Neste período, os
estudantes aprendem os conteúdos curriculares, como Português e Matemática, mas
partindo da educação integral e as novas metodologias de ensino-aprendizagem, o
fazem por meio de projetos, trabalhos em grupos, das linguagens das infâncias e
do território local.
Mas nem sempre foi assim.
Antes, as aulas eram separadas em turnos: com a grade curricular pela manhã, e
oficinas, aulas de hip hop, violino, xadrez e práticas de esportes opcionais à
tarde. Esse formato segue dessa maneira para os alunos do Fundamental II, mas
já há planos de transformá-lo também.
“Os alunos falavam que
tinham as aulas chatas pela manhã e as aulas legais à tarde. Mas, agora estamos
conseguindo mesclar os conteúdos e formatos de todas as aulas. As famílias estão
adorando, as crianças estão gostando de ficar na escola, e aprendendo com mais
facilidade”, conta o diretor da escola, Pedro Nunes da Silva.
Parte desta conquista se
deve a contratação de professores com dedicação exclusiva, e que portanto
conseguem desenvolver um trabalho mais completo e conectando diferentes
disciplinas.
“Nossos professores têm,
em horário de trabalho, momentos designados para planejar suas aulas, dialogar
com outros profissionais da escola e um momento de estudos”, diz Cássia Dias,
coordenadora pedagógica da escola.
A mudança é fruto da
revisão curricular pela qual Tremembé passa. Desde 2018, no ensejo da aprovação
da Base Nacional Comum Curricular, a Secretaria Municipal de Educação decidiu
implementar a educação integral em suas 17 escolas.
Trabalhando em parceria
com o Centro de Referências em Educação Integral, gestores, coordenadores e
professores têm passado por formações e reestruturado os currículos da rede e
das escolas.
“Estamos em momento de
transição a partir da BNCC. Ainda trabalhamos coisas da diretriz antiga, mas o
plano trimestral das professoras já traz temas geradores, componentes
curriculares articulados de maneira interdisciplinar, e fazemos planejamento
reverso”, explica a coordenadora pedagógica.
Como funciona a escola
José Inocêncio
A 130 km da capital
paulista, Tremembé fica na região metropolitana do Vale do Paraíba, e é
habitada por 45 mil pessoas. Parte delas está lá temporariamente, acompanhando
algum familiar preso em uma das sete penitenciárias da região. Por isso, diz-se
que é uma cidade transitória – realidade que a escola não ignora.
“Nós temos o Projeto de
Vida, em que trabalhamos a autoestima dos alunos, e mostramos que existem
outras coisas aqui para além dos presídios. Assim, saímos pela nossa cidade e
as do entorno, para ampliar os horizontes”, explica Pedro.
Outro assunto abordado na
escola é a rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, que corta Tremembé e leva a
Campos do Jordão. Muito movimentada nos meses mais frios, e portanto mais
perigosa, a rodovia foi escolhida como
tema gerador de estudos para este ano.
De maneira
interdisciplinar e envolvendo também outros atores da comunidade, como agentes
de trânsito, os professores trabalham temas relacionados – acidentes, notícias
e até lendas que rondam a rodovia.
A maneira de organizar as
salas também começou a ser alterada. A coordenadora pedagógica explica que, de
acordo com a aula, os professores formam rodas, duplas, grandes grupos, ou
levam as crianças para fora da escola.
“Estamos começando a desconstruir
o modelo de deixar um aluno atrás do outro, para que nenhuma criança fique
invisível, e porque queremos quebrar com o costume de um professor que sabe
tudo na frente falando e o aluno escutando. Já percebemos que alterar esse
formato promove mais diálogos igualitários e aprendizagem entre pares”, diz
Cássia.
Promover todas essas
mudanças não é possível sem uma gestão democrática. É preciso que professores
confiem nos gestores para inovar, que as famílias apoiem esse processo, e que
se construa uma escola em conjunto.
“Começamos a trazer a
comunidade para participar da escola, com muito trabalho e conversa. Deixamos a
porta da direção sempre aberta para alunos e familiares conversarem com a gente
sempre que quiserem”, afirma Pedro Nunes.
Para Cássia, o principal
benefício da escola de educação integral e jornada estendida é promover a
formação integral do aluno. “Quando trabalha de uma maneira integral, você
consegue enxergar seu aluno todo, e não mais de forma fragmentada”.
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