segunda-feira, 18 de março de 2019

BALANÇO DOS DIAS DAS MULHERES

Ítalo Mantovani ¹



Vivemos em um país totalmente patriarcal, racista e colonial, cuja política é predominantemente formada e dominada por homens. O Senso comum vive a dizer que as mulheres sempre tiveram uma participação pequena ou quase nenhuma. Nossa história prova ao contrário. Dividindo a história do Brasil em cinco blocos, podemos citar pelo menos cinco mulheres que lutaram pelo seu território em busca de um bem maior.
No primeiro bloco, o da Colônia (1500-1822), temos Dandará mulher de Zumbi dos Palmares, que lutou ao lado do marido, buscando igualdade perante a escravidão e das mulheres nessa luta. No Brasil Monárquico (1822-1889) podemos falar de Nísia Floresta, pioneira a defender a independência da mulher, até publicando um livro em 1832, com o título Direito das Mulheres e Injustiças dos Homens. Na República Velha (1889-1930), o nome que muitas vezes nem em rodapé de livro aparece é da estudante Diva Nazário, aluna da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1922, lutou pelo direito das mulheres a votar no diretório acadêmico XI de Agosto. Na famosa República Populista (1930-1964), nomes como da Rachel de Queiroz que escreveu centenas de obras denunciando o coronelismo, a seca e a política corrupta do Nordeste entram em pauta, mas há também Carlota Queirós, a primeira mulher eleita deputada federal do Brasil em 1934. O Governo Militar (1964-1985) aparece alguns nomes como Ana Rosa Kucinski, uma professora da USP e militante da Aliança Libertadora Nacional, que foi torturada, esquartejada e queimada que até hoje não encontraram seus restos mortais. Por fim, no último bloco, o da Redemocratização (1985- atualmente) temos nomes como Cláudia Silva, arrastada pela viatura da polícia no Rio de Janeiro, também encontramos o nome da vereadora do mesmo estado morta em 2018 pela milícia, A Marielle Franco ou até mesmo Djamila Ribeiro, que luta pelos diretos do feminismo, principalmente o negro e dos problemas que a escravidão trouxe para nossa cultura.
Todo esse contexto histórico é para mostrar que a política convencional, em que uma parte dos homens beneficiam-se diretamente do sistema, pode estar com os dias contados. Apesar de avanços históricos atrelados com mudanças de comportamentos, setores conservadores tentam frear a sociedade. No Brasil, temos ainda vários empecilhos nos direitos básicos da mulher como aborto legal em caso de estupro ou até mesmo recursos de vagas para candidaturas eleitorais. O ponto que temos que entender é que centenas de mulheres estão perdendo a vida pela violência, pela falta de segurança pública, devido à ineficiência dos homens em fazer política. Pelo Atlas da Violência, em 2016 o país teve 4.645 mulheres assassinadas, com um aumento de aproximadamente 15% comparado com 2006. Seriam em termos estatísticos 13 mulheres mortas por dia. Ou uma a cada duas horas. Essa taxa só piora segundo raça/cor. Em dez anos de estudos, o Atlas mostra que a taxa de homicídios por 100 mil mulheres negras aumentou em 15,4% enquanto as não negras decaiu 8%.  Os Estados mais violentos com as mulheres, que chama atenção pelos dados disponíveis é o de Roraima com uma taxa de 10 homicídios por 100 mil mulheres, em seguida o Pará com 7,2 e Goiás com 7,1. Os menos violentos: São Paulo com uma taxa de 2,2 por 100 mil habitantes, Piauí com 3,0 e Santa Catarina com 3,1. Grande destaque para São Paulo que apresentou uma queda de 40% em 10 anos. Ainda outro fator que chama atenção é os estupros, só em 2016 no Brasil foram registrados, por meio dos Boletins de Ocorrência 49.497 casos. Isto é, 136 casos por dia ou 5 casos por hora.
O Estado de São Paulo que apresenta os melhores indicadores para a violência contra mulher, sempre em queda, teve só no ano de 2018 611 casos de estupros consumados, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública. No interior esse número chega a representar 54% do total. De acordo com o próprio Governo do Estado de São Paulo, a estrutura da Segurança Pública é fortalecida anos após anos, com investimentos e iniciativas diversas. Partindo desde a contratação de mais policiais, até implantação de tecnológicas de monitoramento eletrônico com realocação de efetivo para áreas de maior concentração de crimes.
 Mesmo com tudo isso, o Estado de São Paulo escorrega nas políticas públicas de segurança voltadas às mulheres. Analisando a Lei orçamentária do Estado de São Paulo de 2018, percebe-se que não há um programa dentro da área de segurança, que pensa nas mulheres. Lógico que a segurança pública segue o princípio do artigo quinto da Constituição Federal, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”, mas em um país que o feminicídio vem aumentando ano após ano, o número de ameaças têm tido crescimento todo mês, só em dezembro de 2018 foram 2.953 boletins no interior do Estado, dos 4.311 registrados em São Paulo. Essa falta de planejamento em políticas públicas retornada para mulher só agrava não apenas a crise na segurança, mas também na saúde e educação. Precisamos de que as mulheres, de todo Brasil, se unam para que conquistem realmente o destaque que merecem nas políticas públicas tanto de educação, saúde como a de segurança pública. Sem esquecer-se de fazer o boletim de ocorrência, para que a nossa policia possa tem um planejamento mais adequado para esses tipos de violências envolvendo a mulher.

1:  Formado em Gestão de Políticas Públicas Pela USP
Mestrando em Gestão e Desenvolvimento Regional           
Professor do Cursinho Popular em São Paulo
Contatos: italo.mantovani@usp.br






Um comentário: