secretaria da Segurança Pública do
Estado de São Paulo mostra que no primeiro trimestre de 2019 5 policiais (2
policiais civis e 3 policiais militares) foram mortos em serviço ou dia de folga.
Pelo Covid-19, já há registrado 11
mortes de policiais (5 civis e 6 militares) apenas no Estado de São Paulo, no
Brasil o montante chega a 69. Uma pesquisa recente da Ponte (jornalismo
independente) questionou os dez estados (São Paulo, Amazonas, Pará, Rio de
Janeiro, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Bahia, Paraná e Minas Gerais) com mais
casos da Covid-19 na população e expôs que quase 5 mil policiais estão
afastados em São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas e Pernambuco; os outros 6
estados se recusaram a apresentar números. São Paulo relata que aproximadamente
0,7% de sua tropa esta afastada preventivamente por causa da Covid-19,
correspondem a cerca de 810 agentes.
Não tem como ser
diferente. Os policiais estão 24 horas no trabalho, parte deles realizam abordagens.
É contato físico, “não tem como fugir”. Agora, se não usam máscaras, não usam
álcool em gel, não adotam medidas de cautela entre eles, pois não há
treinamento nem distribuição do material de proteção para atuar na pandemia, a
segurança fica doente e o problema é maior para toda sociedade. A pergunta que devemos
fazer não é quanto tudo isso vai acabar, mas: o que acarreta um policial ter
coronavírus, meio a uma crise que se instaura? Lutar contra esse vírus pode se
tornar uma provação assustadora. O isolamento, a solidão de um lado, do outro a
família, apreensiva, aflita e esperançosa com o retorno. Todo policial é filho,
pai, mãe, irmão, tio, avô e amigo. Tem uma história para contar, um plano para
viver. Que buscam sentidos muitas vezes em sua profissão. Essa é a vida. O
isolamento poupa vidas, e ajuda a segurança. Nossos policiais têm família,
precisam voltar para casa sãos e salvos. Pense no próximo, pense em todos,
pense na policia. Ela está nas ruas para servir e proteger para ficarmos bem em
nossas casas.
v Assessor de Gabinete na Secretaria da Segurança
Pública do Estado de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Desenvolvimento Regional
Professor de Cursinho
pré-vestibular em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
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