Walter Vicioni Gonçalves
Diretor Estadual do SENAI e Superintendente Estadual
do SESI do Estado de São Paulo, licenciado até 07/10/2018.
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“Choca me ver o desbarato dos recursos
públicos para educação, dispensados em subvenções de toda natureza a atividades
educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas ou francamente
eleitoreiras”.
Anísio Teixeira, educador e escritor, em
15/04/1958.
Muito tem se dito sobre a
necessidade da indústria brasileira incorporar novas tecnologias em seus
processos de produção, para aumentar sua capacidade de competir numa economia
globalizada. Pata tal incorporação, a formação de profissionais com novos
perfis é fundamental, mas encontra vários problemas que precisam ser
urgentemente superados.
Os obstáculos começam em âmbito
governamental. Não há diretrizes claras sobre as áreas que devem ser
consideradas prioritárias para a formação profissional. Assim, é urgente uma
solução de convergência das politicas educacional, industrial e tecnológica,
para orientação e para incentivos dos cursos nas áreas consideradas
estratégicas para o país. Precisamos ter um Plano de Nação, um projeto para o
nosso futuro.
Ainda, em âmbito do governo,
outro grande obstáculo é a existência do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos
do Ministério da Educação, que limita a oferta dos cursos técnicos, determinando
para cada um deles denominação, carga horária mínima e perfil profissional de
conclusão.
Para atualização da relação de
cursos, o Ministério da Educação recebe propostas periodicamente. Cada proposta
é submetida à apreciação do Comitê Nacional de Políticas de Educação
profissional e Tecnológica (CONPEP) e encaminhada ao Conselho Nacional de
Educação (CNE), para emissão de parecer, a ser homologado pelo ministro da
Educação e, posteriormente, publicado na forma de resolução.
A única abertura dada às Escolas
para agilizar o processo é a oferta de curso técnico experimental. Porém, essa
solução é temporária, porque o curso só poderá ter continuidade se for
reconhecido pelo órgão normativo do sistema de ensino em três anos e incluído
no Catalogo Nacional dos Cursos Técnicos no prazo de cinco anos.
Desta forma, o MEC impõe uma
burocracia inimaginável numa realidade dinâmica e que exige rápida revisão e
atualização dos cursos e respectivos currículos. Ao invés de facilitar a
adequação da oferta de cursos técnicos, as normas vigentes criam barreiras ou
protelam iniciativas fundamentais para que as empresas tenham profissionais com
perfil adequado.
E quais são esses profissionais
que terão maiores oportunidades de emprego nas empresas com as novas tecnologias?
Nossa experiência de
acompanhamento dos movimentos de mercado de trabalho confirma a tendência
apontada por estudo do Federal Reserve Bank of St. Louis, que estima
crescimento dos empregos nas categorias de trabalhos manual e cognitivo não
rotineiros.
Assim, estão em alta ocupações já
existentes como encanador e confeiteiro, que trabalham com destreza e
criatividade aliadas a competências técnicas, que podem variar de uma para
outra tarefa. Também estão em alta novas ocupações, como especialista em inteligência
artificial, criadores de games com aplicações industriais, entre outras.
No outro extremo, com tendência
de declínio de empregos, estão os trabalhos manuais e cognitivos rotineiros. Quanto mais repetitivos e padronizados, mais
fácil sua substituição por processos automatizados.
E, então, chegamos ao obstáculo
mais sério. A formação profissional só cumprirá sua missão de preparar esses
profissionais, que terão mais oportunidades de emprego, se for alicerçada numa
sólida Educação Básica.
Durante essa Educação Básica, os
alunos devem ter oportunidades de compreender, contextualizar, pesquisar e
aplicar conhecimentos e conceitos; descobrir a beleza inerente a cada criação e
a cada processo de produção; buscar sempre atualização e novas aprendizagens;
ser critico e questionador em uma realidade dinâmica e em permanente
transformação.
Ainda na Educação Básica, é
preciso considerar competências interpessoais (trabalhar em equipe, desenvolver
o senso de cooperação, respeito e valorização das diferenças etc.) e
intrapessoais (como desenvolver a capacidade de lidar com emoções e ter
autocritica).
É importante investir – como já
fizemos, com êxito – na expansão dessa proposta educacional, voltada para uma
nova sociedade e para um novo mundo do trabalho. Chega de gastos em programas
pontuais e parciais, descolados da realidade. Chega de constatar perda de
recursos, em consequência dos mesmos problemas levantados por Anísio Teixeira
há exatos 60 anos. Um mundo em mudança exige uma nova educação.
Walter Vicioni Gonçalves
Diretor Estadual do SENAI e Superintendente Estadual do SESI do Estado
de São Paulo, licenciado até 07/10/2018.
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