segunda-feira, 8 de julho de 2019

AS ESTATÍSTICAS E SUA INTERPRETAÇÃO PARA A SEGURANÇA PÚBLICA


Italo Mantovani
  Analisando os sites de segurança pública dos 26 Estados Brasileiros, do Distrito Federal e o do Ministério da Justiça e Segurança Pública (que representa a junção dos dados do Brasil inteiro), fica claro que o os sites em sua grande maioria, não seguem o princípio de dados abertos, como de governo aberto. Apresentam delegacia online, ou seja, a população pode relatar o crime por meio do boletim eletrônico. Todavia, não é considerado um item de participação, mas sim de facilidade tanto para as delegacias quando para população.


Avaliando site por site, o cenário ganha uma dimensão meio obscura, para se ter uma ideia, o site de segurança pública do Estado do Amapá, na Região Norte, faz com que o usuário que queira saber sobre os dados criminais seja remanejado a outro site e assim, precisa de um cadastro, indo totalmente ao oposto de dados abertos, no quesito de ser acessível para todos que queiram sabe. A Região Nordeste, tem como destaque negativo os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, este que apresenta uma das maiores taxas de homicídios, 53,4 por 100 mil habitantes. Ambos os estados não apresentam um site de segurança pública. As Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, divulgam os dados, alguns sites de maneira mais branda, como o Estado do Mato Grosso do Sul, que só apresenta os números de 2017, Espirito Santo em que a forma é confusa, não sendo nada acessível e o Estado do Rio de Janeiro que direciona o cidadão para o Instituto de Segurança Pública, órgão que faz uma análise dos dados e já os transformam em informações trabalhadas.
            Com toda essa análise, percebe-se que o país ainda apresenta falhas em divulgar dados e muitas vezes, esses dados, são primordiais para a segurança de cada indivíduo. Esquece-se que as estatísticas são ferramentas utilizadas em todos os países para retratar a situação de segurança de determinada área. O Estado de São Paulo vem caminhando no sentido inverso das outras regiões brasileiras e até mesmo do site de segurança pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Pela lei estadual de número 9.155/95 a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo é responsável por adotar uma política de transparência na divulgação de seus dados estatísticos, e assim dentro do princípio da transparência o estado disponibiliza, em sua página online, dados criminais desde o ano de 2001 por municípios, mês a mês. Entrando agora no portal, veremos os dados oficiais da segurança pública até o mês de maio de 2019. Ressaltando que a Secretaria de Segurança Pública apresenta os dados da forma bruta, deixando aos interessados a análise mais específicas dos fenômenos retratados.
            Os dados criminais estão sujeitos a uma série de limites de validade e confiabilidade, pois eles são um retrato do processo social de notificação, isto é, para que haja um dado criminal, ocorreram três etapas antes, que são: o crime foi detectado, notificado as autoridades e por último, registrado um boletim de ocorrência. Portando, por esta e outras razões nem sempre o aumento ou queda podem ser interpretados de forma clara de piora ou melhora na situação da segurança pública. Voltemos nossa análise para a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte (RMVPLN), o município de Bananal, por exemplo, teve uma redução em estupro de 100% em relação janeiro a maio de 2019 comparando com o mesmo período de 2018. Redução de 100% parece ser um grande fato, contudo em 2018 de janeiro a maio Bananal registrou 1 caso de estupro e em 2019 nenhum, percebe-se que a base para transformação em porcentagem é muito pequena, o que eleva o resultado, temos que tomar cuidado, mostrando muitas vezes o sensacionalismo em divulgar informações, tanto para o bem quanto para o mal, de um político, de uma sociedade e até mesmo de uma instituição. Outro ponto frequente encontrado por exemplo, é de que Pindamonhangaba registrou 49 casos de roubos em março de 2019, contra apenas 40 em março de 2018. Ou seja, com o passar dos meses Pinda está ficando violenta? Não, isso se chama sazonalidade, em 2018 o carnaval foi em fevereiro, o que fez o indicador de roubos registrar 52 casos, em 2019 em março, mostrando 49.  A sazonalidade implica em mudanças das atividades, favorecendo ou inibindo as ocorrências. Por fim, um exemplo que sempre está na mídia, são José dos Campos tem registrado em 2018 43 homicídios, o maior número de toda a RMVPLN. Sim, o maior em números absolutos, mas São José dos Campos, concentra 25% de toda a população da Região. O certo é usar a taxa por 100 mil habitantes, em que se pode comparar indicadores de diferentes áreas, com diferentes tamanhos de população e assim neutralizar a discrepância. Se usarmos a taxa de 100 mil habitantes. São José dos Campos tem uma taxa de 6,8 por 100 mil habitantes, em comparação com Potim, em números absolutos o município apresentou 12 vítimas de homicídios, com apenas 19.397 munícipes, sua taxa por 100 mil habitantes se torna a mais alta da RMVPLN em 2018, chegando a 61,87 homicídios para cada 100 mil habitantes.
            Em suma quero deixar claro que a interpretação dos dados estatísticos vai de cada um, se há ou não sensacionalismo depende, mas há inúmeras interpretações imprecisas dos dados de criminalidade, não só os citados, mas a também a mudança em determinado mês por operações policiais, exemplo de atividades de São Paulo Mais Seguro, populações flutuantes e pendular, como o caso de Caçapava, até mesmo correções de dados, por boletins complementares. Portando, todos compartilham a responsabilidade de redução do crime, não apenas a polícia. Escolas e serviços públicos, têm um papel a cumprir na tentativa de reduzir os níveis de criminalidade, mas de maneira precisa com interpretações corretas de dados, não apenas querendo ganhar manchete de jornal ou votos nas eleições.

                    

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