Fonte folha de São Paulo /23/12/2013
A base de sustentação do governador
Geraldo Alckmin (PSDB) na Assembleia Legislativa de São Paulo conseguiu blindar
o Palácio dos Bandeirantes contra investigações sobre o cartel que atuou em
licitações do Metrô e da CPTM durante sua administração e em outros governos
tucanos.
Sem número suficiente de deputados para
instalar uma CPI, a oposição tentou convocar autoridades, empresários e
consultores envolvidos com o cartel a prestar depoimentos em duas comissões.
Desde agosto, foram apresentados 38
requerimentos para que fossem chamadas 26 pessoas. Dessas, só três foram
ouvidas pelos deputados.
Cade afirma que pode abrir novos processos sobre cartel
Exigindo a CPI do cartel dos trens paulistas, PSOL lava a
calçada da sede do metrô
As comissões em que os pedidos foram
feitos –de Transportes e Infraestrutura, ambas com maioria governista– adiaram
a análise de vários pedidos indefinidamente, rejeitaram outros e ainda
transformaram convocações em convites, o que desobriga o convidado de
comparecer.
"Eles estão obstruindo justamente
para dificultar o processo investigativo", disse o líder dos petistas na
Assembleia, Luiz Cláudio Marcolino.
Os deputados governistas dizem que não
houve blindagem e que as três pessoas ouvidas eram as mais relevantes: o
secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e os atuais
presidentes do Metrô, Luiz Antonio Pacheco, e da CPTM, Mário Manuel Bandeira.
"As pessoas mais importantes foram
chamadas, e todos os deputados puderam tirar suas dúvidas. Foi tão transparente
que nenhum questionou qualquer resposta dada por eles", disse João Caramez
(PSDB), presidente da Comissão de Transportes.
O requerimento que levou Fernandes à
Assembleia foi uma concessão da base de Alckmin para enfraquecer o discurso do
PT, que usava o argumento de que as comissões não investigavam o caso para
tentar criar uma CPI.
Para adiar a análise dos requerimentos,
os aliados do governador se valem de uma norma do regimento da Assembleia que
permite que cada deputado peça vistas do pedido uma vez, adiando a votação por
uma semana.
A oposição usa a mesma tática para
adiar votações e evitar que pedidos sejam derrubados nos dias em que há maioria
governista presente na reunião da comissão.
Entre as pessoas que deixaram de depor
está Pedro Benvenuto, ex-assessor da Secretaria de Transportes Metropolitanos
acusado de repassar informações do Metrô e da CPTM a um consultor.
Sua convocação foi transformada em
convite a pedido de um deputado do PPS e aprovada, mas ele não compareceu no
dia marcado.
Os presidentes do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), Vinicius Carvalho, e da Siemens, Paulo
Stark, e o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) também ignoraram convites das
comissões e não compareceram.
Estão pendentes na pauta da Comissão de
Transportes pedidos para ouvir os executivos da Siemens que denunciaram o
cartel ao Cade, entre eles Everton Rheinheimer, que disse à Polícia Federal que
políticos do PSDB receberam propina do esquema.
A comissão derrubou ainda requerimentos
para ouvir João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM que recebeu US$ 836 mil
numa conta na Suíça, e José Fagali Neto, consultor que recebeu informações de
Pedro Benvenuto.
Para os governistas, os pedidos feitos
pela oposição são "eleitoreiros" e "não passam de
politicagem". "Se deixar por conta deles, todo dia tem dois ou três
servidores pra ser ouvidos", disse Dilador Borges (PSDB), da Comissão de
Infraestrutura. "Não nos podemos dar o luxo de ficar ouvindo as pessoas
por ouvir."
A oposição também tentou evitar
constrangimentos. Quando o tucano Caramez pediu que o presidente do Cade fosse
chamado para explicar suas ligações com o PT, foi a vez de o deputado petista
Gerson Bittencourt pedir o adiamento do requerimento.
Exigindo a CPI do cartel dos trens paulistas, PSOL lava a calçada da sede do metrô
Editoria de Arte / Folhapress
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